Haja fôlego! Maior qualidade de 'O Outro Lado" é a trama ágil e dinâmica
Agora cabe um elogio. Um dos fatores que garantiram a ótima audiência de "O Outro Lado do Paraíso" – e talvez a sua maior qualidade – é o dinamismo de sua trama. Pense que a novela estreou há exatos seis meses e faça um retrospecto do que já aconteceu na história. Mil e uma reviravoltas em uma trama que não parou um minuto. Se tem algo que não podemos reclamar do autor Walcyr Carrasco é de marasmo.
Carrasco tem uma capacidade impressionante de fisgar o público e mantê-lo grudado em suas histórias por meses a fio. É um domínio, uma carpintaria, que poucos novelistas têm. Não lembro de nenhuma obra dele que tenha sofrido da famigerada "barriga" – aquele momento em que nada acontece na trama e o autor só enche linguiça. Talvez algumas, por serem longas demais, tenham cansado momentaneamente. Mas barriga, nunca!
E ainda deve-se levar em consideração que Walcyr Carrasco é um novelista incansável, o mais produtivo (e profícuo) de todos, tendo praticamente emendando uma novela na outra, a maioria com alta audiência, e passado por todos os horários (das 6, 7, 9 e 11 da noite). Comparável apenas às rainhas Ivani Ribeiro e Janete Clair, que emendavam novelas literalmente.
Carrasco também dosa bem os núcleos de suas novelas. Explora, vai sentindo os que podem render mais. Prioriza alguns em determinado momento, para deixá-los "descansando" posteriormente enquanto levanta outros. Dá destaque para papeis pequenos (veja o quanto cresceu o núcleo do bordel), ao mesmo tempo em que sacrifica outros (veja o que aconteceu com a Lívia de Grazi Massafera).
Diariamente os portais de notícias de televisão (e as revistas especializadas) soltam inúmeros spoilers do que acontecerá nos próximos capítulos, sempre com novidades, acontecimentos inesperados, reviravoltas. Poucos autores conseguem imprimir tanto fôlego em sua obra. Isso – aliado a uma trama que agrada o público – fideliza a audiência, segura o telespectador por meses a fio na frente da televisão. Ponto para Carrasco!
Mas existe o outro lado (do paraíso – não resisti!)
Para dar conta de uma trama extremamente ágil, Carrasco abre mão de um texto mais elaborado e cai no simplismo de diálogos repetitivos e rasos em entrechos batidos, maniqueístas ou ultrapassados, muitas vezes com situações forçadas (ou furos de roteiro), mandando a coerência às favas, subestimando assim a inteligência de seu público. O que pode agradar em cheio uma audiência que não está muito interessada em pensar, mas apenas em se divertir com o básico do básico. O que também é louvável, afinal novela é, acima de tudo, entretenimento.
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