Estreia de "A Dona do Pedaço" apela para os valores familiares e às armas
Nilson Xavier
20/05/2019 23h09
"Os filhos são a alegria da gente". "Família é a coisa mais importante que tem". "O segredo desse bolo é o amor". A nova novela da Globo, "A Dona do Pedaço" (estreia dessa segunda, 20/05), já começou apelando para os sentimentos mais básicos do ser humano – quem não se identifica com a avó que faz o bolo com os netos? -, principalmente no que compete à tríade família, tradição e propriedade. Em nome da proteção da propriedade, armas e tiros.
– Duas famílias inimigas de matadores profissionais ("Só mato por necessidade porque a gente tem que viver") com um amor "Romeu e Julieta", nos confins do interior do Brasil – isso remete ao clássico de Shakespeare, mas também ao faroeste americano, mais propriamente à folclórica disputa entre MacCoys e Hatfields, duas famílias caipironas que se duelavam até a morte (quem assistia aos desenhos do Picapau ou Pernalonga deve lembrar). Em meio à disputa das famílias armadas, o nome da protagonista é o contraponto: Maria da Paz (Juliana Paz, digo, Paes), a tal dona do pedaço.
O texto é direto e objetivo, cheio de frases feitas e de efeito. Tudo mastigado, típico do autor, Walcyr Carrasco, não muito chegado a sutilezas. Como em "O Outro Lado do Paraíso", cabe à direção a árdua função de dar algum verniz ao texto do autor. A diretora Amora Mautner bebe das mais variadas referências – de clássicos do cinema e da televisão – para fotografia, ambientação, trilha sonora, cenários, figurinos e arte. É uma mistura mesmo. Será que esse bolo cresce? E será que é saboroso? Cedo para provar, pode queimar a boca!
Curioso que "O Sétimo Guardião" terminou com uma carnificina (no casarão do guardião-mor) e "A Dona do Pedaço" começa com outra carnificina. Tempos obscuros esses em que os conflitos do folhetim, parece, passaram a se resolver na base da bala. Vai ver a intenção é refletir a realidade mesmo.
Sobre o autor
Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.
Sobre o blog
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.