"13 Dias Longe do Sol" frustra quem espera uma adaptação do caso Palace 2
É impossível não associar o que a Globo promete na minissérie "Treze Dias Longe do Sol" (de Elena Soarez e Luciano Moura, coprodução com a O2 Filmes, estreia dessa segunda, 08/01) com o desabamento do edifício Palace 2 – ocorrido no Rio de Janeiro em fevereiro de 1998 e que deixou 8 vítimas. Ainda mais na iminência de completar os 20 anos da tragédia. Mas não se engane, não existe nenhuma relação entre o fato e o que é apresentado na ficção. Talvez isso frustre os que ficaram na expectativa de uma adaptação da tragédia ou algo documental sobre o Palace 2.
Qual nada! "Treze Dias Longe do Sol" sequer escapa dos clichês do gênero. As vítimas têm perfis antagônicos e classes sociais e interesses distintos. Há os bons e os maus, os solidários e os egoístas, deflagrando assim os conflitos. Também o interesse amoroso que nasce ou reacende na tragédia e a luta pela sobrevivência em condições inóspitas. Em vários momentos, lembra os perrengues dos personagens das séries "Supermax" (Globo, 2016) e "Sem Volta" (Record, 2017) – nem cito as séries estrangeiras e o cinema-catástrofe americano que fartamente exploraram esse filão.
A base da trama – a tragédia em si e a luta das vítimas pela sobrevivência na esperança do resgate – não é nada original, logo é o menos interessante em "Treze Dias Longe do Sol". O melhor é justamente o que acontece simultaneamente no lado de fora. A trama constrói um ótimo paralelo entre os presos nos escombros e a sociedade à sua volta. De um lado, desconhecidos que precisam pensar coletivamente e somar forças para sobreviver. De outro, antigos parceiros que travam uma verdadeira batalha de "cada um por si" para se safar e livrar a cara da culpa e da responsabilidade pela tragédia.
"Treze Dias Longe do Sol" tem como premissa a transformação de pessoas diante da catástrofe – caso do protagonista, o engenheiro Saulo (Selton Mello), o principal culpado, vítima de sua própria irresponsabilidade, que passa por uma redenção ao longo da trama. Enquanto essa transformação só acontece nos últimos episódios, a narrativa vai se valendo de recursos que se perdem no caminho – como incitar o público a desejar justiça (há o assassinato de um inocente) para, no decorrer da ação, privá-lo dessa catarse.
No mais, "Treze Dias Longe do Sol" vale por cada cena com Débora Bloch, intensa e irrepreensível – justamente uma das personagens que luta para se eximir da responsabilidade pela tragédia.
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