Topo

YouTube e fofoca mataram o "Vídeo Show"

Nilson Xavier

11/01/2019 15h11

Joaquim Lopes e Sophia Abrahão (foto: reprodução)

Lembro quando o "Vídeo Show" estreou, lá em 1983, tendo Tássia Camargo como apresentadora. Passava aos domingos à tarde. Basicamente um programa sobre o universo pop, sua ideia já era explorar bastidores e memória da TV. O tempo foi passando e o "Vídeo Show" foi mudando de cara e apresentadores, várias vezes. Até a década de 1990, conseguiu manter intacta a sua essência: bastidores e memória. Aí veio a Internet. Aí a Internet se popularizou. Aí veio o YouTube (anos 2000), depois o Instagram (anos 2010).

O quadro "Falha Nossa" é um clássico. Até hoje é bacana ver os erros de gravação, mesmo aqueles repetidos à exaustão: a barata que sobe o vestido de Betty Lago; Bruno de Lucca tentando segurar um bicho (um gambá?); a charrete, com Natália do Valle, que quase capota; Marcos Frota e Christine Nazareth num tombo homérico no Play Center; Malu Mader gargalhando na cena do elevador em que os atores precisam dar um pulinho para simular movimento; e tantos outros. Quer rever? Hoje não precisa mais do "Vídeo Show". Tem tudo no YouTube, na internet.

Há mais de dois anos, escrevi sobre a boa iniciativa do programa em resgatar imagens de arquivo ainda não disponíveis por aí. "Até a década de 1990, eram garantia de audiência pelo poder de despertar a memória afetiva do público. Haja vista o quadro "Túnel do Tempo", um dos mais longevos (a voz de Cissa Guimarães ecoa no inconsciente coletivo: "direto… do túnel… do tempo!"). A partir de meados dos anos 2000, muito da memória da TV brasileira já estava disponível no Youtube, o que a fez perder espaço e relevância dentro do "Vídeo Show". A própria Globo tem canal no Youtube e já disponibiliza imagens de arquivo pela internet." (leia AQUI a matéria completa).

4 fases do Vídeo Show: Tássia Camargo, Marcelo Tas, Miguel Falabella e André Marques (foto: reprodução)

Lembro que até os anos 1990, início dos 2000, os saudosistas se estapeavam por uma VHS (depois DVD) com capítulo de alguma novela antiga. Eu mesmo, já tive amizades abaladas por causa disso! O "Vídeo Show" era a única oportunidade de matar a saudade de uma ceninha de 3 minutos de um programa qualquer das décadas de 1970 ou 1980. Foi com a digitalização dos acervos no YouTube (por meio de anônimos ou da própria Globo), que o "Vídeo Show" começou a perder para a Internet.

Hoje, quem se importa com bastidores floreados de TV e famosos? Enquanto a concorrência traz um conteúdo mais atraente ao grande público, com sabor de veneno ("A Hora da Venenosa" e "Fofocalizando"), os próprios artistas já expõe suas vidas, seus bastidores, nas redes sociais, em stories do Instagram por exemplo ("Vídeo Show" perdendo para a internet de novo).

A TV Globo é o maior teto de vidro de mídia brasileira, na medida em que atrai atenção de todos, de onde tudo repercute e, portanto, fácil para quem está de fora jogar pedra. Não faz sentido jogar pedra em si mesma, nem na concorrência. Por isso creio que o "Vídeo Show" nunca se igualaria ao "Fofocalizando" ou à "A Hora da Venenosa".

O fato é que o "Vídeo Show", de pouco mais de dez anos para cá, foi cada vez mais perdendo graça e identidade e deixando de ter relevância. Os quadros saudosistas já não atraíam mais e os bastidores perderam para a fofoca. O desafio agora é trazer algo novo, com sabor da novidade. No caso, um novo programa, com poder de fogo maior que a concorrência. Como o "Vídeo Show" já foi um dia.

PS: Sabe um tipo de programa que, eu acho, substituiria bem o "Vídeo Show"? Algo nos moldes do antigo "Furo MTV", com Dani Calabresa e Bento Ribeiro. Paródias e piadas das notícias quentes do dia. #dicona

Leia também: "Imagens inéditas de acervo são um bom diferencial do Vídeo Show".

Siga no Facebook – Twitter – Instagram

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

Blog do Nilson Xavier