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Sétimo Guardião tem bastidores mais atraentes que a própria trama da novela

Nilson Xavier

01/03/2019 07h00

Bruno Gagliasso, Marina Ruy Barbosa e José Loreto (foto: divulgação/TV Globo)

Por essa Aguinaldo Silva não esperava: que o público fosse torcer o nariz para sua trama de realismo fantástico e preferir a realidade que os bastidores de "O Sétimo Guardião" suscitam. Desde antes da estreia, a trama real da novela já chamava mais a atenção do público do que a fictícia: no final de 2017, quando foi noticiada a aprovação de "O Sétimo Guardião" para a grade de 2018, o roteirista Silvio Cerceau, ex-aluno da oficina ministrada por Aguinaldo em 2015, reivindicou a coautoria da novela, já que a sinopse de "O Sétimo Guardião" havia sido desenvolvida coletivamente.

Cerceau se negou a aceitar a devolução da taxa de inscrição paga pelo curso em troca da assinatura de um novo contrato em que cederia gratuita, total, irrevogável e exclusivamente os diretos sobre a sinopse de "O Sétimo Guardião". O caso foi parar na Justiça. Do outro lado, Aguinaldo Silva moveu um processo contra o ex-aluno por quebra de uma cláusula de confidencialidade. Essa trama vem, desde então, sofrendo novos desdobramentos e, parece, com desfecho para além da novela fictícia.

A bruxa está solta

Mais recentemente, veio à tona o caso de morte de um figurante durante as gravações da novela. Ainda, o afastamento de Bruno Gagliasso, para uma cirurgia de retirada de cálculo renal. Sem seu protagonista, Aguinaldo Silva teve que reescrever várias cenas para atender o cronograma de gravações, já apertadíssimo. Nem vou detalhar o pito que Lília Cabral deu em Marina Ruy Barbosa por causa do atraso em uma gravação. A bruxa está solta! Já que Aguinaldo vez ou outra se apropria da realidade, podia criar uma personagem "bruxa" que aterroriza os moradores de Serro Azul em noites de lua cheia – como o Cadeirudo e a Mulher de Branco. Fica a dica.

Marina Ruy Barbosa e Bruno Gagliasso (foto: reprodução)

Surubão de Noronha

Desde a semana passada, movimenta as telas das redes sociais uma trama picante que, apesar de alguns entrechos ficcionais, envolve, influencia e altera a realidade. A fofoca de "uma atriz", suposta amiga de Débora Nascimento, a "um jornalista" sobre "um caso" de José Loreto (então marido de Débora) com "uma atriz" do elenco de "O Sétimo Guardião" vem despertando mais a atenção do público do que a história da novela. Desde que estreou, na semana passada, o folhetim da vida real ganhou novos personagens em um elenco estelar: Marina Ruy Barbosa, Bruna Marquezine, Bruno Gagliasso, Geovanna Ewbank e outros coadjuvantes.

Alguém batizou a novela de "Surubão de Noronha" – seria uma trama passada no Nordeste. Outros de "Dark Room da Globo", por causa dos núcleos no Rio de Janeiro. Estão lá todos os ingredientes que levam os noveleiros aos delírio: triângulo amoroso (ou quadrilátero, pentágono, hexágono, etc, já que se trata de um "surubão"), dramalhão barato, lágrimas, declarações de amor, vilã maledicente, mocinho (ou vilão) arrependido, intrigas, suspense, separação de casais, comédia, memes e até apelo sexual.

José Loreto (foto: divulgação/TV Globo)

A situação me remete ao enredo da novela "Espelho Mágico", escrita por Lauro César Muniz em 1977, em que o autor tentou expor a vida privada da classe artística brasileira em contraponto com a produção e exibição de uma telenovela – a metalinguagem "novela dentro da novela". Claro que não havia nada de picante e era tudo ficção, tanto que o público preferiu os entrechos da "novela de dentro" à vida sem graça dos artistas mostrada na "novela de fora".

Notícias reais e fofocas de bastidores sempre ajudaram a movimentar novelas. Porém, há casos em que a produção é mais lembrada pelas fofocas que levantou. Hoje, poucos lembram da trama de "Duas Vidas", mesmo porque a novela tem mais de 40 anos. Contudo, permanece no imaginário popular uma fofoca envolvendo o diretor Daniel Filho, os atores Mário Gomes e Betty Faria (par romântico da novela) e uma cenoura. De acordo com Mário Gomes, a calúnia foi plantada por Daniel em represália ao caso que o ator teve com Betty, com quem Daniel era casado. Olha que não havia mídias sociais na época!

A arte imita a vida

Nesta semana, Aguinaldo Silva deu uma nova função à megera Mirtes, vivida por Elizabeth Savala. Por trás de um perfil falso na internet, Mirtes vai espalhar fake news e fofocas envolvendo os moradores de Serro Azul. Uma versão de saias a um personagem anterior do autor, o jornalista viperino Téo Pereira (Paulo Betti na novela "Império", 2014). É curioso que Aguinaldo tome a realidade para apimentar a ficção de "O Sétimo Guardião", uma vez que a novela foi vendida como mágica para contrapor a realidade do dia a dia. A arte imitará a vida. Parece que o jogo virou, não é mesmo?

Elizabeth Savala  (foto: reprodução)

Não acredito que uma fofoca que tomou proporções gigantescas vá reverter em mais audiência para a novela. Desde que estreou, "O Sétimo Guardião" luta para agradar o público. Passada mais de sua metade, a novela acumula 28 pontos de média no Ibope da Grande São Paulo. Não é nenhum desastre, mas está abaixo do que se espera para a faixa (30 pontos) e abaixo das novelas anteriores ("Segundo Sol", 32 pontos, e "O Outro Lado do Paraíso", 35 pontos, no mesmo período).

Apesar do elenco de grande estrelas e da produção de primeira, a trama de Aguinaldo Silva não empolga e mal repercute. As maiores críticas são ao casal romântico central, sem química, à falta de carisma do protagonista, vivido por Bruno Gagliasso, e à vilã que deveria ter sido, mas não aconteceu, personagem de Lília Cabral.

Enquanto isso, a novela fora da novela ("Surubão de Noronha") movimenta milhões de curiosos sobre a trama da vida real, uma história que nem Aguinaldo Silva conseguiu conceber. O novelista Carlos Lombardi já ensinou: novela são duas pessoas querendo transar e outras quarenta querendo atrapalhar. Bingo!

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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