Claudia Leitte diz que aos 12 anos já sabia que se casaria com o marido
Cumprindo as recomendações de quarentena em sua casa, em Miami, Claudia Leitte segue inquieta e com saudade dos palcos. "Sou uma cantora de ver a massa balançando. A minha satisfação está no movimento, na energia, na alegria do outro. É o que me movimenta. Faço música por isso e aí, de repente, não tem público", diz ela, em entrevista ao jornalista Leo Dias.
Aos 39 anos, a artista está isolada em casa com o marido, Marcio Pedreira, os três filhos (Davi de 11 anos; Rafael, de 7 anos; e Bela de sete meses), e a mãe. E, para ela, as coisas serão diferentes pós-coronavírus. "Acho que a gente não vai voltar igual mais. Ninguém vai voltar mais a ser igual." E ressalta que, mais do que nunca, a empatia é a chave para tudo.
Na conversa, a cantora analisou sua trajetória até aqui, de quase 20 anos de carreira, e disse o que mudou nela ao longo dos anos: "A minha essência é a mesma, mas agora sou uma mulher muito mais madura, com alguns pezinhos de galinha, porém com uma energia maravilhosa, um astral, uma coragem e alegria."
Casada há 13 anos com o empresário, Claudia lembrou quando conheceu o marido, aos 12 anos, e o momento que teve certeza que iria casar com ele. E comentou sobre seus projetos ?Beleza Escondida', entidade que dá assistência a mulheres vítimas de violência doméstica, e 'Free Free', movimento de informação e empoderamento para mulheres.
São renovações da minha esperança. Tenho me descoberto muito mais forte como mulher.
Leia abaixo trechos da entrevista.
Leo Dias - Onde você está neste período de quarentena?
Claudia Leitte - Estou em casa, em Miami, com a minha família. Aqui a gente está com os nossos filhos e mais a minha mãe, o meu pai, a Zi, que é a minha assistente. A gente ia trabalhar e ela ficou aqui porque tem uma mãezinha mais velha e não deixei ela viajar. E tem uma anja aqui, a babá Li. Graças a Deus, ela está aqui comigo.
Vi um vídeo recente seu falando da quarentena, desse momento complicado que a gente está vivendo. E você disse que está com muita saudade dos palcos. Como está sendo esse tempo parado?
Tenho trabalhado muito, mas sou muito inquieta, muito ativa. Gosto de fazer aquilo que faço. Sou uma cantora de ?live?, uma cantora de ver a massa balançando. A minha satisfação está no movimento, na energia, na alegria do outro. É o que me movimenta. Faço música por isso e aí, de repente, não tem público. (risos)
Qual é a sua esperança de volta aos palcos?
Acho que a gente não vai voltar igual mais. Ninguém vai voltar mais a ser igual. Acredito que, se a gente fizer tudo direitinho, tudo como manda o figurino, se quem puder ficar em casa ficar, quem realmente tiver que sair de casa tomar todos os cuidados necessários para evitar a propagação do vírus, acredito que a gente vai sair em menos tempo do que a gente tem visto, por exemplo, em outros países.
O que você acha que vai ser diferente?
Acho que muita gente está revelando caráter. Bom e ruim. No meio dessa loucura toda. A gente está vendo o outro com mais clareza. Nós, seres humanos, na nossa maratona, nossa rotina, a gente olha muito para o que a gente quer, a gente busca os próprios interesses. E nessa loucura, a gente está sendo levado por esse caminho de acreditar que, se o negócio não está bom para o outro, não vai estar bom para mim.
As pessoas estão esquecendo de pensar no outro, que não tem assistência de um patrão, que é vendedor ambulante e que precisa do trabalho diário para se alimentar à noite.
Tudo precisa de empatia na vida. Se você não se coloca no lugar do outro? é por isso que não consigo cultivar nenhum sentimento negativo por ninguém. Às vezes, a memória é curta, às vezes é porque não dá tempo mesmo, porque me coloco muito no lugar do outro. Não sei se por uma questão de educação dos meus pais, ou se é uma coisa que já veio na minha raiz espiritual. Não quero nada em troca, de ninguém. Vou ali para servir e me posiciono no lugar do outro. Talvez aquela pessoa que está passando por aquela situação não esteja vivendo o que estou vivendo, então é mais difícil para ela. Acho que empatia é a chave para tudo.
Vamos falar da Bela, sua filha mais nova. Qual é a diferença dos outros filhos para ela?
