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"O 7º Guardião" não cria, apenas cita realismo fantástico de outras novelas

Nilson Xavier

07/12/2018 11h27

Nany People enfaixada (foto: reprodução)

Muito se prometeu sobre "O Sétimo Guardião" antes de sua estreia. Mas convenhamos que, passado quase um mês, pouco foi cumprido. A começar pela vilã Valentina Marsala, que, de acordo com a atriz Lília Cabral seria A VILÃ. Ainda não aconteceu, como escrevi em meu último texto sobre a novela.

O realismo fantástico – grande material promocional – também não tem cumprido o esperado. Estão lá a fonte da juventude, a mulher que surgiu num redemoinho e o gato León, que tudo sabe e tudo vê. Mas só – pelo menos por enquanto. Não há um grande mistério para o público, como a Mulher de Branco ou o Cadeirudo. Ninguém vira lobisomem ou é atraído pela lua, nenhum personagem caiu num buraco e foi parar no Japão, flores comestíveis não trazem mortos de volta e as pessoas não viram ouro, pedra ou pó. Estas são referências de surrealismo na obra de Aguinaldo Silva.

Logicamente o autor não deveria repetir o que foi feito antes. Porém, há em "O Sétimo Guardião" mais realismo fantástico citado do que original, em tramas, personagens e bordões de produções do passado. O autor até refez um merchan de calcinha criado há 33 anos para "Roque Santeiro". A sensação de déjà vu é maior com a presença de Ipiranga Pitiguari (Paulo Betti) de "A Indomada", que só faz referenciar os moradores de Greenville – só num diálogo dessa quinta-feira, 06/12, foram citados Altiva e Pitágoras.

O gato León (foto: reprodução)

Apesar de uma sequência ou outra usando o recurso, "O Sétimo Guardião" pouco apresentou de realismo fantástico original até agora. Vemos tramas de folhetim em uma cidadezinha pitoresca repleta de personagens curiosos. Sobre os mistérios, o público sabe de tudo, enquanto os personagens não. Apenas pairam no ar dúvidas sobre o passado da mocinha Luz (Marina Ruy Barbosa) e a expectativa de que o gato León tome forma humana (no corpo de Eduardo Moscovis).

O maior clima de mistério é atribuído pela direção (artística de Rogério Gomes), que impinge ao texto de Aguinaldo um ar soturno (diferente da estética das novelas dos anos 1990, mas compatível com a TV que se faz hoje). Há uma sensação de desproporção entre o texto e a direção – como se o texto não desse conta do que a direção propõe, ou a direção fosse além do que o texto alcança. Ou: é muita direção para pouco texto.

Não é uma crítica, mas uma percepção pessoal. Como ainda é cedo, acredito que futuramente tudo possa se encaixar melhor. Os moradores de Serro Azul têm potencial para o surrealismo. Porém, pelo menos até o momento, o que se vê em "O Sétimo Guardião" é um festival de citações e referências a obras anteriores. Aguinaldo se autorreverenciando.

Leia também: "A vilã que Lília Cabral tanto prometeu ainda não aconteceu";
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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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