Topo

Difícil defender Segundo Sol: é a pior das novelas de João Emanuel Carneiro

Nilson Xavier

17/08/2018 10h49

Vladimir Brichta e Giovanna Antonelli (foto: reprodução)

Quando lançada, "Segundo Sol" foi vendida com a trama principal sobre um cantor que simula sua morte e a família ganha em cima do ídolo morto. A novela chegou à metade, a história do cantor estagnou (faz tempo) e perdeu totalmente a força para a trama da "marishquera" que, acusada de um crime que não cometeu, fugiu e retorna para ver os filhos (para ver os filhos, não para provar sua inocência).

Houve o envolvimento de Beto Falcão e Luzia (Emílio Dantas e Giovanna Antonelli), mas o casal ficou pouco tempo junto. Nem deu para perceber química entre os dois, nem deu para o público torcer por eles, já que as vilãs Laureta e Karola (Adriana Esteves e Deborah Secco), que os separaram, tomaram conta dessa história com suas armações.

Neste imbróglio, o que sobrou foi uma trama central nada criativa e muito, muito inconsistente. Um ou outro evento movimenta essa história – como o tiro que Luzia levou ao tentar salvar a filha (que rendeu recorde de audiência para a novela). O flagrante de Beto em Luzia e Remy (Vladimir Brichta) – no capítulo desta quinta-feira, 16/08 – comprova a fragilidade de uma trama que tenta se equilibrar em clichês esgarçados e pouco criativos.

Nada fez sentido na sequência: Luzia aparecer do nada enrolada em uma toalha, a desculpa dela para a situação e Beto cogitar que a amada e seu irmão estivessem juntos. O público está acostumado a fazer concessões à verossimilhança: quando o autor explicita que abriu mão da verossimilhança e o espectador embarca em seu "voo". Vide o sucesso de "O Outro Lado do Paraíso". Teria "Segundo Sol" atingido este estágio?

Acredito que não. A história de Luzia é a que menos interessa. É uma trama central frágil com uma protagonista rasa. Assim como é raso Beto Falcão, o protagonista que foi sem nunca ter sido. "Segundo Sol" é a primeira novela de João Emanuel Carneiro embasada em uma trama central fraca, mas com histórias paralelas mais interessantes. O desenvolvimento de Rosa (Letícia Colin) e a relação de Nice (Kelzy Ecard) e o marido truculento Agenor (Roberto Bonfim) são mais atraentes que a trama de Luzia.

E assim, a novela vai se ancorando em momentos de catarse envolvendo, principalmente, as tramas paralelas. Como o desfecho do capítulo de quinta, no qual Roberval (Fabrício Boliveira) se apresenta como chefe de Edgar (Caco Ciocler) e exige que ele se separe de Cacau (Fabíula Nascimento). Com altos e baixos, todos os personagens do núcleo de Roberval e a família Athayde são mais interessantes que a trama da "marishquera".

Agora tome as novelas anteriores do autor: "Da Cor do Pecado", "Cobras e Lagartos", "A Favorita", "Avenida Brasil" e "A Regra do Jogo". Até a menos popular "A Regra do Jogo" era melhor – pelo menos havia uma trama central poderosa (apesar de tramas paralelas ruins, o oposto da atual). Tá difícil defender "Segundo Sol"!

Siga no Facebook – Twitter – Instagram

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

Blog do Nilson Xavier