Filho é filho. Não amo um mais do que o outro. Não tenho preferência. Eu vivo para esses meninos. Faço qualquer coisa para ver os meus filhos felizes. A mãe se doa tanto. O pai também, meu marido é um pai muito presente, muito participativo. A gente se doa tanto para os filhos da gente, que eles tratam a gente com amor. Eles respeitam a gente, é reflexo disso. Vejo a atitude de Davi, que é o mais velho. Ele fez 11 anos em janeiro. Ele tem uma coisa de proteção comigo. E lembro que minha mãe falava disso. E Bela precisa de proteção, mas sinto que ela já me olha de um jeito como se eu fosse cúmplice dela. Como se ela estivesse me dizendo: 'Sei que você sempre vai estar aqui para mim.' Então a minha bichinha é 'pitinha de quita', e ela já sabe o que está na frente dela ali, é a mãe dela.
Você e o Marcio, o seu marido, têm uma conexão enorme.
E acha ele um gato, hein?
Também acho. A família dele toda. (risos) Houve já algum problema por ele também cuidar da sua carreira?
Pessoal não, mas oxente! Sempre tem uns 'arranca rabinho', sempre tem um: 'Não, não é assim?, ?não acredito nisso' ou 'não gosto desse jeito', 'não quero fazer assim'. Sempre rola uma divergência.
O Marcio é muito correto com tudo. É impressionante!
Ele é correto e ele é respeitoso. Ele é um homem de palavra, íntegro. Tenho muito orgulho de Marcio, do homem que ele é, do pai que é para os meus filhos, da grande referência que meus filhos vão ter na vida deles. Se Deus quiser, o Marcio vai ter sempre saúde, quero ficar para sempre com ele. Ele é meu melhor amigo, a gente tem obviamente as divergências. As opiniões da gente às vezes são diferentes, mas rapaz, a gente nunca vai dormir brigados. Eu acordo ele.
Você nunca dormiu brigada com ele?
Não, não deixo e nem aguento. Quando viajo, fico longe dele e fico com uma saudade absurda. (risos) Um negócio doido que pensava que só existia nesses filmes água com açúcar.
Você se considera abençoada por ter encontrado tão cedo o Marcio?
Imagine que um dia para Deus são mil anos para o homem. Rapaz, o que Deus tem para a gente, no tempo certo vai acontecer. Não importa o quanto isso represente de estrada. Então a gente tem que relaxar com relação ao tempo. Não acho que ele apareceu cedo. Não me sinto abençoada por isso, me sinto abençoada por ele ter aparecido. E cedo, não sei, acho que Marcio veio a cavalo.
Quando você conheceu o Marcio?
Tinha 12 anos, eu era da sexta série na escola e ele era um ano ou dois na minha frente no colégio. Eu ia para a quadra da escola para ver ele jogar. E tem uma amiga minha, que é jornalista, Ticiana. Ela me encontrou muito tempo depois e foi fazer entrevista comigo no Carnaval, e falou: 'Claudia, que boca miserável é essa? Você disse que ia casar com ele quando a gente não tinha nem peito. E você casou com o homem?. A palavra tem poder. Por isso que a gente tem que falar coisas boas. Falar assim: 'Vou conseguir vencer'. O tempo é relativo ao tempo.
Você não é uma pessoa afoita por chegar a um objetivo, você sabe que esse tempo vai ser cumprido pela decisão de Deus, é isso?
Já fui mais. A gente vai aprendendo na vida, né? Você vai ficando mais velho, vai amadurecendo
Vamos falar do disco que você lançou recentemente em três línguas. Qual é o atual momento da sua carreira?
Minha vida está tão feliz, que posso dizer que vivo musicalmente o meu melhor Carnaval. Sinto que tenho uma liberdade muito grande para cantar na língua que quero, para cantar o ritmo que quero, e tudo isso foi um presente que recebi do axé music, do trio elétrico. Canto 6 horas em cima do trio. Sou uma cantora de axé, e 6 horas ali em cima, você precisa dar uma variada no repertório.
Você está dizendo que não é criticada por cantar outras línguas e tem a sorte disso?
Não, estou falando mais de mim mesma, de dentro para fora. Me sinto muito feliz e consciente de que é o Carnaval que me dá isso, essa possibilidade de cantar em outras línguas, outros ritmos. Estou falando mais do ?Bandera Move?, que é esse álbum.
Essa Claudia é a mesma Claudia do início da carreira?
A essência é, mas agora sou uma mulher muito mais madura, com alguns pezinhos de galinha, porém com uma energia maravilhosa, um astral, uma coragem, e alegria.
Você tem gente para te auxiliar na comida, para lavar a louça aí em Miami?
Fazemos tudo, todos. Existe uma coisa muito massa ao redor da carreira dos artistas que é legal, de estrelas e brilho, mas é vida normal, meu filho. Minha função? Eu sou a mãe.
Mas a mãe cozinha?
Quando tenho vontade de cozinhar, sim. Mas a minha mãe está cozinhando todos os dias, porque ela se amarra em cozinhar. Mas se eu estiver a fim de fazer comida, faço. Eu sei fazer comida, gosto de fazer comida. Você está me desafiando só porque sou artista, é? (risos)
Não, não estou te desafiando. Agora, você é uma mãe rígida, dá muita bronca? Seu filho já fez escândalo em shopping center?
