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10 curiosidades sobre "Vale Tudo", que volta hoje no Viva

Nilson Xavier

18/06/2018 07h00

Fátima (Glória Pires) e Raquel (Regina Duarte)

Ao completar 30 anos de sua estreia, a novela "Vale Tudo" ganha uma nova reprise no Viva. Para tanto, o canal sacrificou a apresentação de "Bebê a Bordo", cuja edição abriu um perigoso precedente que afeta os fãs do Viva, uma vez que não há mais garantia de que as novelas sejam exibidas na íntegra. A novela foi mutilada desarvoradamente precipitando o seu término. O canal poderia ter esperado poucos meses para a volta de "Vale Tudo". Se a justificativa é a efeméride, por que a estreia não ocorreu em maio, o mês de aniversário? ¯\_(ツ)_/¯

O Viva reprisou "Vale Tudo" no primeiro ano de operação do canal, entre 2010 e 2011. A exibição foi um sucesso e causou frisson entre os usuários de redes sociais, saudosos da novela que viram no passado ou curiosos pela obra famosa que não puderam acompanhar antes. O primeiro capítulo é nesta segunda-feira (18/06), às 15h30 com reprise à 0h30.

Afonso (Cássio G. Mendes), Odete (Beatriz Segall), Celina (Nathalia Timberg) e Heleninha (Renata Sorrah)

01. Obra atemporal

Não há momento social-político certo para a exibição da novela, já que o Brasil de trinta anos atrás, de certa maneira, não é muito diferente do de hoje. "Vale Tudo" é dessas obras que sempre figurará em qualquer lista das melhores. Uma novela "redonda", resultado do texto (do trio Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Basséres) + direção (Denis Carvalho e Ricardo Waddington) + elenco magistral, o que possibilitou a identificação do público com tramas e personagens fáceis de torcer, amar e odiar. Poucas novelas causaram essa comoção generalizada.

02. Aguinaldo Silva

A autoria de "Vale Tudo" é normalmente atribuída só a Gilberto Braga. Mas a trama também foi assinada por Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. O próprio Gilberto faz questão de salientar a importância dessa parceria. Aguinaldo, por exemplo, foi o responsável pelas escaletas (estruturas do roteiro), além de cuidar do "núcleo pobre" da novela.

Renato (Adriano Reys) e Solange (Lídia Brondi)

03. Baseada em filme

O ponto de partida para a história foi o filme "Almas em Suplício" ("Mildred Pearce", dirigido por Michael Curtiz em 1945, com Joan Crawford e Ann Blyth), de onde foi extraída a trama da mãe simplória (Raquel) que enriquece mas tem o desprezo da filha (Fátima). Na primeira parte da novela, o filme é referenciado quando Raquel chama uma senhora de Dona Mildred.

04. Quem matou?

No capítulo 193, exibido em 24/12/1988, a vilã Odete Roitman foi assassinada com três tiros à queima-roupa. O mistério da identidade do assassino durou apenas treze dias, mas dominou todas as conversas pelo país e tornou-se alvo de apostas, rifas e sorteios. O fabricante de caldo de galinha Maggi promoveu um concurso para premiar quem adivinhasse o nome do assassino. Os autores escreveram cinco versões diferentes para o último capítulo, ao qual o elenco só teve acesso durante a gravação da cena, poucas horas antes da exibição. Apenas um final foi gravado. Nem o próprio elenco sabia, até ao momento em que Denis Carvalho dispensou os demais atores anunciando que a criminosa era Leila, personagem de Cássia Kiss. O Brasil parou diante da TV – literalmente – na noite do último capítulo da novela (em 06/01/1989) para conhecer o desfecho da história.

Cenas marcantes

05. Atriz marcada pela vilã

Beatriz Segall ficou para sempre marcada por sua interpretação como Odete Roitman. Até algum tempo depois de ter terminado a novela, a atriz se recusava a falar da personagem, já que tentava afastar o fantasma da megera com os trabalhos que fez após "Vale Tudo", sempre como tipos diferentes: mulheres simpáticas e de boa índole. Curiosamente, ela não foi a primeira atriz lembrada para o papel: Gilberto Braga pensou antes em Tônia Carrero e Odete Lara.

