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Ficar presa à gorda boba da corte é sofrível, diz Biga de A Força do Querer

Nilson Xavier

11/10/2017 07h00

Mariana Xavier, a Biga de "A Força do Querer" (Foto: reprodução)

Bati um papo com a atriz Mariana Xavier, a Biga de "A Força do Querer". Sinto a personagem desperdiçada na novela, perdendo-se assim a chance para uma boa abordagem sobre a autoestima dos gordos. Eis o que ela me contou sobre o assunto. Mariana também fez um balanço de sua participação na novela.

  • Biga está desperdiçada? Faz merchan de produto de beleza, serve de escada para Nonato… E a discussão sobre autoestima de gordos? Tudo bem que a personagem já teve falas sobre o assunto, mas foram poucas e muito pontuais.

De verdade? Eu não me sinto desperdiçada! Já fui envolvida em várias situações bacanas totalmente fora do estereótipo da gorda engraçada, o que é uma grande conquista para mim. Biga foi acusada de roubo quando sumiu o dinheiro do Eurico, presenciou a briga de Ruy e Cibele, o ataque homofóbico sofrido pela Elis Miranda…

A grande questão é que ficou todo mundo na expectativa dessa anunciada vida de modelo que, com o sucesso de outras tramas, acabou ficando sem espaço e só vai rolar bem no finalzinho. Novela é obra aberta, as tramas mudam o tempo todo e quem aceita fazer tem que estar ciente de que pode passar por isso: às vezes a personagem cresce horrores (como aconteceu comigo na novela "Além do Horizonte"), outras vezes diminui… E tudo bem, porque nem só de protagonistas vive um folhetim, as escadas são MUITO importantes!

Silvero Pereira e Mariana Xavier (Foto: reprodução)

E sinceramente nunca achei imprescindível essa história de modelo: sempre tive medo de que isso incutisse nas pessoas a ideia totalmente equivocada de que uma gorda só pode se sentir bem e ser considerada bem-sucedida se receber um selo de aprovação pública da sua beleza. Embora não seja tão impactante, acho que é muito mais combativo ao preconceito mostrar a gorda como uma pessoa normal, exatamente como a Biga é. Uma mulher que não é a palhaça o tempo todo, nem a sexy o tempo todo, com questões como qualquer outra mulher. O peso não sendo o centro do universo dela, sabe? Quando você deixa de tratar o peso como protagonista da vida de uma pessoa, já se está falando da autoestima do gordo.

Eu tô muito feliz com a personagem! Ela realmente andou numa fase mais devagar, mas o que aconteceu até aqui já superou minhas expectativas. Ficar presa à gorda boba da corte é sofrível.

  • Entendi! O gordo como uma pessoa comum sem a necessidade de holofote sobre o seu "problema" quando não há um problema de fato.

Uma mulher normal! Que pode ser feliz e tocar a vida sendo secretária, sendo médica, sendo manicure, sendo consultora de beleza… Não precisa ser modelo pra isso! Virar modelo será um plus porque era um sonho da Biga, mas não porque ela precisa disso pra se sentir bem consigo mesma: Biga já é o amor-próprio em pessoa!

  • Um tipo que você gostaria de interpretar?

Uma vilã! Meu sonho! Biga foi um passo muito importante na desconstrução da gorda obrigatoriamente engraçada. Agora a meta é fazer uma vilã pra acabar com essa lenda de que toda gorda é boazinha. Já vi cada gorda má na vida real, que você nem imagina! Hahaha

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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