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Mauricio Stycer

Segunda Chamada: ao abraçar a realidade, ficção pode atingir outro patamar

A professora Sonia (Hermila Guedes) tenta ajudar Rita (Nanda Costa), que tomou um abortivo - Globo/Divulgação
A professora Sonia (Hermila Guedes) tenta ajudar Rita (Nanda Costa), que tomou um abortivo Imagem: Globo/Divulgação

Colunista do UOL

10/11/2019 05h01

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Já em seu quinto episódio, "Segunda Chamada" tem chamado a atenção pelo esforço em reproduzir, da forma mais realista possível, o cotidiano de professores e alunos de uma escola pública na periferia de São Paulo no período noturno.

Neste mais recente episódio, com duração de apenas 40 minutos, a série tratou de três temas complexos e delicados: aborto, amamentação em público e machismo. Drama demais para um episódio só? Talvez. Mas "Segunda Chamada" não está nem aí. A série transborda urgência e pesa um pouco a mão para emocionar com dramas inspirados na realidade.

Por coincidência, um dia depois de "Segunda Chamada" mostrar o caso de uma jovem mulher que morreu depois de tomar duas pílulas abortivas, por sugestão de um camelô, a Folha trouxe reportagem de destaque sobre números de adolescentes grávidas em bairros pobres de São Paulo.

O tema do aborto, aliás, já havia aparecido em três novelas diferentes este ano, "Topíssima", "Malhação" e "Bom Sucesso".

Na trama da Record, uma jovem humilde foi enganada por um rapaz que se fez passar por rico, engravidou e foi convencida por ele a fazer aborto numa clínica clandestina. Morreu. E o rapaz foi condenado à prisão.

No folhetim infanto-juvenil da Globo, uma médica salvou a vida de uma jovem que teve o útero perfurado por causa de um aborto e a enfermeira quis denunciar a paciente à polícia. Aceitou não fazer isso depois que o diretor do hospital disse que a atitude burlaria a ética médica.

Na novela das 19h da Globo, os prós e contra de um aborto foram discutidos de forma franca e plural por vários personagens após uma das protagonistas ter engravidado contra a sua vontade (o marido trocou o anticoncepcional por farinha). Ao final, ela decidiu ter o bebê, não sem antes observar: "Eu não sou a favor do aborto. Ninguém é a favor do aborto. Mas eu sou a favor de ter o direito de decidir, você entendeu? De decidir sobre o meu corpo, sobre a minha vida".

É curioso observar como as quatro obras de ficção exibiram quatro abordagens diferentes do mesmo assunto. O espectador só tem a ganhar quando um tema polêmico e difícil da realidade é tratado com seriedade pela ficção.

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