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Trama frágil: "Deus Salve o Rei" é muita embalagem para pouco conteúdo

Nilson Xavier

24/01/2018 19h05

Johnny Massaro e Rômulo Estrela (foto: Artur Meninea)

Definitivamente "Deus Salve o Rei" nada tem a ver com "Game of Thrones". É o oposto: na novela, o jogo de tronos é para saber quem NÃO fica com a coroa! No capítulo de terça (23/01), o herdeiro do trono de Montemor, Príncipe Afonso (Rômulo Estrela), abdicou a favor do irmão pelo amor a uma camponesa. Um amor e uma cabana! O irmão, Rodolfo (Johnny Massaro), por sua vez, é um inapto e não quer saber de reinar.

Que Rei Sou Eu?
Neste ponto, a trama de "Deus Salve o Rei" brinca com a lógica. Afonso, o herói da história, foi vendido ao público como um príncipe justo, honesto, virtuoso e digno de usar a coroa deixada pela falecida rainha. E ele sabe que o irmão é um mentecapto. No entanto, "por amor", preferiu abandonar o seu povo à própria sorte. Um comportamento sem sentido quando sabemos que todo príncipe é desde o nascimento preparado para o trono. Um príncipe-herói não abandonaria o seu povo, já que isso contradiz a sua índole e formação. A não ser, logicamente, quando o caráter do príncipe é questionável – como o tio da Rainha Elizabeth II, da Inglaterra, que abdicou a favor do irmão para viver no exílio com uma mulher ("The Crown").

O roteiro força a barra – Afonso acha que Rodolfo dará conta – deixando transparecer a fragilidade da trama. É preciso cuidado ao tratar a verossimilhança com essa maleabilidade – mesmo quando a proposta permite licenças poéticas. É uma fantasia, cáspita! – dirão os defensores da novela. Ainda assim, uma trama bem elaborada não precisa fugir da coerência para justificar o roteiro. Caso contrário, manda-se a lógica às favas e vira "O Outro Lado do Paraíso"!

Marina Ruy Barbosa | Bruna Marquezine (foto: Artur Meninea)

Os únicos atores de peso, Marco Nanini e Rosamaria Murtinho, fazem participações – ela já saiu, ele sairá logo. A novela carece de atores veteranos. Em contrapartida, há três atrizes de grande apelo midiático: Bruna Marquezine, Marina Ruy Barbosa e Tatá Werneck (fan service?). Marina está bem, mas sua camponesa tem sempre o aspecto de quem acabou de fazer o make e vai para o baile. E Marquezine – corrigindo minha crítica anterior – não está robótica: está desfilando – é diferente! Enquanto isso, suas falas pausadas são de uma superficialidade que parece que a qualquer momento ela vai citar A-QUE-LA  MAR-CA  DE  LEI-TE.

Muita embalagem para pouco conteúdo
A audiência está dentro da meta: média de 25 pontos (Ibope da Grande SP). Visualmente, "Deus Salve o Rei" é belíssima. Uma produção incrível em cenários, figurinos e arte. Mas falta estofo ao enredo. Passadas quase três semanas da estreia, a história ainda não disse a que veio. Há muito chão pela frente e a trama tem potencial para deslanchar. Por enquanto, apenas o apelo das produções da Disney para pré-adolescentes: seria mais apropriado exibir pelas manhãs no Gloob.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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