Viva a Diferença: Cao Hamburger inova a Malhação na forma e conteúdo
Na coletiva de imprensa de "Malhação, Viva a Diferença", perguntei a Cao Hamburger, seu idealizador, se o programa retrataria a juventude paulistana que frequenta lugares como a Praça Roosevelt e o Baixo Augusta – já que a maior propaganda da novela era o jovem de São Paulo e sua diversidade. Ele respondeu que estava fora do escopo do programa.
Nem poderia ser, afinal "Malhação" é exibida à tarde e mira um público adolescente, menor de idade. E por mais que a proposta seja realista, seu compromisso com a realidade pode ser bem flexível. É ficção, não é documentário.
Porém, sempre me incomodou a maneira como "Malhação", na maioria das vezes, retratou o jovem: de forma idealizada, romantizada, ou didática, mesmo quando abordou a problemática da juventude (e algumas vezes o fez muito bem). A "juventude de mentirinha do Projac".
Em "Viva a Diferença", Cao Hamburger esbarra nas limitações próprias do formato. O programa tem histórias já vistas anteriormente: gravidez precoce, discussão sobre racismo, adolescentes que sofrem com a separação dos pais, ricos vs. pobres. Mesmo assim, Cao consegue sair do lugar comum e imprimir sua marca ao mesmo tempo em que injeta frescor nas tardes da Globo – na forma e no conteúdo.
As meninas protagonistas são ótimas, tanto as personagens, muito ricas, quanto as atrizes que as interpretam: Ana Hikari (Tina), Daphne Bozaski (Benê), Gabi Medvedovski (Keila), Heslaine Vieira (Ellen) e Manoela Aliperti (Lica). Todas têm chance de brilhar e é tudo pensando para que essa dosagem seja homogênea. Não há um protagonismo.
Junto ao sotaque carioca – outra marca registrada de mais de vinte anos de "Malhação" – entra o paulistanês e o sotaque neutro (as atrizes são de regiões diversas). Outra novidade é o programa não limitar-se à cidade cenográfica. Apesar de a maioria das cenas serem gravadas nos Estúdios Globo, no Rio, a paisagem urbana de São Paulo é presente.
Porém, o maior diferencial é o texto. Uma mistura muito feliz de velhos chavões de "Malhação" com uma dramaturgia envolvente. O jovem de Cao Hamburger não é estúpido e nem boçal. Também não o vejo idealizado, romantizado. O autor se mantem fiel à proposta de discutir a diferença usando velhos clichês, mas de forma eficiente.
No capítulo da última sexta-feira (09/06), houve uma longa cena sobre racismo e preconceito social. A lente de aumento na personagem racista Mitsuko (Lina Agifu) – necessária para demarcar a discussão – poderia facilmente cair no discurso batido da dualidade "os bons vs. os maus", a classe dominante opressora vs. o negro pobre vitimizado. Mas Mitsuko, Ellen (Heslaine Vieira) e Anderson (Juan Paiva) são personagens tão bem elaborados que dão credibilidade à ação.
Isso acontece quando há a construção minuciosa dos personagens e cumplicidade entre texto, direção e atores. A sequência toda foi ótima, bem escrita, dirigida e interpretada. O clichê fica crível quando o personagem tem estofo, o texto não subestima o público e a direção está em total sintonia com a proposta. Viva a Malhação diferente das outras!
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