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"Português é uma língua tão chinfrim" e outras 20 pérolas de Odete Roitman

Nilson Xavier

26/07/2018 07h00

Odete Roitman está de volta no canal Viva, mais viva do que nunca (perdão pelo trocadilho!). Há 30 anos, a personagem imortalizada pela atriz Beatriz Segall na novela "Vale Tudo" proferia os maiores absurdos em um tempo em que o politicamente correto ainda não guiava os programas de TV e o senso comum. Reprisada no Viva, nesta quarta-feira (25/07) foi ao ar uma das sequências mais emblemáticas da novela, em que Odete esculhamba o Brasil e o povo brasileiro durante um jantar chique.

Com língua ferina, a megera nunca economizou preconceito, provocações ou frases ácidas. Na trama da novela, acabou assassinada. Mas continua na lembrança do público, como uma das mais marcantes malvadas de nossa Teledramaturgia. Abaixo, 20 pérolas da vilã precursora de Carminha, Laura Cachorra, Bia Falcão, Flora, Nazaré Tedesco e tantas outras.

"Você reserva pra mim a suíte presidencial de um desses hotéis limpinhos aí. De preferência que não tenha um bando de mendigos na porta tentando agarrar a gente. E pede um desconto, eles dão. Ah, Celina, por favor, avisa na portaria do hotel que eu de-tes-to ter brasileiros de outros estados passando na porta do meu apartamento falando português… essa gente viaja até com criança, às vezes. Quanto menos eu ouvir falar português, melhor!"

"E eu que pensei que alguma coisa tivesse mudado nesse país! Mas é só botar o pé no Galeão, você já começa a sentir esse calor horroroso, gente horrível no caminho, uma gente feia, parada, esperando uns ônibus caquéticos… o dólar a trezentos…"

"O que é que você tem pra me oferecer? Contanto que não seja nenhuma dessas excentricidades brasílicas… um licor de jenipapo, por exemplo."

"Eu também gosto [do Brasil], acho lindo, uma beleza! Mas de longe! Só em cartão postal!"

"Essa terra não tem jeito! Esse povo não vai pra frente. As pessoas aqui não trabalham! Só se fala em crise nesse país. Um povo preguiçoso! Isso aqui é uma mistura de raças que não deu certo!"

"E o que é que não é um luxo no Brasil quando vem de fora? Eu é que não vou ver ópera nesse país não, nem pensar! Imagina! Eu estou acostumada com o Scala de Milão, o Metropolitan de Nova York. Vou me preparar toda, me produzir pra ir ao Municipal [Teatro Municipal do Rio] pra me sentar ao lado de um sujeito com jeans e um par de tênis! C'est un peu trop, quand même?! [É um pouco demais, não?!]"

"A única solução para a violência é a pena de morte. E para ladrão, para assaltante, cortar a mão em praça pública. Se cortasse a mão dessa gente, diminuiria o índice de violência nesse país. Não tenha a menor dúvida."

"Se eu encontrasse minha mãe vendendo sanduíche na praia, eu não viraria a cara para ela. Eu enterraria a cara inteira na areia! Minha mãe era uma jeca, mas não vendia sanduíche na praia."

"Essas pessoas, parece, que não viajam, que nao aprendem, não vão a Paris. Não vão nem a Buenos Aires!"

"Seria muita falta de sorte se morresse alguém assim mais 'gente' mesmo, um professor, um técnico. Mas devem ser só operários, estudantezinhos desdentados com um cérebro do tamanho de um caroço de feijão." (…)
"Essa gente não morre assim, não. O que é que você tá pensando? Tão acostumados a conviver com bactéria a vida inteira. Vivem dentro de bactérias. Tão mais do que imunizados!"

"E os homens! Mas como são feios os homens de sociedade! São maltratados, são desagradáveis!"

"Roma é a cidade eterna, mas eu continuo preferindo Paris. Aliás, Paris é minha pátria, assim como de todas as pessoas civilizadas."

"Falar de Nordeste antes da hora do jantar me faz perder o apetite."

"Você pode imaginar uma menina como essa, inteligente e sensível como a Maria de Fátima morando em uma cidadezinha de interior ao lado da mãe? No dia do aniversário apagando bolinho com velinha, com olhinho de sogra, cocadinha, docinho de leite, salgadinho enfeitado com florzinha de tomate?"

"Nosso jantar é muito simplesinho. O primeiro prato é de uma simplicidade franciscana. Temos uma lagostazinham."

"Chinelo, chinelo… Que palavra horrível, não? Chi-ne-lo! Português é uma língua tão chinfrim."

"O Brasil é um país de jecas. Ninguém aqui sabe usar talher de peixe."

"O lugar mais ao sul que uma pessoa civilizada pode ir é Milão."

Fátima: "Que bobagem nostalgia quando brasileiro está fora do Brasil!"
Odete: "Isto é banzo, minha filha! Coisa de índio e negro!"

"E você pensa que alguém aprende alguma coisa em universidade brasileira? Você quer se apresentar ao mercado de trabalho com um diploma assinado em tupi-guarani?"

"Sei que está cedo, mas quero ir logo para o aeroporto. Quando entro na sala vip, já me sinto em território neutro."

AQUI tem tudo sobre "Vale Tudo": trama, elenco, personagens, trilha sonora, curiosidades.
Fotos: Acervo/TV Globo.
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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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