"Verão 90" atira para todos os lados na intenção de cativar pela nostalgia
Nilson Xavier
29/01/2019 21h12
Inserções de imagens da TV dos anos 1980, trilha sonora nostálgica, estética com referência à MTV e ritmo clipado e alucinado marcaram a estreia de "Verão 90", a nova novela das sete da Globo, nesta terça-feira, 29/01. Escrita por Izabel de Oliveira e Paula Amaral, com direção artística de Jorge Fernando, a trama começou em meados da década de 80, mostrando os antecedentes dos personagens Manuzita, João e Jerônimo, de quando formaram o grupo infantil A Patotinha Mágica.
A intenção de contar a história dos principais personagens (também as mães vividas por Cláudia Raia e Dira Paes) foi cumprida a contento, mesmo com a explosão na tela de todas as referências possíveis e imagináveis à época retratada. Pareceu um canhão de nostalgia atirando para todo lado. Apesar do exagero, não chegou a incomodar e serviu para ratificar a proposta da produção em mexer com o imaginário e a memória afetiva do público.
A abertura é 10, alucinada dentro do exibido no primeiro capítulo. Cláudia Raia e Dira Paes, ótimas, já deram o tom de suas personagens: a mãe perua, sem noção e meio irresponsável em contraponto com a mãe-coragem batalhadora e exigente. Entre as referências, algumas boas sacadas, como as cenas de novelas antigas de sucesso, o resgate do "Cassino do Chacrinha", e a participação do veterano diretor Ary Coslov.
Enxerguei uma alusão/homenagem ao diretor Roberto Talma na presença do ator Gláucio Gomes – o que assistia ao vídeo da gravação de "Tieta" em que Manuzita/Isabelle Drummond fez figuração (se bem que Talma não dirigiu "Tieta").
Um detalhe legal e interessante: pela primeira vez em aberturas de novelas da Globo, são creditados os responsáveis por fotografia, cenografia, produção de arte, figurino, casting e produção.
Espera-se entretanto que a novíssima geração se apegue à história, já que as referências de 30 anos atrás pouco mexem com quem tem 10/15 anos de idade hoje. Sequer as crianças têm a obrigação de entender a fala da personagem ao orelhão avisando Manuzita que ela precisa ser rápida porque só lhe resta uma ficha.
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Sobre o autor
Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.
Sobre o blog
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.