Wesley Safadão sobre pandemia: 'Não quero voltar a viver como antes'
Resumo da notícia
- Artista fala das dificuldades durante a pandemia e diz que percebeu a real importância das coisas
- Ele ainda comenta sobre as estratégias para tentar manter os funcionários empregados, mesmo tendo que baixar salários
- E revela que acredita na permanência das lives mesmo após a quarentena
Ele conquistou não só o Nordeste, como o Brasil todo. Presença constante nas listas de músicas mais tocadas, Wesley Safadão é um dos artistas que se mantêm mais antenados em seu segmento. Sempre gravando com nomes jovens, renovando sua imagem e sua carreira. "Busco sempre fazer o que o povo gosta e tento aplicar isso nos meus shows", conta. Em entrevista exclusiva a Leo Dias, o cantor fala sobre a pandemia do novo coronavírus, que o está fazendo repensar suas prioridades.
"Estou acostumado a fazer 20 shows por mês, hoje estou fazendo um, sem saber o que é que vou ganhar. Ninguém estava preparado para uma situação como esta, mas sei que vou ter que me adequar ao novo momento. Quando tudo voltar, não quero voltar da forma como vivia antes, em uma vida louca, sobe e desce. Não vou mentir que bate saudade das loucuras que nós vivemos, mas quero realmente poder conviver mais com as pessoas que amo, viver mais momentos com os meus amigos. Vi que a gente precisa de muito pouco para viver."
Safadão comenta também sobre a medida que tomou de reduzir os salários de seus músicos em 50% para conseguir mantê-los contratados durante o período de quarentena. "Nós estamos planejando a volta para outubro, mas não sei se volta. Então, temos sete, oito meses sem faturamento. Como consigo manter uma empresa com todo o mundo empregado ganhando salário 100%? Não consigo. Mas não estou dormindo bem! Porque sei que, além da minha família, que é gigantesca, tem pessoas que não posso abandonar nesse momento."
Leia, abaixo, trechos da entrevista.
Leo Dias - Eu considero você o cara que produz o melhor atualmente no Brasil, que domina os palcos, que vive a música 24 horas por dia. O que aconteceu quando tudo parou e você se tocou de que a realidade havia mudado?
Wesley Safadão - Obrigado pelas palavras. Busco sempre fazer o que o povo gosta e tento aplicar isso nos meus shows. Quando os festivais se tornaram essa febre, pensei de que forma poderia me sobressair. Porque, quando você está em um festival, tanto antes quanto depois vão se apresentar artistas maravilhosos. Não posso ter aquilo: "Ah, hoje não estou em um dia legal!". Tenho que estar em um dia bom.
Muitas vezes, uma festa de formatura não tem como te contratar, mas você, com a sua genialidade, foi atrás da festa de formatura e reduziu o seu cachê para cantar ali, porque sabia que aquilo marcaria a vida daquelas pessoas e que elas iam continuar consumindo a sua música. É isso?
É exatamente isso Leo. Existem momentos na nossa vida que jamais esqueceremos. Por exemplo, uma festa de formatura. É inesquecível na vida de qualquer pessoa. Então se eu, o artista Wesley, estou fazendo a festa de formatura daquele povo que está lá, daqui a alguns anos vão lembrar: "Caraca! A minha formatura foi com o show do Wesley Safadão!". Então é uma forma de você fisgar aquele público para o resto da vida, sabe?
Me conte o dia que algum cidadão chegou para você e disse: "Wesley, não tem mais show!". Qual foi a sua reação?
Olha, tenho muita fé e acredito que Deus sempre tem uma saída para cada um de nós. A gente precisa crer, precisa se movimentar. Então, assim, fácil não está sendo. Até porque eu, que sou acostumado a fazer 20 shows por mês, hoje estou fazendo um, sem saber o que é que vou ganhar. Por exemplo: a minha próxima live [que acontece no dia 17] sou eu e o Raça Negra. Tem alguns patrocinadores incertos, mas nada confirmado de fato.
Qual é a previsão hoje de volta?
