Retrospectiva 2018: séries abrem caminho para novo cenário na TV brasileira
O biscoito fino da TV brasileira em 2018
Na medida em que as novelas pouco se destacaram no ano de 2018, as séries nacionais trilharam o caminho inverso. Não é exagero afirmar que nunca antes produções brasileiras atingiram patamar tão relevante. E com objetivo claro: cativar mais o público que nos últimos anos tem trocado a TV aberta (com sua grade engessada e programação tradicional de novelas) pelos serviços de streaming e video on demand (principalmente Netflix, com seu vasto cardápio de filmes, séries e documentários).
Posto isso, 2018 foi importantíssimo para a Globo e há uma promessa de grande incremento para 2019 (por meio de sua plataforma Globoplay). A emissora não tem poupado esforços e inovou em seus lançamentos. Fez apresentações especiais de três novos títulos – a internacional "The Good Doctor" e as brasileiras "Assédio" e "Ilha de Ferro" – com primeiro episódio exibido na "Tela Quente" como drops e como chamariz para a Globoplay. Também lançou exclusivamente no Now (da Net) a ótima série (ou minissérie) "Se Eu Fechar os Olhos Agora".
Enquanto as demais emissoras da TV aberta pouco ou nada fazem (apenas a Record TV se movimenta, ainda que timidamente, com sua plataforma PlayPlus), a Globo sai na frente com larga vantagem, fazendo bom uso de seu poderio técnico, artístico e financeiro. Poucas produtoras independentes (que oferecem parcerias para a Netflix Brasil, HBO Brasil e mais canais a cabo não-Grupo Globo) conseguem juntar tamanho aparato humano e técnico para a realização de produtos nacionais. Muitas, inclusive, se unem à Globo.
Abaixo, 6 séries da Globo (em parcerias ou não) lançadas em 2018, que abrem caminho para um novo cenário na TV brasileira:
"Onde Nascem os Fortes": supersérie de Sérgio Goldenberg e George Moura, com direção artística de José Luiz Villamarim e um elenco afiado, com grandes interpretações de Patrícia Pillar, Alexandre Nero, Fábio Assunção, Alice Wegman, Jesuíta Barbosa, Débora Bloch, Enrique Diaz, Irandhir Santos e tantos outros. Com reviravoltas, ótimos ganchos costurando os episódios, poucos núcleos, ambientes e personagens em uma trama condensada, a supersérie não deixou nada a desejar – em narrativa ou produção – às melhores séries estrangeiras. Ainda que calcada no folhetim, afastou-se da novela, como gênero, e se aproximou da série, como narrativa.
"Sob Pressão": de Jorge Furtado, coprodução Globo e Conspiração, escrita por Lucas Paraizo, André Sirangelo, Antônio Prata e Marcio Alemão, direção de Mini Kerti e Andrucha Waddington. A segunda temporada reforçou o potencial do texto, direção, produção e atuação do elenco. O roteiro fez um contraponto entre os momentos de dor e a dedicação de profissionais médicos com a corrupção na saúde pública. Marjorie Estiano e Júlio Andrade em grandes interpretações e Fernanda Torres como você nunca viu antes na TV.
"Carcereiros": coprodução Globo, Gullane Filmes e Spray Filmes, baseada no livro de Dráuzio Varella, com roteiro de Fernando Bonassi, Marçal Aquino e Denisson Ramalho e direção artística de José Eduardo Belmonte. Foi lançada antes, no Globoplay e na TV a cabo (no canal Mais Globosat). Premiada no MIPDrama Screenings, evento que abriu o MIPTV, em Cannes, uma das principais feiras do mercado de televisão do mundo. Ficção e realidade se mesclam em meio a imagens reais de arquivo e depoimentos de agentes penitenciários de verdade, aposentados ou na ativa. Destaque para a interpretação de Rodrigo Lombardi, como Adriano, o carcereiro protagonista.
"Assédio": uma espécie de "Brazilian Crime Story". Sobre a trajetória do hoje ex-médico Roger Abdelmassih, especialista em reprodução humana condenado pelo estupro de várias pacientes, na maioria das vezes quando elas estavam sedadas. Com direção artística de Amora Mautner, roteiro de Maria Camargo, a narrativa transcorre, em 10 capítulos, sem ordem cronológica, vinte anos (entre 1994 e 2014) da carreira de Roger (Antônio Calloni) – com outro sobrenome, Sadala -, da ascensão à derrocada profissional, causada pelo escândalo. Grandes interpretações de Calloni, Adriana Esteves (como uma das vítimas) e Mariana Lima (como a mulher de Roger).
"Ilha de Ferro": série criada por Max Mallmann, escrita por ele e Adriana Lunardi, com direção de Roberta Richard e Guga Sander e direção artística e geral de Afonso Poyart. Superprodução com alguns episódios eletrizantes, dignos das melhores produções de ação do cinema americano. Como série pretensamente dramática, "Ilha de Ferro" termina em um excelente filme ação (explico AQUI). Merece destaque o trabalho de Sophie Charlotte que, despida de qualquer vaidade, tem aqui o seu melhor desempenho na televisão. Pena que a atriz não continua na temporada seguinte.
"Se Eu Fechar os Olhos Agora": série dramática e policial escrita por Ricardo Linhares a partir do romance de Edney Silvestre, com direção artística de Carlos Manga Jr. No elenco, os destaques são Antônio Fagundes, Mariana Ximenes e os garotos João Gabriel D'Aleluia e Xande Valois, como os meninos que investigam um assassinato em uma bucólica cidadezinha no início da década de 1960. A repressão sexual, a hipocrisia da sociedade da época e jogos políticos e sociais são retratados por meio da belíssima fotografia, que emula um clima noir sobre a produção.
Leia também:
"Retrospectiva 2018: o ano em que as novelas prometeram e não cumpriram";
"Onde Nascem os Fortes é um ótimo exemplo da mistura de série e novela";
"Onde Nascem os Fortes não deixa nada a desejar às séries da Netflix";
"Sob Pressão encerra a 2ª temporada como um dos melhores produtos da TV";
"Carcereiros dosa texto, psicologia e tensão como pouco se viu na TV";
"O que a série Assédio tem em comum com o movimento #EleNão";
"Cansativa, Ilha de Ferro teria sido um excelente filme de ação".
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