Mais que cinebiografia, Bohemian Rhapsody é um tributo a Mercury e sua arte
Assisti ao filme "Bohemian Rhapsody" e confesso que saí do cinema extasiado. Como toda análise eufórica tende a criar em quem lê uma expectativa exagerada, vou tentar segurar minha onda. Mas não seria demais dizer que o filme de Bryan Singer vai muito além da cinebiografia (parcial e limitada, diga-se de passagem) de Freddie Mercury. Trata-se de um grande tributo ao astro e à sua arte.
Eu era criança, lá nos anos 70, quando o Queen despontou e consagrou-se como uma das maiores bandas de rock de todos os tempos. Tomei conhecimento do quarteto nos anos 80, já na fase dos sintetizadores, das críticas e dos maiores desentendimentos entre os integrantes. Porém, as músicas – atemporais – são reconhecidas por todas as gerações posteriores.
Não se iluda: a narrativa é convencional e linear, com boas doses de melodrama (a relação de Mercury com a família, com a namorada Mary Austin, a descoberta de que era portador de Aids, etc). Mas é com base nessa narrativa que o filme prepara o público para a catarse final: a apresentação apoteótica do Queen no show Live Aid, no estádio de Wembley, em Londres, em 1985. O filme já abre com esse prenúncio, aliás. E, ao terminar aí, deixa de fora detalhes sobre os últimos anos da banda e da vida do cantor (falecido em 1991).
A interpretação de Rami Malek (da série "Mr. Robot") como Freddie Mercury é exuberante, para dizer o mínimo. O ator reproduziu com precisão a personalidade do astro, que mesclava timidez e euforia, os trejeitos, os gestos no palco, o andar altivo e o queixo erguido que ressalta os dentes protuberantes. Aliás, uma crítica: achei bem exagerada a prótese que o ator usa no filme. Na vida real, Mercury até que disfarçava bem, com o bigode e sempre fotografando de boca fechada. Eu mesmo, só depois de muito tempo fui perceber que Mercury era dentuço!
Rami Malek brilha e os três atores que vivem os companheiros no Queen também são ótimos: Ben Hardy como Roger Taylor, Gwilym Lee como Brian May e Joseph Mazzello como John Deacon. A favor da narrativa, a ordem cronológica não é lá muito respeitada – como o show no Rio com o coro de "Love of My Life", que não aconteceu nos anos 70 como no filme. A homossexualidade de Mercury, seus excessos e sua doença são pouco detalhados – as festas regadas a sexo e drogas, por exemplo, são apenas pinceladas. A cinebiografia é parcial porque é limitada cronologicamente e porque tem um quê de chapa branca.
Ainda assim, funciona muito bem na telona. O desenvolvimento da trama e dos personagens converge para o clímax. Mas o efeito não seria o mesmo não fossem as músicas do Queen. Elas dão tom à carga dramática proposta. E o público sai satisfeito: quase todos os grandes sucessos da banda são ouvidos em "Bohemian Rhapsody". Reproduzido na tela, o show do Live Aid promove uma verdadeira experiência sensorial. Por mais que saibamos que os efeitos especiais fizeram a cena, a música do Queen transcende tudo.
Apropriando-se da música, "Bohemian Rhapsody" emociona. Graças ao legado do Queen.
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