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A linha tênue entre caridade dos artistas e "filantropia do exibicionismo"

Nego do Borel visita a comunidade de Realengo após chuvas no Rio - Reprodução/Instagram
Nego do Borel visita a comunidade de Realengo após chuvas no Rio Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

03/03/2020 16h32

Ontem (03) resolvi dar um Google no nome "Nego do Borel", um rapaz que eu tenho um carinho sincero. Mas me surpreendi ao perceber que todas as últimas reportagens sobre ele falavam apenas sobre ações de caridade. A mais recente falava que o cantor fora ajudar vítimas das enchentes em Realengo, um dos bairros da zona oeste do Rio mais atingidos pelas chuvas. Uma bela atitude, correto? Mais ou menos. Foi tudo devidamente postado nas redes sociais do funkeiro.

Antes das inúmeras notícias de caridade (que incluíram uma bizarra distribuição de dinheiro à lá Silvio Santos em um semáforo), li, em fevereiro, sobre a demissão dele da Sony Music e, anteriormente, sobre o fim de seu namoro. Música, que é o que interessa, não achei nada. Isso me preocupou.

Consultei pessoas próximas e uma nova surpresa: que as ações filantrópicas, além de gerarem um vasto material na imprensa, ganha muitos "likes" nas redes sociais. Não quis nem ir mais a fundo e nem perguntar ao próprio Nego o porquê de tanta caridade.

Dia desses, Luma de Oliveira, em uma conversa informal, me falou a seguinte frase: "A verdadeira bondade é silenciosa". Sábia Luma.

E aos poucos o público vai percebendo que não é necessário mostrar ao mundo que você é uma pessoa caridosa e que faz o bem. Deixa essa questão para a sua relação com Deus. Mas, tadinho, não vamos crucificar o Nego do Borel, pois ele não é o único a fazer marketing com a caridade. Aliás, a Coluna acaba de criar um termo: "filantropia do exibicionismo". Cantores e influencers são os que mais exploram a caridade, afinal, a vida deles parece ser baseada nos likes e views das redes sociais.

Os programas que exploram ao máximo a pobreza humana e o assistencialismo, como os de Eliana e Rodrigo Faro, estão perdendo uma significativa audiência. Para finalizar esse texto vou aqui contar um pouco da relação de Ayrton Senna com a caridade. Ele detestava pensar na possibilidade que seus gestos de caridade fossem interpretados como promoção pessoal. Por isso, só após a morte do piloto é que soube-se que ele sempre ajudou financeiramente instituições como a AACD, a Apae e o Hospital do Câncer. Como diz Luma, a verdadeira bondade silenciosa.

Blog do Leo Dias