Topo

Carolina Dieckmann sobre quarentena: 'Máscaras estão caindo'

Colunista do UOL

23/04/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Atriz está cumprindo isolamento em Miami, junto da família
  • Ela diz que se cuida com homeopatia e não costuma tomar remédios
  • Além disso, afirma que não tem medo de envelhecer, mas reconhece que pensa muito sobre a morte
  • "Acho que é por causa dos meus filhos. Não quero que eles fiquem sem mãe"

Com 25 anos de carreira e uma brilhante trajetória na televisão, Carolina Dieckmann é uma das grandes estrelas da teledramaturgia. Casada com o executivo de TV Tiago Worcman, com quem tem um filho, José, de 12 anos, Carolina também é mãe de Davi, de 21 anos, fruto de sua relação com o ator Marcos Frota. Atualmente vivendo em Miami, ela conversou com o colunista Leo Dias e afirmou que não tem medo de envelhecer, mas que pensa muito sobre a morte.

"Tenho muito medo de morrer e é uma das coisas que mais trabalho na minha espiritualidade. Pensar que não posso ter medo, mas tenho", disse a atriz de 41 anos. Carolina revelou que não usa medicamentos e cuida de seu sistema imunológico com homeopatia e uma rotina regrada. Além disso, revelou que acredita que a pandemia do novo coronavírus seja uma oportunidade para ver a situação de outra forma.

"Acho que a gente está tendo uma oportunidade incrível de transformar muita coisa e de entender. Sinto que é como se máscaras estivessem caindo, sabe? A gente está vendo muita coisa. Como as pessoas estão se colocando, o que as pessoas estão fazendo neste momento. E isso não tem como ser negativo."

Mesmo tendo participado de muitos sucessos da TV, Carolina diz que ainda tem planos que sonha realizar e que gostaria de passar por uma transformação física novamente para viver uma personagem, como quando raspou o cabelo na novela "Laços de Família" (Globo, 2000). "Vivo dizendo que se alguém chegasse agora e falasse: 'Carol, vá raspar a cabeça!', eu rasparia de novo."

Confira abaixo trechos da entrevista.

Carolina Dieckmann - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
A atriz Carolina Dieckmann
Imagem: Reprodução/Instagram
Leo Dias - Lembro que acompanhei várias festas da Globo, na época em que você estava aqui no Rio, e você sempre chegava da mesma maneira: não vinha com um batalhão de gente, vestia seu look despojado... Parecia que você tinha saído da praia, dado um pulinho em casa, tomado um banho e ido para lá. É impressão minha?

Carolina Dieckmann - Acho que isso vem muito da maneira como fui criada, Leo. Sou moleca, fui criada no meio de um monte de menino, nunca tive esse espaço para ser menininha, muito do laço cor-de-rosa. Essa coisa que a gente tem como ideologia, que acho que está caindo. Graças a Deus, as meninas com uma personalidade um pouco diferente estão tendo cada vez mais espaço. E eu era uma dessas meninas, por ter nascido em uma família com tantos meninos.

Você fez muitas capas de revista, mas acho que você dizia mais não do que sim. Estou errado?

Acho que está, Leo, porque adoro fazer capa de revista. Para mim aquilo é como se pudesse viver uma personagem diva. Realmente, com o meu dia a dia e a minha vida não combina muito. Não tenho uma vida de diva de maneira nenhuma, nem nunca tive. Mas para mim sempre foi uma festa o dia de fazer uma capa, o dia de encontrar os maquiadores e me sentir glamorosa, me sentir bonita. Então, eu disse muito sim [risos].

Onde você está morando e como está a sua vida neste momento?

Bom, antes do coronavírus estava fazendo o "Karolkê", um projeto que estava me dando uma alegria imensa. Mas, neste momento, estou em Miami, na casa da minha família aqui. Sempre gosto de dizer que moro no Brasil, e moro mesmo. Nunca tinha passado mais de um mês aqui, esta é a primeira vez.