A gente está se programando para outubro, mas não sabe se vai voltar mesmo em outubro. E o que a gente precisa fazer? Parado a gente não pode ficar. Às vezes, a gente acha que não vai ter fonte de renda, mas pelo menos uma está tendo. As lives estão acontecendo. Está tendo rendimento para vários artistas, massa demais. Depois que o Gusttavo Lima fez a primeira live dele, abriu portas para vários artistas. Até mesmo quero ressaltar isso. Algumas pessoas acham que para um crescer o outro tem que diminuir...
Não há inimizade, né?
Pois é. Levanto a bandeira de defender todos que estão fazendo as suas lives. Olhando por um lado, as pessoas estão tendo a oportunidade de conhecer melhor muitos artistas. Os caras estão em casa, estão fazendo a live, mas estão se divertindo naquele momento. E o ponto principal: a gente tem ajudado muitas pessoas também. Há muitas coisas começando a acontecer neste novo mundo, né? É uma loucura tudo isso, mas busco não olhar muito para as notícias, busco confiar em Deus e fazer o meu trabalho da forma como posso.
As notícias te afetam, Wesley?
Afetam. Sabe por quê? Porque tem dias em que a gente acorda bem, confiante e tal. Aí a política: pá! Aí você: "Meu Deus, o que vai ser do nosso país, Jesus?". A gente vê um momento tão difícil, tão delicado para todo o mundo, e a gente vê essas vaidades políticas acontecendo de um lado para o outro. E o que vai ser do nosso país? Quanto mais essa briga acontecer, mais prejudicados todos nós seremos. Parece que não é só o coronavírus que está afetando o país, sabe? A política está afetando talvez até mais.
Tem gente que quer que as coisas deem errado. A impressão que tenho é essa. Parece que as pessoas estão torcendo contra o Brasil. Mas a questão é muito maior. A gente está pensando na população, em quem está passando fome.
Quando defini fazer a minha live, comecei 15 dias antes a ligar para os meus amigos para fazerem doações, sabe? Liguei para amigo meu em todas as regiões do país. E um dia, vi em um grupo uma situação de uma empresa de som. Não tem aquele cara que a gente aluga o som para fazer o show? Aquele som parou. Cara, além de ajudar instituições, quero botar uma lista daquelas empresas de som, aquelas empresas de palco, empresas que limpam os banheiros na hora da festa. Cadê esse povo? Está todo o mundo sem emprego. Então, na minha live, quis puxar isso para atender um pouco a essas pessoas. Graças a Deus a gente conseguiu.
As pessoas que indiretamente vivem por conta dos seus shows, esse mercado que te cerca. O mundo do show business é o último a voltar de todos.
Olha, enquanto não arrumar um remédio, uma vacina, eu particularmente não mandaria o meu filho para a escola. Acredito que não tem mais o normal, vai ter o novo normal. Muitas vezes a gente vive em um fluxo, em uma loucura... Eu já tinha falado para os meus sócios que queria diminuir o ritmo. Eu pedia muito a Deus, não vou mentir, sabedoria para trilhar um novo caminho. Mas não nesse formato, né? Porque parou demais. Ninguém estava preparado para uma situação como esta, mas sei que vou ter que me adequar. Porque, quando tudo isso voltar, não quero voltar da forma como vivia antes, em uma vida louca, sobe e desce. Estou com saudade disso, não vou mentir, mas quero realmente poder aproveitar mais, como estou aproveitando a minha família, sabe? Quero poder conviver mais com as pessoas que amo, viver mais momentos com os meus amigos. Vi que a gente precisa de fato de muito pouco para viver.
Naquela loucura desenfreada de 20 shows por mês, você se dava conta de que não precisava daquilo tudo?
Leo, por eu ser um artista, preciso estar com um sapatinho bom, com uma calça boa, uma camisa de marca, isso vai muito também da minha imagem. A minha vida já me leva a gastar mais, porque tenho que me apresentar bem, é um programa de TV, é um show. E agora não preciso mais. Então, assim, quando dá essa freada em tudo, você já começa a ter menos despesa. Mas estou falando de coisas que, quando eu olho, me pergunto se preciso realmente disso ou daquilo. Acho que todo o mundo fala sobre ter mais tempo para aproveitar a família, e agora estou tendo. Mas não posso me esquecer de tudo o que está acontecendo no mundo. Eu vim da fazenda para Fortaleza hoje e levei um choque de realidade nas ruas.
