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O que eles fazem em "A Força do Querer"? 6 talentos desperdiçados na novela

Nilson Xavier

25/08/2017 12h17

Gisele Fróes, Mariana Xavier, Juliana Paiva e Edson Celulari

A personagem Cândida de "A Força do Querer", vivida pela ótima atriz Gisele Fróes, finalmente teve uma cena de destaque na novela. Até então, ela não passava de orelha para Jeiza (Paolla Oliveira), sua filha na história.

Orelha: no jargão novelístico é o personagem cuja função é, indiretamente, informar o público o que o seu interlocutor pensa. Geralmente aparece ouvindo o que o interlocutor fala.

No capítulo dessa quinta-feira (24/08), Cândida foi conversar com Aurora (Elizângela) sobre o atentado sofrido por Jeiza que ela atribui a Bibi (Juliana Paes). Bibi ouviu e tomou satisfações. Excelente sequência, bem escrita, dirigida e interpretada pelas atrizes.

Paolla Oliveira e Gisele Fróes

Esta foi a primeira vez que Cândida teve algum destaque na trama da novela. Ou algum momento que justificasse a escalação de Gisele Fróes. A personagem até arranjou um namorado, o que serviu apenas para exemplificar o forte temperamento de Jeiza (contra o envolvimento porque o cara, inicialmente, é um malandro).

Cândida não é a única personagem aparentemente sem função em "A Força do Querer". Nem Gisele Fróes é o único talento desperdiçado. A novela caminha para o seu fim e alguns atores tiveram esvaziadas as expectativas de bons momentos. Além dela, cito outros cinco.

Juliana Paiva com Carol Duarte

1 – Juliana Paiva (Simone): Jovem e talentosa atriz totalmente desperdiçada. Apesar de ter tido algumas ótimas sequências contracenando com Lília Cabral, sua mãe na novela, Simone não tem trama própria. Ela existe unicamente para servir de orelha para a prima e amiga Ivana (Carol Duarte).

Mariana Xavier

2 – Mariana Xavier (Biga): Houve uma expectativa de que Glória Perez desenvolvesse uma discussão sobre autoestima de gordos através da personagem. Porém, a autora acabou não criando nenhum holofote para isso, o que também é bom e combativo, afinal, ser gordo não é um problema. Nem é o caso de que Mariana Xavier esteja sendo desperdiçada, já que Biga teve ótimos momentos como escada para Nonato (Silvero Pereira). Duro é a moça terminar a novela simplesmente fazendo merchan de perfume! Que Biga tenha um desfecho mais estimulante.

Edson Celulari

3 – Edson Celulari (Dantas): Por mais que o pai de Cibele (Bruna Linzmeyer) tenha sofrido com as loucuras da filha, convenhamos que Dantas é um personagem muito aquém do currículo de Celulari. Só agora, na reta final, a autora deu alguma função para ele: desmantelar a misteriosa Mira (Maria Clara Spinelli). Temos um Xeroque Romes!

Rodrigo Lombardi e Gustavo Machado

4 – Gustavo Machado (Cirilo): Um dos talentos mais desperdiçados em "A Força do Querer". O advogado Cirilo não tem função alguma na novela senão ser amigo de Caio (Rodrigo Lombardi).

5 – João Camargo (Junqueira): O ator vive o marido de Heleninha (Totia Meirelles) e pai de Yuri (Drico Alves). Apenas. Sem voz ativa nesse núcleo, Junqueira some diante da mulher no embate das questões familiares.

João Camargo

Deve-se considerar que outros atores experientes desempenham muito bem suas funções de orelha. Como Zu (Claudia Mello), a governanta na casa de Joyce (Maria Fernanda Cândido), e a empregada Dita (Karla Karenina), cúmplice de Silvana (Lília Cabral). Ou personagens sem trama que cumprem com louvor outras funções, como alívio cômico, caso de Nazaré (Luci Pereira).

Há ainda os atores novatos que estão ali exatamente para isso, para servirem de orelha, e dos quais não se espera nada além disso – caso de Marilda (Dandara Mariana), orelha de Ritinha; Anita (Lua Blanco), orelha de Cibele; e Amaro (Pedro Nercessian), orelha de Ruy.

Mesmo com alguns talentos pouco explorados, é de se elogiar que Glória Perez esteja escrevendo uma trama bem amarrada com um elenco tão enxuto, diferente de seu último trabalho, "Salve Jorge", em que muitos atores experientes acabaram fazendo "figuração de luxo" porque o elenco estava inchado.

Fotos: reprodução/divulgação TV Globo.
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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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