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Novela "Jesus" merecia um ator à altura do carisma do personagem

Nilson Xavier

16/10/2018 20h58

Dudu Azevedo (foto: divulgação Record TV)

A Record TV teve dificuldade em achar um ator para viver o protagonista de sua novela "Jesus". A emissora optou por fugir do rosto clássico do Messias perpetuado no imaginário popular: de longos cabelos castanhos claros e olhos azuis. Sendo assim, entre os atores que protagonizaram novelas bíblicas, ficaram de fora Igor Rickli e Sidney Sampaio – mesmo porque, eles estavam em "Apocalipse", a novela anterior.

A emissora também evitou arriscar com o lançamento de um nome novo, não conhecido. E ainda a escalação obvia de Guilherme Winter, marcado como o Moisés de "Os Dez Mandamentos" (Winter entrou como o traidor Judas Iscariotes). A escolha caiu sobre Dudu Azevedo, egresso de "O Rico e Lázaro", na qual viveu Asher, um dos protagonistas.

Na coletiva de imprensa, o diretor geral Edgard Miranda afirmou que Jesus seria "um personagem muito realista, pé no chão". De fato, o texto da novela o põe como tal. Nas cenas com vários personagens, Jesus-Dudu chega de mansinho, quase sem ser notado. É muito válido fugir do lugar comum e optar por um Messias moreno, de cabelos mais curtos e sem a aura santificada que o envolve. Humaniza, leva o personagem para próximo do espectador.

Dudu Azevedo (foto: divulgação Record TV)

Nem tanto ao céu, nem tanto à terra

No lançamento da novela, ouvi alguém referir-se jocosamente a Dudu Azevedo como "Jesus Manero", por o ator, carioca, ter pinta de surfista e ser baterista da banda Redtrip. Mas não há motivo que justifique a pilhéria. Jesus-Dudu é contido. Bem contido. Beira a apatia.

O ator vai ao outro extremo para interpretar o personagem. Dudu Azevedo exagera no olhar de contemplação, no "olhar de paisagem". Jesus-Dudu é tão na dele que acaba lhe faltando o principal: o carisma que fez do Messias um líder persuasivo com seguidores apaixonados. Direção e ator não conseguiram encontrar o meio termo entre o "Rei dos reis" e o Jesus-Dudu.

Analisando friamente, e desconsiderando o que já conhecemos da Bíblia, fica mesmo difícil embarcar nas palavras do Jesus da novela. Um dos personagens mais conhecidos da história da humanidade merecia um ator à altura de seu poder de encantamento. Não admira condenarem Jesus-Dudu à cruz. Difícil mesmo defender.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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