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Globo lança, via "Malhação", campanha pela valorização da Escola Pública

Nilson Xavier

28/02/2018 18h32

Ana Flávia Cavalcanti (Foto: reprodução)

Por meio da novela "Malhação, Viva a Diferença", a Rede Globo lançou nesta quarta-feira (28/02) a campanha "Você é o público da escola pública", pela valorização do ensino público. O tema foi amplamente abordado nesta temporada de "Malhação".

O autor da trama, Cao Hamburger, vem trabalhando com a área de Responsabilidade Social da Globo desde o início da novela. Anteriormente, dentro da história, a personagem Marta (Malu Galli) produziu vídeos sobre escola pública – na realidade, vídeos feitos pela Responsabilidade Social, de um projeto que premia iniciativas de boas práticas em Educação. "Mostramos o exemplo de uma escola em São Paulo que trabalhou bem a questão de filhos de imigrantes bolivianos que sofriam discriminação e problemas para se adaptar", relatou Cao.

Nesta reta final da temporada, Cao Hamburger criou a trama do publicitário Luís (Ângelo Antônio), aliado a Marta (Malu Galli) para criar esta campanha, que extrapola a ficção e ganha a programação da Globo. "A campanha está bem inserida dentro da trama dos últimos capítulos. Lançamos o filme no capítulo de quarta. Esse filme sai da novela para a programação da Globo, com outros filmes sobre o tema. A última trama coletiva mais forte de "Malhação" é em defesa da Escola Cora Coralina, a escola pública da novela, que foi caluniada, com consequências graves. A escola será atacada por pessoas motivadas pelas calunias. A campanha é uma reação a favor da escola."

Foto: reprodução

"Fui buscar ajuda com a área de Responsabilidade Social e me sugeriram o Sérgio Valente, diretor de comunicação da Globo, que adorou a ideia. Na verdade, ele que criou e que deu a ideia de fazer a campanha sair da novela e ganhar a vida real."

Sérgio Valente explica: "Nenhum país do mundo cresceu e melhorou sem ter uma educação pública de qualidade. Precisamos mostrar que todos têm que participar dessa grande transformação, cuidando, cobrando e comparecendo. Cuidando do que é nosso; cobrando o investimento em políticas públicas; e comparecendo, estando presente. Não apenas alunos, pais e educadores, mas toda a sociedade. Este projeto de comunicação tem dois movimentos claros: mostrar que todo mundo é público da escola pública e mostrar o valor da escola pública hoje, por meio de numerosos brasileiros, profissionais bem-sucedidos, que foram alunos da escola pública. Ao dar visibilidade, mostrando bons exemplos de sucesso que hoje acontecem dentro deste universo, estamos dizendo a 81% dos brasileiros em idade escolar, que frequentam escolas públicas, que um futuro melhor é possível."

O objetivo é ambicioso: mobilizar a sociedade por uma educação pública de qualidade e enfatizar a importância do envolvimento de todos – educadores, alunos, familiares e comunidade. De acordo com Beatriz Azeredo, diretora de Responsabilidade Social da Globo, a proposta é "sugerir mudanças de narrativa em relação a ensino público de qualidade e mobilizar a sociedade, gerando a consciência de que precisamos acelerar esse processo. É um trabalho a longo prazo em um tema permanente, um 'trabalho de formiguinha'". A curto prazo, a proposta é "gerar orgulho pela nossa escola pública e, a cada ano, acompanhar os resultados."

Como um prolongamento da campanha de "Malhação", o tema será abordado também em outros programas da emissora, tanto no Jornalismo quanto no Entretenimento (como "Fantástico", "Jornal Hoje", "Encontro", "É de Casa", etc), com entrevistas e reportagens, além de ações nos perfis da Globo nas mídias sociais. O projeto conta com a parceria de organizações internacionais e da sociedade civil: Unicef, Fundação Roberto Marinho, União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Associação Nova Escola, a Organização Cidade Escola Aprendiz e Todos pela Educação.

"Precisamos recuperar a escola pública, e não estigmatizá-la ainda mais, afinal cerca de 80% dos jovens brasileiros estão na escola pública [dados do Censo Escolar de 2017]. Acho essa campanha muito importante e espero que tenha algum efeito na sociedade. Talvez seja o melhor fruto de todo o trabalho de um projeto de sucesso. É a maior vitória, neste aspecto social, de o que um produto audiovisual pode render para a sociedade. Espero que tenha uma repercussão legal. E que, em um ano de eleição, possa fazer alguma diferença", concluiu Cao.

Cao Hamburger também contou sobre a experiência de escrever "Malhação", sua primeira novela, e seus projetos futuros:

"Foi um ano e meio de trabalho intenso, duro física e psicologicamente, mas, ao mesmo tempo, prazeroso. Acho que por isso as pessoas que fazem novela continuam fazendo, porque é um prazer! A diferença com séries ou minisséries é que nelas os momentos de intensidade são mais curtos. Novela é muito intenso durante muito tempo. Outra diferença foi atingir o Brasil inteiro, profundamente. A Globo sempre foi o lugar mais interessante de se trabalhar com televisão no Brasil. Agora, com plataformas digitais, há outros canais (como a Netflix) e a Globo está deixando de ser a única grande player de audiovisual. Mas se você quer falar com o Brasil mesmo, é na TV aberta, e a Globo é a maior da TV aberta. É gratificante fazer um produto de sucesso e saber que ele está chegando no Brasil inteiro."

"O meu medo de fazer uma obra tão grande era ter que escrever rápido. Fazendo coisas menores, séries ou minisséries, você tem tempo para escrever capítulos mais bem acabados. Mesmo assim, acho que conseguimos manter um nível muito bom. Conseguimos um método que misturei um pouco com o da escrita de séries que eu vinha desenvolvendo. Acho que mantivemos um padrão legal de dramaturgia e, mesmo não atingindo o padrão de uma série, cada capítulo foi super bem amarradinho."

Manoela Aliperti e Giovanna Grigio (Foto: reprodução)

Sobre a repercussão do beijo lésbico entre as adolescentes:
"Já tinha o plano das meninas experimentarem. Senti uma química muito forte nas atrizes [Manoela Aliperti e Giovanna Grigio]. Sabia que ia incomodar muita gente porque a relação afetiva homossexual é um assunto que ainda está sendo digerido pela sociedade brasileira. Ainda incomoda e vai incomodar por algum tempo. Espero que não por muito tempo. Fiz com essa consciência, de saber que é um tabu, mas de um jeito legal para as pessoas entenderem que isso não é um problema. E que é diferente da homofobia que gera a violência, que é uma coisa inadmissível."

Pretende escrever mais novelas? Algo com a Globo?
"Não vou dizer que não. Se tivesse feito essa pergunta há dois anos, eu ia falar não, nunca! Mas não está em meus planos [escrever novelas] a curto prazo. Agora pretendo me voltar para as séries ou minisséries. Da minha parte, a parceria com a Globo continua. Já temos algumas conversas, mas não definimos qual será o próximo trabalho."

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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