Topo

Tempo de Amar: autor e diretor rebatem críticas à sofrência e protagonistas

Nilson Xavier

18/03/2018 07h00

Bruno Cabrerizo e Vitória Strada (Foto: João Miguel Jr.)

A convite da Globo, bati um papo com as cabeças por trás da novela "Tempo de Amar": Alcides Nogueira, o autor, e Jayme Monjardim, o diretor artístico. O último capítulo será exibido nessa segunda-feira (19/03). A novela manteve a boa audiência do horário (quase 23 pontos no Ibope, quando a meta é 20), enfrentando final de ano, carnaval e verão. Eles falaram do sucesso, do estilo da novela, do português culto falado pelos personagens, e rebateram as críticas ao apelido "Tempo de Sofrer" e aos atores iniciantes.

"Foi a novela mais tranquila que já fiz. E veio em um momento de amadurecimento, profissional e pessoal. Jayme, além de parceiro, agrega. Reuniu uma equipe dos sonhos, elenco, produção exemplar. As dificuldades foram as naturais, que ambos tiveram que enfrentar, que fazem parte do jogo." Alcides Nogueira.

"Tempo de Amar" deveria estrear no segundo semestre de 2018. Na sinopse original, a trama se passava entre os anos de 1886 e 1888. Tide, como Alcides é conhecido, revelou que teve de mudar muita coisa.

Tide: Silvio de Abreu convocou eu e Jayme para uma reunião e disse que a novela que vinha após "Novo Mundo" havia "caído" e que entraríamos em seguida. Para nós, autores e diretores, essas mudanças são corriqueiras [adiantar ou protelar, espichar ou diminuir]. Só que quando colou com "Novo Mundo", o tempo de ação da trama ficou o mesmo. Eu já tinha 30 e tantos capítulos escritos, tive que reescrever abordagens ao mudar a ambientação da história. Escolhemos, eu e Jayme, o final dos anos 1920.

Sobre a sintonia entre autor e diretor e o estilo de "Tempo de Amar".

Tide: Temos referências muito próximas – o fato de gostarmos de cinema, literatura… Nossas referências são parecidas.

Jayme: Questão de energia também. Novela não é fácil. Ter um casamento de autor e diretor é a fórmula do sucesso. Eu gosto de contar histórias, já fiz novela de época, rural, urbana. Mas gosto de uma novela mais dramática, amorosa, romântica. Acho que eu não seria, por exemplo, um diretor para uma grande comédia ou para uma novela de ação, ou com muitos efeitos de computação gráfica. Faria, mas não gosto. Até porque, é legal haver essa diferença, diretores com aptidão para um estilo e para outro.

A novela foi elogiada pelo português culto falado pelos personagens.

Jayme: Esse português fez um grande sucesso. Levantamos a bandeira do falar bonito!

Li nas redes sociais as pessoas falando "como eu gostaria que alguém falasse comigo dessa maneira!", "Alcides, por favor, quando eu tiver que fazer minhas declarações de amor ou minhas DRs, escreva para mim!" Alcides Nogueira

O diretor Jayme Monjardim e o autor Alcides Nogueira (Foto: César Alves)

Sobre a alcunha que a novela recebeu, "Tempo de Sofrer", pelo período inicial em que pesou-se a mão no sofrimento dos personagens. Eles foram categóricos ao afirmar que não mexeram na história por causa das críticas.

Tide: Não mexemos em nada. O plano de voo da novela foi cumprido exatamente o que era desde o início. A "sofrência" foi necessária. Para poder contar essa história que depois ia aflorar, ninguém ia acreditar se não houvesse esse sofrimento todo. Engraçado que, apesar de ter havido esse estranhamento, a audiência nunca baixou.

Jayme: A novela tinha que passar por tudo aquilo. Nunca houve "vamos mudar os rumos". E o humor foi chegando na medida que fomos apresentando os personagens.

Tide: Acho que o estranhamento no início foi natural, porque substituímos uma novela muito movimentada, ágil, alegre. "Tempo de Amar" é muito diferente de "Novo Mundo", entramos com outra narrativa. E hoje não tem mais essa de final de semana para passar o luto da trama que acabou. A novela termina na segunda e na terça entra a outra, não há tempo de luto. Acho que isso também contribuiu para esse estranhamento.

Sobre a escolha dos iniciantes Bruno Cabrerizo e Vitória Strada, e as críticas que Bruno recebeu:

Jayme: Era muito difícil encontrar um ator que, humildemente, conseguisse interpretar a humildade do personagem Inácio. Se tivesse sido um ator experiente ou conhecido, o resultado não teria ficado tão bom. Eu havia acabado de fazer um filme com o Bruno ("O Avental Rosa", a ser lançado). Já vinha com o ator na cabeça, sabendo que ele era capaz de viver Inácio. Bruno, por natureza, é leve, suave, um cara que realmente veio daquele fundo de Portugal, trabalhando num quintal, numa marcenaria. E o público não ter referência deles (ele e Vitória) foi outro acerto. Como o público não os conhecia, não ligava eles a nada. Óbvio que a personagem da Vitória se sobressai, naturalmente, porque ela é mulher. Não vejo onde Bruno possa ter deixado a desejar. Ao contrário, eu adoraria ter ele em vários trabalhos. Lógico que se eu dissesse, "Bruno vai fazer um vilão", eu teria que trabalhá-lo.

Sempre digo que Bruno e Vitória são "a nossa vitória". Jayme Monjardim

Acho que a novela teve o tom que teve graças a eles. Independente de ter Tony Ramos, Deborah Evelyn, Leticia Sabatella, Nivea Maria, Marisa Orth, Regina Duarte. Quando se rodeia esses atores novos dos experientes, cria-se um "vigor híbrido". E toda novela precisa de frescor (atores novos). Se Bruno e Vitória fizeram o que fizeram no primeiro trabalho, imagina o que farão daqui para frente!

Sobre o papel de Regina Duarte:

Tide: A personagem era menor que a Regina, ela sabia disso e aceitou fazer. Porém, era uma personagem essencial, que alavancou uma série de tramas. E fez divinamente bem. E gostou! Atores como Regina e Tony, muitas vezes, não têm preocupação com um grande papel. Somos nós, autores e diretores, que acabamos tendo essa preocupação em dar a eles grandes papeis.

Siga no Facebook – Twitter – Instagram

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

Blog do Nilson Xavier