"Carcereiros" dosa texto, psicologia e tensão como pouco se viu na TV
Nilson Xavier
26/04/2018 23h17
Ficção e realidade se mesclam na série "Carcereiros", estréia desta quinta-feira (26/04), uma coprodução da TV Globo, Gullane Filmes e Spray Filmes. Baseada no livro homônimo de Dráuzio Varella, a atração tem roteiros assinados por Fernando Bonassi, Marçal Aquino e Denisson Ramalho (da série "Supermax") e direção geral e artística de José Eduardo Belmonte (do filme "Alemão").
Como se não bastasse o teor realista das cenas (muito próximo do realismo visto na série médica "Sob Pressão"), a produção ainda é permeada com imagens reais de arquivo e depoimentos de agentes penitenciários de verdade, aposentados ou na ativa. Gravados como documentário (por Pedro Bial e Fernando Grostein Andrade), os depoimentos reais misturam-se a de personagens, ilustrando a trama desenvolvida em cada episódio.
Tudo é propositalmente real e o público não é poupado de cenas violentas e palavrões. Os episódios são curtos (cerca de 35 minutos) e a narrativa não perde tempo com perfumarias. O episódio de estreia ("Resgate no Inferno"), por exemplo, dispensou a apresentação dos personagens. A ação já começou com o protagonista Adriano (Rodrigo Lombardi) em meio a uma rebelião tendo de negociar com os detentos.
O clima de tensão aumenta à medida que a trama avança. "Resgate no Inferno" pode ser o mais pesado dos episódios desta primeira temporada. Nos demais, há um respiro com os dramas particulares de Adriano – é quando o público fica conhecendo sua família (pai, filha e mulher). Rodrigo Lombardi vive seu melhor trabalho na televisão. Mérito do ator, da direção e do texto, na criação, desenvolvimento e evolução psicológica do personagem.
Além do clima barra-pesada, de muita ação e tensão, é no texto – na "força da palavra", como a série é vendida – que a narrativa guia e envolve o espectador. A palavra é a principal arma dos agentes penitenciários para arrefecer os ânimos inflamados dos presos. Diretores e roteiristas dosam com harmonia texto, perfis psicológicos e ação. Uma narrativa poucas vezes vista na TV brasileira.
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Antes desta estreia em TV aberta, "Carcereiros" foi lançada no Globo Play (plataforma sob demanda) e na TV a cabo (no canal Mais Globosat). Agora, ganha três episódios que não estão no Globo Play, totalizando 15. Em abril de 2017, a série foi premiada no MIPDrama Screenings, evento que abriu o MIPTV, em Cannes, uma das principais feiras do mercado de televisão do mundo. A segunda temporada está sendo gravada e, por enquanto, sem previsão de estreia.
Sobre o autor
Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.
Sobre o blog
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.