Nunca fizeram e que façam para ver só o que acontece. Sempre falo para os meus filhos que eles precisam respeitar muito os pais, as pessoas em todos os lugares. E fazer escândalo em shopping center é desrespeitoso não só com os pais, mas com os outros também em volta. Então, aqui em casa ninguém faz isso. Eles me respeitam muito, respeitam muito o pai. Meus filhos, graças a Deus, têm as coisinhas deles, de toda criança normal que é saudável, que está transpirando ali na vida, mas as rédeas são curtas aqui.
Você é sempre conectada em fazer música?
Sim, gosto de fazer música, de cantar. Quando vou para um trio, as pessoas falam muito que vão para o meu show, que elas têm uma experiência porque a minha entrega é verdadeira, sou 100% ali. Não vou para matar cachê, para conquistar um espaço porque quero ficar famosa. E a minha carreira toda foi pautada em cima disso. Tem uma estratégia que sigo, e a qual sou fiel: vou realizar o meu sonho nesse show de hoje para cinco pessoas e para 10 milhões, para 50 milhões. O povo todo está me assistindo agora. Na Copa do mundo fui com o mesmo frio na barriga, com a sensação de que vou realizar o meu sonho, que vou servir as pessoas.
Você faz todos os shows como se fosse o último?
Faço. Tem dias que estou de TPM que é um horror. Aí vou, entro no camarim: 'Meu Deus, me ajude', estou com dor não sei aonde, estou cansada, viajei não sei quantas horas, estou com saudades, estou triste. Subo no palco, minha alma cheira a talco como bumbum de bebê. (risos) Eu viro criança, amo fazer isso. Amo cantar.
E os projetos 'Beleza Escondida' e 'Free Free'?
São renovações da minha esperança. 'Beleza Escondida' é uma entidade que dá assistência a mulheres vítimas de violência doméstica. Renovou a esperança do meu coração, porque vi muitas mulheres que estavam não só com o corpo, o físico machucado, era um espírito, autoestima, que realmente precisavam de restauração. E através desse projeto vi essa superação acontecer. E o ?Free Free? é um grande movimento de de levar informação para a mulher para ela saber exatamente que ela é dona da vida dela, da caminhada dela, ela é quem determina o futuro dela e que ela tem uma grande oportunidade na vida sendo mulher. De conquistar os objetivos dela, é isso. Por mais que seja libertação para mulher, empoderamento, sinônimo de autoconhecimento, o ?Free Free? é uma viagem de autoconhecimento. Tenho me descoberto muito mais forte como mulher.
Mas isso talvez ainda não represente muitas das mulheres no Brasil, porque elas ainda dependem financeiramente dos maridos. E falo isso das mulheres mais velhas.
Não acho. Você está falando de tempo de novo. Mulheres mais velhas.
Porque elas não tiveram estudo, não tiveram preparo para entrar no mercado de trabalho, entende?
Já ouviu essa frase: 'Nunca é tarde'? Pode aplicar na sua vida. A gente está aqui em qualquer idade como mulher para dividir consciência, força, coragem e autoestima. Toma aqui mais um pouquinho, uma com a outra na nossa caminhada. E não tem esse negócio de tempo.
O que você espera do futuro? Para você, seu público e para o Brasil?
Espero que a gente aprenda a se colocar mesmo no lugar do outro. É muito importante a gente olhar para o lado com a consciência de que a gente precisa de quem está do lado. Ninguém consegue nada sozinho nessa vida, ninguém.
Não existe essa possibilidade e a gente não pode viver como se as pessoas não fossem importantes, como se a condição do outro não estivesse boa porque ele não mereceu e que a gente mereceu mais.
Mas você acha que nós estávamos vivendo um momento assim? Foi preciso parar e puxar o freio de mão urgentemente.
Acho, a maior prova disso é que a gente é, e está vendo na internet, na TV, em todos os meios de comunicação, que a natureza tem respirado. Então, acho que a gente está vendo uma resposta.
Éramos nós os culpados?
A gente é parte de um todo. O nosso corpo tem um coração que é um músculo involuntário muito importante, ele tem um cérebro, mas duvido que você queira ficar sem algum membro do seu corpo. Todos temos importância, como cada partezinha do nosso corpo. Todos têm importância, o cara do café que ocupa um espaço muito grande na sociedade, o cara que limpa a sua rua é importante, o jornalista é muito importante.
Todo mundo tem um papel. Existe algo para você, algo que é seu e vai ter a oportunidade de conquistar se você não desistir. São essas coisas que parecem clichês, parecem utópicas, mas acho que a gente voltou a pensar sobre isso.
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