Assistencialismo vira entretenimento nas redes sociais de famosos

Não há dúvidas de quem o Brasil é um país com muita gente necessitada de melhores condições. Baseada nesse pensamento, a televisão se apoiou muito em programas nos quais móveis, eletrodomésticos e até mesmo casas eram distribuídos, sempre depois de que os escolhidos tinham sua história contada base de muitas lágrimas e tristeza. A antiga fórmula parece ter sido descoberta pelos influenciadores, que garantem visualizações e mais seguidores exibindo bondade em suas redes sociais.

Nesta semana, Mayra Cardi decidiu surpreender a babá de suas filhas dando uma casa mobiliada. O processo foi meticulosamente anunciado e filmado em seu Instagram, segundo a coach, "atendendo aos pedidos de vocês". A ex-BBB fez questão ressaltar que não contou com permuta e não estava fazendo propaganda de nenhuma loja. "Eu comprei com meu suado dinheiro cada pena dessa surpresa", afirmou.

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Em junho do ano passado, Carlinhos Maia se deparou com um carro em péssimas condições trafegando pela Marginal Tietê, em São Paulo. Decidiu ir atrás do motorista e lhe deu um carro novo. "Vi esse carro com essa família dentro, e disse: 'Sabe de uma? Vou dar um carro novo a eles'", contou, em seus stories, documentando todo o processo pelo Instagram, com direito a música triste de fundo em alguns momentos.

Nos dois casos, os famosos dizem ter feito as boas ações espontaneamente, sem uso de permuta, portanto sem fazer propaganda de alguma loja. Cabe aqui, no entanto, um questionamento: não estariam eles fazendo publicidade de si mesmos? Que bom que a babá ganhou a casa e família ganhou o carro. Não se deve questionar a necessidade. No entanto, será mesmo que toda essa benevolência precisaria ser mostrada como faziam os programas assistencialistas de TV? Ao retratar tudo em suas redes, Mayra e Carlinhos, ainda que não tenham essa intenção, parecem capitalizar com as dificuldades alheias.

Faz bem para a imagem se atrelar a causas sociais. O problema é fazer isso direito. Não por acaso vários famosos já foram criticados, por exemplo, por viagens à África, nas quais posam com crianças que vivem em situação de pobreza. Muitos deles não voltaram ao continente e pareceram apenas ter usado dos problemas daquelas pessoas para garantir a imagem de benemérito. Outros, claro, apoiam projetos sérios.

A questão é: quando se faz o bem, a publicidade deve ser voltada para servir de alerta para a necessidade de se resolver problemas. Quando o holofote volta-se para si mesmo em nome de likes e boa repercussão, os objetivos parecem mais voltados para a autopromoção do que para a ajuda ao próximo.