Sutilmente, novela das 7 discute dívida histórica entre brancos e negros
Sabe o que "O Tempo Não Para" tem de melhor? Sim: a trama divertida e original (para uma novela), o elenco bem escalado, com ótimas interpretações, a direção, a produção e a trilha sonora. Mas, principalmente, o texto afiado do autor Mário Teixeira, repleto de crítica social, levada ao público de forma sutil, leve e divertida. É nas entrelinhas das falas dos personagens, à margem das tramas, que o autor pincela aqui e ali uma mordaz reflexão sobre a evolução (ou não) da sociedade.
Ao mesmo tempo em que Dom Sabino e sua trupe se encantam com o chuveiro ("uma traquitana que cospe água quente à vontade, como se fosse uma cascata!") e o vaso sanitário ("ao toque de um botão, ele livra-se de todas as imundícies!"), também se deparam com as mesmas distâncias sociais do século 19, só que, logicamente, agora em um novo contexto.
O capítulo dessa terça-feira (21/08) exibiu o reencontro da família de Dom Sabino com dois de seus escravos, que também descongelaram: Menelau (David Júnior) e Cesária (Olívia Araújo). Ao insistir nos gestos servis, eles foram avisados de que agora são libertos e que devem ser tratados como iguais por todos. Dom Sabino e Marocas (Edson Celulari e Juliana Paiva) contaram de brancos que vivem com negros em favelas, de negros que comandam brancos e de mulheres negras que comandam homens brancos. E tudo de forma divertida: "Sabe culpa de quem?", disse Dona Agustina (Rosi Campos), "Da televisão!".
Entretanto, Dom Sabino fez refletir sobre a condição do negro na atualidade: "Ninguém pensou no destino dos libertos. Tudo mudou para continuar a mesma coisa!". Ele referia-se ao amigo Eliseu (Milton Gonçalves), que puxa uma carroça de lixo reciclável para sobreviver: "Nunca um escravo meu cumpriu um papel tão indigno!". Por meio da simplicidade dos personagens admirados com esse novo tempo, o texto faz refletir sobre desigualdades sociais que, sedimentadas pelo status quo, mal percebemos no dia a dia.
Não se trata de um mero merchandising social impositivo. Com sutileza, sem pieguice ou didatismo, a novela exemplifica claramente a responsabilidade contemporânea com a história do negro no Brasil. E mais importante: sem usar a expressão "dívida histórica" (ou moral) no texto. A questão levantada entra naturalmente na trama e permanece nas entrelinhas. Para bom entendedor, meia palavra basta.
"O Tempo Não Para" tem um texto provocativo, colocado de forma hábil e inteligente, sem menosprezar ou subestimar o público. E melhor: sem pirotecnia ou artifícios mirabolantes e rocambolescos para conquistar audiência – como muitas das novelas atuais.
AQUI tem tudo sobre "O Tempo Não Para": trama, elenco, personagens, trilha sonora, curiosidades.
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