Como está Fortaleza?
Muitos carros nas ruas, mas ainda continua vazia, muitos lugares fechados. Mas, meu Deus, como é que está vivendo esse povo? Quem tem poucas responsabilidades talvez esteja tranquilo, mas quem tem muitas responsabilidades tenho certeza de que não está dormindo.
E a gente está falando de um povo já sofrido né? De um povo do Nordeste que já vivia em carência.
Não gosto de puxar para o Nordeste. Acho que no nosso país existem muitos países. Tenho a oportunidade de viajar o Brasil inteiro e vejo que, em muitas cidades, em vários estados, todos têm aquela região com pessoas bem-sucedidas e outra com pessoas que infelizmente passam por dificuldades.
Você falou que, quando tudo voltar, não quer que o seu filho vá à escola. Como é que você acha que as pessoas vão ao show agora?
Acho que as pessoas estão com saudade, tem muita gente que não vê a hora de sair de casa, de ir para uma balada, para um barzinho. É tudo muito incerto, Leo.
Você acha que as lives vão permanecer?
Acho que sim, vai ser um novo momento. "Voltaram os shows, beleza, vamos aos shows!" Mas, sei lá, penso: pelo menos um show por mês quero que seja transmitido pelo YouTube. Não tem aquele show que é especial? Este momento, no meu ponto de vista, é um momento de união, não de brigar com a emissora, de brigar com plataformas. Essa é a minha postura. Essa junção que estou fazendo com o Raça Negra, por exemplo, é a realização de um sonho e acho que vai ficar muito bacana. A minha próxima live depois dessa já está pronta, inclusive já divulguei, vai ser o meu arraiá.
A gente vai ter que se adaptar. É o que você falou: vamos ter que aprender a viver com menos.
É um assunto passado já, mas tudo é a forma como se coloca para o povo. A questão dos shows, dos funcionários. Meu irmão chamou um por um aqui na empresa e conversou sobre este novo momento. Leo, nós estamos planejando [o retorno] para outubro, mas não sei se volta em outubro de fato. Então, são sete, oito meses sem faturamento. Como consigo manter uma empresa com todo o mundo empregado ganhando o seu salário 100%? Não consigo. Não estou dormindo bem, porque sei que, além da minha família, que é gigantesca, há pessoas que não posso abandonar neste momento. Aí sai lá na imprensa: "Wesley reduz 50% do salário do povo". Não quero abandonar ninguém que está comigo. Mas o que quero compartilhar com você, é o seguinte: a maioria dos artistas, posso afirmar que 80%, 90%, pagam por show. Aí seria muito fácil eu chegar hoje para a imprensa, se pagasse meu povo por show, e dizer que não vou demitir ninguém. Se demitir o meu baterista, ele vai trabalhar onde agora? O meu baixista vai trabalhar com que artista? Ninguém tem emprego.
Até quando você acha que consegue mantê-los ganhando 50%? Até quando você consegue sobreviver sem shows, Wesley?
A gente vai ter uma reunião justamente para ver como serão estes próximos meses. A live a gente faz, uma por mês. Mas quando você tira o custo da live, os patrocínios não conseguem cobrir o valor mensal que nós temos com a quantidade de funcionários que possuímos. Como a gente banca uma empresa sem ter faturamento? Aí vai muito a imagem do artista. Se eu postar que demiti os meus funcionários, sou a pior pessoa do mundo. Muitos artistas grandes não estão pagando nem um centavo para ninguém, para músico nenhum. Se meus funcionários forem demitidos hoje, eles têm pelo menos o seguro-desemprego.
Só tenho a agradecer a importância e a relevância desta nossa conversa. A gente trouxe a realidade do maior ícone hoje da música do Nordeste do Brasil. O momento não é fácil para ninguém.
A minha vida é igual à de todo o mundo. Tenho os mesmos problemas, tenho as mesmas dificuldades. Tenho problema familiar. A gente tem um grupo de não sei quantas pessoas, que tem briga todos os dias, mas não mexe com nenhum de nós, não, porque o pau canta mesmo. A gente briga, a gente se ama, mas não mexe com "nóis" não. A nossa família é barraqueira mesmo.
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