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Mauricio Stycer

Renovação de autores e redução de custos explicam saída de Aguinaldo Silva

Aguinaldo Silva, autor de inúmeras novelas, está deixando a Globo após 40 anos de trabalho - Foto: Globo/ Cesar Alves
Aguinaldo Silva, autor de inúmeras novelas, está deixando a Globo após 40 anos de trabalho Imagem: Foto: Globo/ Cesar Alves

Colunista do UOL

03/01/2020 05h01

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Aos 76 anos, