YouTube reforça regras antigas e indica possível necessidade de atualização
Eu sei, meu amigo, você não aguenta mais falar sobre lives. Mas, por favor, leia este texto: é de extrema relevância e mostra concretamente um repentino reforço em regras que soam como um "manual de bons costumes", quando o assunto é arte e música no Brasil, um país que, surpreendentemente, foi pioneiro ao inovar no modo de se levar cultura ao povo.
Vamos aos fatos: o YouTube, a maior plataforma de vídeo do mundo, pertencente ao Google, que simplesmente domina a internet, passou a reforçar regras de comportamento da sua comunidade, em especial em relação a diretrizes sobre publicidade e direitos autorais, para o Brasil. O problema é que ou ninguém sabia dessas regras ou nunca foram colocadas em práticas com tanta força.
Por estarem todos no mínimo surpresos, nesta semana, o YouTube convocou as equipes de artistas, gravadoras e produtoras para relembrar as tais regras. Entre elas, e especialmente, as relacionadas a publicidade e conteúdo, como exposição de marcas, a proibição de beber em cena, e a propaganda de produtos que só podem ser consumidos para maiores de idade.
Ontem, entrou a primeira live sertaneja após a reunião com o YouTube. E acredite, por coincidência ou não, a live da Work Show, que é o maior escritório de agenciamento artístico do país, foi de muita pouca relevância, perto das marcas atingidas anteriormente no país. E a expectativa era alta. Havia dez canais de cantores com a mesma transmissão, e os nomes envolvidos eram pesadíssimos: de Marília Mendonça a Zé Neto e Cristiano, de Leo Santana a Maiara e Maraisa, entre outros.
Além do YouTube, o Conar também entrou recentemente em ação, no caso, contra o criador das lives, Gusttavo Lima. E o órgão, que a coluna já acenou anteriormente aparenta ter estreita ligação com a Globo, deu sinais que pode se pronunciar em relação a lives de outros artistas também. Afinal, as lives possivelmente tiraram da TV audiência, relevância e ineditismo. Do dia para a noite, as emissoras passaram a exibir reprises, e a internet chegou a níveis de audiência e valor comercial que possivelmente alcançaria em anos. O investimento em publicidade se voltou para a internet e chega, no caso do artista Gusttavo Lima a pagar quase 500 mil para anunciar em uma live. Isso, em larga escala, pode gerar um rombo nas emissoras de televisão.
A impressão dessa coluna é que tanto o YouTube quanto o Conar não estão entendendo o que essas transmissões estão representando. Esses sertanejos, que antes do coronavírus já tinham dinheiro suficiente para viver a vida sem gravar uma música a mais, se atentaram (sim!) a gravidade do momento e que mesmo podendo estar, como toda a classe artística mundial, em suas casas luxuosas esperando a pandemia passar, alheios a tudo e pensando em si, resolveram gerar entretenimento e fazer com que o país fizesse doações gigantescas, nos alertando sobre a situação e a olhar para nossos irmãos.
Muita gente não tinha noção da gravidade da situação até o momento em que os artistas agiram em sequência. O ser humano mais desatento com a realidade do planeta (que ninguém nos ouça, nossa juventude) se deu conta de que algo de muito drástico estava acontecendo no mundo. Não dá para tirar esse mérito da classe artística.É um retrocesso colocar mais obstáculos em um movimento que tem cunho social, mesmo sabendo que existem interesses comerciais .
Estamos todos revisando e repensando sobre nossas vidas, seja em um ritual de limpeza ao entrar em casa ou nas novas dinâmicas de trabalho. Assim também deveria fazer o YouTube, esse é o momento para revisar e reinventar novas dinâmicas (e regras!) de entretenimento e consumo de conteúdo, a fim de reforçar o principal objetivo da sua comunidade, conexão. Assim como para a sociedade, para a plataforma as regras que existiam antes já não fazem mais sentido.
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