Realismo fantástico? Terror pesado marcou a estreia de "O 7º Guardião"
Nilson Xavier
12/11/2018 23h30
A promessa de realismo fantástico na estreia da novela "O Sétimo Guardião" (nesta segunda, 12/11) foi atingida a contento. Os tipos pitorescos da fictícia cidade de Serro Azul são velhos conhecidos nossos, de novelas anteriores, com novos nomes em corpos de novos atores. O seguimento da ação introduziu a história, os personagens principais e drops de perfis de vários outros.
Porém, o autor Aguinaldo Silva deu a entender que essa fuga da realidade seria mais leve que a dureza do dia a dia. Não foi bem o que se viu no primeiro capítulo de sua novela. O foco no suspense remeteu a séries de terror como "Stranger Things", "American Horror Story" e "O Mundo Sombrio de Sabrina". A estética, a fotografia, as tomadas, a edição, a sonoplastia e a trilha sonora lembraram o terror conhecido tanto pelos aficionados por Netflix e HBO quanto por clássicos do cinema de suspense.
No primeiro bloco do capítulo, o roteiro tentou manter-se no folhetim, com o casamento desfeito, a noiva chorosa, o pai inconformado (Tony Ramos, quem mais se destacou), a vilã interesseira. Entre uma cena e outra, o gato Leon. Mas em um tom exageradamente soturno. Da metade para o final, a narrativa descambou para o terror explícito, com o abuso de todos os recursos e clichês possíveis, em luz, sonoplastia e caracterização. A direção firme de Rogério Gomes e sua equipe foi pouco sutil e não nos poupou de sangue e sustos.
Achei uma ousadia e tanto! Praticamente uma novela de horror. De olho no público que troca os "dramalhões" por séries, a Globo cada vez mais incorpora características das produções do streaming em suas novelas. Mas a recíproca também acontece, haja vista o tanto de série folhetinesca na Netflix com clichês dignos das melhores (e piores) novelas.
Por outro lado, ao que tudo indica, os guardiães que protegem a fonte milagrosa de Serro Azul – tipos que pendem para a caricatura – não devem meter medo em ninguém. Aposto que esse terror todo não passa de exibicionismo de primeiro capítulo.
PS: Bonita a homenagem a falecidos diretores que marcaram a história da televisão: numa sala, a fileira de retratos de guardiães-mor com rostos de Carlos Manga, Herval Rossano, Gonzaga Blota, Roberto Talma e Roberto Farias (morto em maio). Eles aparecem também na ótima abertura.
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Sobre o autor
Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.
Sobre o blog
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.