06. Novela premiada

"Vale Tudo" foi eleita pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) a melhor novela de 1988. Glória Pires (como Fátima) foi premiada a melhor atriz, Sérgio Mamberti (o mordomo Eugênio) o melhor ator coadjuvante, e Paulo Reis (o fotógrafo Olavo) o ator revelação do ano. Também foi premiada com o Troféu Imprensa de melhor novela do ano e melhor atriz para Beatriz Segall (Odete Roitman).

Odete (Beatriz Segall) e César (Carlos A. Riccelli)

07. Sucesso em Cuba

Em Cuba, em 1995, o governo resolveu legalizar uma rede de restaurantes privados que funcionava clandestinamente desde 1993, em um arrojado gesto de abrir mão da exploração exclusiva do setor. Esses restaurantes, geridos em âmbito familiar, tinham o nome de "paladares", assim batizados por causa do nome da cadeia de restaurantes de Raquel (Regina Duarte) na novela: Paladar.

08. Muitas estreias

Foi a primeira novela dos atores Marcello Novaes, Flávia Monteiro, Otávio Müller, João Camargo, Lala Deheinzelin, Paulo Reis e Renata Castro Barbosa. Primeira aparição em novelas, em pontas ou pequenas participações, de Humberto Martins, Marcos Oliveira, Edson Fieschi e Lu Grimaldi. Adriana Esteves, aqui vista pela primeira vez em uma novela, fez figuração na sequência em que várias modelos concorrem a uma vaga para um editorial na revista Tomorrow, do qual Fátima (Glória Pires) participa.

Cecília (Lala Deheinzelin) e Laís (Cristina Prochaska)

09. As lésbicas

Pela primeira vez, uma novela discutiu de forma explícita a homossexualidade feminina. Por isso, "Vale Tudo" enfrentou alguns problemas com a censura. Vários diálogos entre as personagens Cecília e Laís (Lala Deheinzelin e Cristina Prochaska) tiveram que ser reescritos depois de vetada a cena em que as duas falavam sobre os preconceitos de que eram vítimas por causa de seu relacionamento. Já sobre a morte da personagem Cecília, Gilberto Braga esclareceu em entrevista: "Em Vale Tudo há um folclore. É o caso das lésbicas. A história que eu contei é exatamente igual à que queria contar. Não houve censura. Não houve alterações. Quando criei a personagem, sabia que ela morreria. Isso eu sempre planejei."

César (Carlos A. Riccelli), Fátima (Glória Pires) e Príncipe Giovanni (Marcos Mazano) | Trilha internacional

10. Trilha sonora

Os LPs de "Vale Tudo" – a trilha nacional e a internacional – foram sucessos de venda. Do disco nacional, além do tema de abertura, "Brasil", música de Cazuza gravada por Gal Costa, destacaram-se: "Tá Combinado" (Maria Bethânia), tema de Raquel e Ivan; "Pense e Dance" (Barão Vermelho), tema de Fátima; "Todo Sentimento" (Verônica Sabino), tema de Heleninha; "É" (Gonzaguinha), tema de locação; "Isto Aqui O Que É" (Caetano Veloso), tema de Raquel; e "Faz Parte do Meu Show" (Cazuza), tema de Solange. Do disco internacional, vários hits das FMs da época: a melosa "Baby Can I Hold You" (Tracy Chapman), tocada incessantemente para as cenas de Raquel e Ivan; "Father Figure" (George Michael), tema de Marco Aurélio e Leila; "Lost in You" (Rod Stewart), tema geral; "Silent Morning" (Noel); "Piano in the Dark" (Brenda Russell), tema de Aldeíde; "Free As a Bird" (Supertramp), tema de Solange; "Paradise" (Sade), tema de Fátima; "Pink Cadillac" (Natalie Cole) e outros.

Fotos: Acervo/Globo.
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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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