Topo

A Globo extinguiu o "Zorra Total" e Carrasco o ressuscitou na novela das 9

Nilson Xavier

18/01/2018 22h31

Rafael Zulu, Eriberto Leão e Ana Lúcia Torre (foto: reprodução)

Com o fim do "Zorra Total" (há quase três anos), a Globo aboliu também um tipo de humor já considerado anacrônico: o que provoca o riso fácil ou mecânico, com base na caricatura e no estereótipo, às vezes de gosto duvidoso, sempre com os mesmos roteiros, em pequenos esquetes, com algum bordão ou frase de efeito. Nem é o caso de não haver mais espaço para esse tipo de humor na TV (vide "A Praça é Nossa" do SBT). Mas a Globo preferiu a renovação, substituindo o "Zorra Total" pelo "Zorra" – com um humor, digamos, mais refinado, que nada tem a ver com o programa antigo.

Diante de algumas críticas de que sua novela "O Outro Lado do Paraíso" andava meio sombria na primeira fase, eis que Walcyr Carrasco traz de volta o mesmo humor que a emissora fizera questão de banir de seu horário nobre. Já esperava por isso quem conhece a obra do autor – de tortas na cara e gente arremessada no chiqueiro em suas novelas dos horários das seis e sete. Se Carrasco não poupou sua última trama das nove, "Amor à Vida", do humor fácil com texto rasteiro, porque iria poupar o público de "O Outro Lado do Paraíso"?

E temos então os bordões repetidos EM TODA CENA com aqueles personagens. Aliás, todo dia, AS MESMAS CENAS, mesmas situações e mesmas falas. Até maio (fim da novela), ouviremos diariamente Cido (Rafael Zulu) se referir a Dona Adinéia (Ana Lúcia Torre) como "mãe de bicha", sempre nas mesmas situações. Da mesma forma, em quase todo capítulo os gays predadores do salão de beleza assediam o rapagão hétero – são sempre as mesmas frases, com pouca variação do roteiro, que provocam o riso automático ou nervoso (quando provocam). Como nos esquetes do "Zorra Total".

Felipe Titto e Andy Gerker (foto: reprodução)

Falando nos gays da novela, a abordagem à homossexualidade em "O Outro Lado do Paraíso" chega a ser um retrocesso em face ao avanço alcançado recentemente por "A Força do Querer". Mas este é assunto para outro post!

Se a reiteração já era uma das principais críticas à novela lá em seu início, imagina agora que Carrasco apelou para o humor raso e repetitvo. Se esse tipo de humor mal rende hoje um programa semanal, imagina uma novela diária! Todavia, a audiência de "O Outro Lado do Paraíso" vai indo muito bem: uma média geral de quase 35 pontos no Ibope da Grande SP – um sucesso.

Leia também: Maurício Stycer, "Não tem um médico que preste em O Outro Lado do Paraíso".
Siga no FacebookTwitterInstagram

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

Blog do Nilson Xavier