Vamos voltar ao dia em que falou para a Globo: "Não quero mais. Não quero mais ter um contrato longo. Não quero mais estar à disposição. E quero cuidar da minha vida, cuidar da minha família, quero cuidar do meu marido, quero cuidar de mim". Teve esse momento?

Não [risos]!

Você é contratada da TV Globo?

Sou. O que aconteceu é que no momento em que o Tiago foi chamado para trabalhar nos EUA eu falei: "Vai, porque a gente vai dar um jeito".

Vamos explicar quem é o Tiago. O Tiago é o marido da Carolina e ele é da MTV. Qual é o cargo dele, Carol?

Hoje em dia ele não é mais da MTV, né? Ele é da Viacom CBS, que teve uma fusão há pouco tempo. Ele cuida de vários canais na América Latina toda. Então, quando ele veio para Miami viver isso, dei muita força, falei que a gente ia dar um jeito de ficar juntos. Tive que vir para adaptar o José, meu filho mais novo, na escola. O Davi ficou aí no Brasil com o Marcos, o pai dele. Pedi uma licença da Globo, porque não achava justo as pessoas achando que podiam contar comigo e não podiam. Então, pedi seis meses de licença.

Você se sente prata da casa? Existe uma relação sentimental entre você e a TV Globo?

Não tem como não existir da minha parte. Porque cresci lá dentro. Trabalho lá desde que tenho 13 anos de idade. Sou muito identificada com a Globo e com tudo o que fiz lá dentro. Muito grata, muito feliz. Sinto que tenho uma carreira de imensas alegrias, de encontros e de trabalhos incríveis.

Você sente também que você escreveu uma página importante da história da TV Globo?

É complicado dizer isso. Me entreguei muito, acho que tenho uma carreira verdadeira com relação ao que acredito, que é me entregar sem limites e viver intensamente. Acho que nada é à toa, né? Nada é acaso. A gente faz escolhas e acho que sempre encarei [o trabalho] de peito muito aberto, com muita verdade.

E como é que vê hoje essa nova TV Globo que está surgindo? Com muitos nomes considerados como padrões da TV Globo fora do casting por opção da emissora?

Acho que o que está acontecendo hoje no mercado não é uma coisa da Globo. É uma coisa do mercado. A comunicação está se transformando profundamente, os anunciantes estão tendo mais opções. Está todo o mundo tendo que se adaptar a uma nova maneira de o mercado se comportar, e a Globo não pode ficar estagnada. Acho muito natural toda essa mudança. E essa coisa dos contratos da Globo [a emissora costumava ter contratos fixos, mas recentemente tem optado por acordos por obra] é um modelo que em muitos lugares não existe. Inclusive nas plataformas de streaming. As pessoas fazem uma série lá, daqui a pouco fazem uma série na Netflix.

Muita mulher está querendo saber o que você faz, porque você não envelhece.

Eu envelheço. Será que a gente começa a fazer umas expressões para mostrar?

Não, sério. O que você faz, Carol? O que você toma?

O que eu tomo? Não tomo nada. Talvez esse seja um dos segredos. Não tomo nada. Sou adepta da homeopatia desde que nasci, não tomo remédio. Só tomo remédio, assim, se enlouquecer de dor de cabeça, coisa que não acontece. Não fico gripada quase nunca. Faço um trabalho de manutenção na minha imunidade, tendo uma vida obviamente saudável e preocupada em não ficar tomando muitas coisas. Basicamente é uma filosofia em que acredito, que não é você tratar a doença, é você tratar da sua saúde.

Entendi. É a prevenção, né?

É a prevenção. E óbvio que estou envelhecendo, mas, de repente, estou envelhecendo de uma maneira saudável, de uma maneira sem ficar botando 300 milhões de coisas na minha cara.

Carolina Dieckmann - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
A atriz está isolada com a família em Miami
Imagem: Reprodução/Instagram
Você nunca fez nada no rosto?

