Malu Mulher votaria em Bolsonaro?
A Namoradinha do Brasil está em uma relação séria com Jair Bolsonaro. Em entrevista a Ubiratan Brasil para o Estadão, publicada nesta sexta-feira (26/10), Regina Duarte explica o seu apoio ao candidato do PSL à presidência da República. "Quando conheci Bolsonaro encontrei um cara doce, um homem dos anos 1950, (…) um jeito masculino…", disse a atriz. E ela narra a sua visão sobre os rompantes machistas, racistas e homofóbicos do candidato, tão alardeados pela mídia: "São imagens montadas, pois mostram a reação dele, mas não a de quem provocou a reação. É unilateral."
"Um cara doce, um homem dos anos 50, um jeito masculino, machão". Impossível não lembrar de "Malu Mulher", seriado que Regina protagonizou no final dos anos 1970 – em plena ditadura – e que se tornou um marco da televisão por seu teor progressista. Malu era uma mulher de ideias liberais, que se separava do marido machista, rompia com os pais castradores e ia à luta pelos seus direitos, de mãe, cidadã, mulher. O programa fez sucesso por abordar de forma corajosa e inédita em nossa TV questões muito delicadas para uma época em que o país vivia sob o jugo da ditadura militar – feminismo, sexo, orgasmo, aborto, virgindade, métodos anticoncepcionais, gravidez indesejada, violência doméstica, etc.
Veio à lembrança uma das cenas mais marcantes, do primeiro episódio, em que Malu leva uma bofetada do marido truculento.
O episódio de estreia, "Acabou-se O Que Era Doce", abordava o processo de separação de Malu e Pedro Henrique (Dennis Carvalho), definia os personagens e dava início a uma mudança radical em suas vidas. Para isso, o telespectador acompanhou de perto as discussões de Malu e o marido, as brigas mais violentas, a insegurança da filha e a evidente desarmonia do lar, além da interferência dos familiares e do processo de divórcio e separação de bens.
Com o seriado "Malu Mulher", Regina Duarte tentava quebrar o estigma de "Namoradinha do Brasil", que a perseguia por causa de seus papeis de mocinha romântica em novelas. Um processo que teve seu ápice quando a atriz viveu a Viúva Porcina em "Roque Santeiro", entre 1985 e 1986.
No Brasil, "Malu Mulher" foi exibido em horário nobre entre 1979 e 1980. Vendido para mais de 50 países, o seriado recebeu o Prêmio Ondas 79 concedido pela Sociedade Espanhola de Radiodifusão e pela Rádio Barcelona, e o prêmio Íris 80, da Associação Americana de Programadores de Televisão. No Brasil, "Malu Mulher" foi eleita pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) a melhor série de TV de 1979. Regina Duarte levou o prêmio de melhor atriz por dois anos seguidos, 1979 e 1980.
A socióloga Ruth Cardoso (1930-2008), ex-primeira-dama do Brasil, então amiga de Regina, participou de uma reunião de criação do seriado. Chegou-se ao consenso de que Malu seria socióloga. Por indicação de Dona Ruth, a equipe de pesquisa foi para a Unicamp, em Campinas, que na época era o polo em sociologia no Brasil.
O atrito com a censura do Governo Federal foi inevitável. O diretor e idealizador do projeto, Daniel Filho, comentou em seu livro "O Circo Eletrônico":
"O programa começou a ter problemas com a censura. (…) Lembro, por exemplo, das várias discussões a respeito de um texto de Manoel Carlos, "Até Sangrar", onde ele falava da perda da virgindade. Perguntavam a Malu se doía, e ela respondia: 'Dói, mas só até sangrar.' Isso era repetido umas três vezes ao longo do programa, mas aplicado a situações diferentes. Perguntavam se era difícil separar, e ela respondia: 'Dói, mas só até sangrar'. Fui chamado pela direção da Globo, que já começava a sofrer pressões. A pressão em cima de mim, enquanto isso, foi ficando cada vez mais forte."
Regina tenta minimizar as falas de Bolsonaro, justificando que ele é um homem com a cabeça dos anos 50 – um machão dos anos 50. Questiono se Malu, que tanto lutou pela libertação da mulher do jugo machista e patriarcal, também defenderia e votaria em Bolsonaro em 2018 – como sua intérprete.
AQUI tem tudo sobre "Malu Mulher": trama, elenco, personagens e mais curiosidades.
AQUI sobre a entrevista de Regina Duarte para o Estadão.
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