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Há 15 anos, Globo lançou 1ª protagonista negra em novela e quase nada mudou

Nilson Xavier

26/01/2019 07h00

"Da Cor do Pecado", 2004 (foto: Acervo/TV Globo)

Mais e mais a sociedade cobra a presença de negros em novelas, que ainda é escassa. É incrível que, depois de 15 anos da primeira protagonista negra na Globo, o assunto tenha estacionado, já que, de lá para cá, pouquíssimas novelas centraram suas tramas principais em personagens negros.

Há exatos 15 anos, estreou "Da Cor do Pecado", novela de João Emanuel Carneiro, com Taís Araújo no papel de Preta. A atriz já havia protagonizado antes, mas fora da Globo: na novela "Xica da Silva", na TV Manchete, em 1996-1997.

De "Da Cor do Pecado" para cá, foram ao ar quase 150 novelas pela Globo, SBT e Record, das quais apenas 13 tiveram papeis principais com atores negros: "Cobras e Lagartos", "Viver a Vida", "Cama de Gato", "Rebelde", "Cheias de Charme", "Carrossel", "Lado a Lado", "Geração Brasil", "Babilônia", "Velho Chico", "Malhação, Pro Dia Nascer Feliz", "Escrava-Mãe" e "Malhação, Viva a Diferença". (*)

Camila Pitanga e Lázaro Ramos em "Lado a Lado" (Foto: Acervo/TV Globo)

"Da Cor do Pecado" foi também a primeira novela da Globo com um romance inter-racial como tema principal: o amor entre Preta (Taís Araújo) e Paco (Reynaldo Gianecchini), ela, uma moça negra e pobre criada no Maranhão, e ele, um rapaz branco, rico, criado no Rio de Janeiro.

A intenção do autor não era levantar polêmicas e discussões sobre o preconceito social e racial no país. João Emanuel Carneiro afirmou na época da estreia da novela: "Não estou fazendo uma coisa sociológica. Estou contando a história de dois personagens. Não é o meu objetivo criar polêmica."
Para a diretora-geral Denise Saraceni, o tema da novela não era o racismo: "A ênfase da novela está no relacionamento humano e em suas consequências. Mas, como a protagonista é negra, inevitavelmente ela passará por situações desagradáveis, refletindo o que acontece na nossa sociedade."

Sobre protagonismo, vale destacar Ruth de Souza na novela "A Cabana do Pai Tomás", que a Globo exibiu entre 1969 e 1970. Apesar de mulher do protagonista Pai Tomás, Cloé, personagem de Ruth, não pode ser considerada protagonista da história. O branco Sérgio Cardoso (acusado de blackface pelo papel de Pai Tomás), era o protagonista absoluto da novela.

"A Cabana do Pai Tomás" | "Carrossel" | "Escrava-Mãe" (Foto: divulgação)

Em 1965, a TV Tupi levou ao ar a primeira novela da TV brasileira com um romance inter-racial como trama principal: "A Cor da Sua Pele", estrelada pelo branco Leonardo Villar e pela negra Yolanda Braga.

Além de Taís Araújo (que depois protagonizou as novelas "Viver a Vida", "Cheias de Charme" e "Geração Brasil"), também Camila Pitanga viveu papéis centrais (em "Cama de Gato", "Lado a Lado", "Babilônia" e "Velho Chico"), e Lázaro Ramos (em "Cobras e Lagartos" e "Lado a Lado"). Fora da Globo, Micael Borges em "Rebelde" e Gabriela Moreyra em "Escrava-Mãe", da Record TV, e o então garoto Jean Paulo Campos, em "Carrossel", do SBT. Ainda: na "Malhação", Aline Dias na temporada de 2016-2017, e Heslaine Vieira, em 2017-2018.

Percebe que a maioria das novelas são com Taís, Camila e Lázaro… "Aparentemente, há apenas 3 atores negros no Brasil gabaritados para serem protagonistas", salientou a amiga Bárbara Sacchitiello.

No ano passado, a Globo perdeu uma grande oportunidade (e foi criticada, com razão, por isso) de dar a um negro um dos papeis centrais da novela "Segundo Sol", também de João Emanuel Carneiro, cuja trama se passava em Salvador. No elenco havia Fabrício Boliveira, como Roberval, mas o personagem nem era da trama central da novela.

Foto: Acervo/TV Globo.

Da Cor do Pecado

Era a estreia de João Emanuel Carneiro como titular na autoria de novelas. "Da Cor do Pecado" foi um sucesso, batendo recordes de audiência. A arrancada aconteceu no capítulo 27, quando entraram em cena os personagens infantis Raí (Sérgio Malheiros) e Otávio (Felipe Latgé), de grande apelo popular.

Uma arma do autor para cativar o público foi a comédia, principalmente por meio da família Sardinha, composta de uma mãe hiperprotetora, com métodos pouco ortodoxos de educação, e seus cinco filhos versados em artes marciais. Rosi Campos ficou para sempre marcada pelo papel de Edilásia – a Mamushka, como era carinhosamente chamada pela prole.

A trama central de "Da Cor do Pecado" remetia a duas outras novelas. Os gêmeos separados, um criado pela mãe e outro pelo pai, sem que um soubesse da existência do outro, lembra o mote central da novela "Baila Comigo" (de 1981, atualmente reprisada pelo canal Viva). Já os idênticos, em que um toma o lugar do outro após um acidente, remete à novela "O Outro" (1987).

A Família Sardinha (Foto: Acervo/TV Globo)

Em 2009, "Da Cor do Pecado" se tornou a novela brasileira mais exportada, com cem países como clientes. O ranking era liderado por "Terra Nostra" (de 1999-2000), seguida de "O Clone" (de 2001-2002) e a versão original de "Escrava Isaura" (de 1976-1977). Em 2013, foi a vez de "Avenida Brasil" (de 2012, do mesmo autor, João Emanuel Carneiro) ultrapassar essa marca.

AQUI tem tudo sobre "Da Cor do Pecado": trama, elenco, personagens, curiosidades, trilha sonora.

(*) Em "Insensato Coração", Lázaro Ramos e Camila Pitanga (de novo eles!) estavam em papeis importantes, mas a novela tinha apenas uma protagonista absoluta, Norma (Glória Pires), e seu antagonista, Léo (Gabriel Braga Nunes).
Micael Borges foi um dos protagonistas da temporada 2009 da "Malhação". Porém, além de o programa ainda não ser considerado novela na época, o personagem de Micael acabou minguando na trama.
Inclui o Cirilo de "Carrossel", mas ainda acho que a Professora Helena era a protagonista absoluta da novela. Aí foram me cobrar a Pata (Julia Olliver) de "Chiquititas"…  ¯\_(ツ)_/¯

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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