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Cena do julgamento do pedófilo foi a melhor de "O Outro Lado do Paraíso"

Nilson Xavier

20/02/2018 23h12

Sandra Corvelone e Flávio Tolezani (Foto: reprodução)

É preciso destacar a abordagem à pedofilia trabalhada por Walcyr Carrasco em sua novela "O Outro Lado do Paraíso" – excluindo o fato de o julgamento do pedófilo ter sido apresentado com exageros de licença criativa (audiência pública para caso de pedofilia, expondo a vítima dessa forma?) e excluindo toda a polêmica envolvendo coaches e psicólogos e que a Globo faturou com o merchan do Instituto Brasileiro de Coaching.

É um entrecho que serve para conscientização e esclarecimento a vítimas reais, reforçando a ideia de que se deve sempre denunciar tais casos. Uma abordagem que se salva em meio a tantas mal conduzidas na novela (como as que envolvem a personagem anã, o núcleo gay, a violência doméstica, alcoolismo, etc).

O capítulo desta terça-feira (20/02) exibiu a melhor sequência da novela – melhor até que o retorno triunfal de Clara (Bianca Bin) a Palmas – pois envolve todo um trabalho de direção e atuação de atores, muito mais do que uma catarse do roteiro. Mauro Mendonça Filho e sua equipe trabalharam de forma arrebatadora com a sensibilidade de todo o elenco envolvido.

Bella Piero, a vítima Laura, é uma atriz que promete. Ela já havia tido ótimas cenas no desenrolar de sua trama. Flávio Tolezani, como o pedófilo Vinícius, também se destaca pela frieza que imprimiu ao seu personagem. O capítulo ainda contou com a participação luxuosa da veterana Ilva Niño, como uma testemunha.

E a excelente representação de Sandra Corvelone, como Lorena, a mãe. A atriz esteve esse tempo todo em banho-maria, com uma personagem pequena demais para ela – Sandra é premiada com uma Palma de Ouro em Cannes, pelo filme "Linha de Passe". Em uma cena forte e tensa, sua personagem foi a que recebeu o melhor texto. Palmas para Sandra (não resisti!).

Pena que, ao final do julgamento, quase tudo vira um salseiro com o réu confessando os seus crimes e tripudiando em cima dos personagens (tive medo de aparecer alguém com uma torta). Como bem lembrou um seguidor no Twitter: pareceu desfecho do Scooby-Doo: "eu teria conseguido se não fosse esses garotos intrometidos!".

O capítulo bateu o recorde de audiência da novela. Em São Paulo marcou 46 pontos no Ibope e 62% de participação – o recorde anterior foi de 44 pontos no dia 29/01. Já no Rio de Janeiro, a novela cravou 48 pontos e 67% de participação (o recorde anterior foi 46 pontos, duas vezes, em 23/01 e 19/02).

Parabéns ao autor por essa abordagem. Pelo menos a pedofilia do delegado não é "obra do além", como a justificativa para Gael (Sérgio Guizé) – o que acabou enfraquecendo e minimizando a trama da violência doméstica.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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