Agora comecei a fazer laser. Acho também que o que as pessoas veem é alguém que não está modificando tão rápido. Porque, se você pensar bem, a pessoa que coloca coisas, que injeta, que paralisa, às vezes ela muda mais do que se ela não estivesse fazendo nada, se estivesse vivendo a idade progressivamente como todo o mundo.

E você nunca teve medo de envelhecer?

Medo não. Vou achar chato, como todas as mulheres. Ver a pele modificando... Não ter o mesmo colágeno, a mesma elasticidade. Mas vou lidar com isso, porque isso não é algo que me preocupa. Tenho medo de ficar doente, não tenho medo de envelhecer.

Existe algum outro medo?

De morrer. Tenho muito medo de morrer, Leo. E é uma das coisas que mais trabalho na minha espiritualidade. De pensar que não posso ter medo, mas tenho.

Como é a sua espiritualidade?

Ela é ecumênica. Ela é plural. Acredito em muita coisa. Acredito na lei do retorno, pelo nosso planeta ser redondo e por tudo ser cíclico. Acredito que a gente tem que fazer o bem, porque a gente vai colher o que a gente plantar. E isso é uma lei da natureza. Enfim, acredito nisso e acho que tenho medo de morrer por causa dos meus filhos. Não quero que eles fiquem sem mãe.

Como estão seus filhos nessa questão de estudos?

Cara, eles estão tendo aula como se eles estivessem na escola. Porque é aula on-line, né? Então, o José está no quarto dele, fica de 8h às 16h da tarde tendo uma aula atrás da outra, on-line. E o Davi, como já faz faculdade, está no outro quarto também tendo aula.

Você está preparada para ser avó?

Só vou saber se estou preparada na hora que for né? A gente não sabe se está preparada antes, mas penso nisso, no tamanho desse amor.

O que você quer para a sua carreira? Você ainda quer alguma coisa?

Eu quero tudo!

Tudo não, Carolina Dieckmann! Por qual desafio você acha que ainda precisa passar?

Juro, por todos! Vivo dizendo isso porque, para mim, a coisa mais radical que fiz foi raspar a cabeça. Vivo dizendo que se alguém chegar agora e falar: "Carol, vá raspar a cabeça!", raspo de novo. Porque não acho que já cheguei no lugar que não preciso de uma coisa ou de outra, não existe para mim isso.

Você tem total desapego quanto à sua estética?

Total. Na minha profissão, total.

Como é que você se imagina velha?

Me imagino cheia de netos.

Você mora no Rio de Janeiro, como eu, e sabe das dificuldades pelas quais a cidade está passando. E você deve imaginar, provavelmente, que após este momento a situação vá piorar, né?

A violência sempre me preocupou muito. Acho que todos os cariocas e muitos brasileiros que vivem em cidades um pouco mais violentas, como o Rio, sentem medo. A gente está passando agora, com o coronavírus, por uma experiência muito diferente do que todo o mundo imaginou. Acredito de verdade, você pode achar que sou uma Poliana, mas acredito de verdade que muitas fichas vão cair. Já estão caindo. Tenho visto muitas manifestações e atos solidários, não só de empresas, mas de cidadãos. E isso é um chamado para a gente.

Você vê que o mundo vai voltar de uma maneira melhor?

Tenho certeza de que a gente vai voltar transformado, Leo. Positivamente.

Você é uma otimista por natureza ou não? Você é realista?

Sou realista, mas costumo ver sempre o lado bom. É um vício. Mas não acho que esteja sendo positiva. Acho que a gente está tendo uma oportunidade incrível de transformar muita coisa e de entender. A gente está tendo a oportunidade de ver. Sinto que é como se máscaras estivessem caindo, sabe? A gente está vendo muita coisa. Como as pessoas estão se colocando, o que as pessoas estão fazendo neste momento. Então acho que é um momento incrível de a gente olhar para o outro e ver com outros olhos. E isso não tem como ser negativo.

As máscaras estão caindo, é isso?

Estão. Para quem quiser ver.

Blog do Leo Dias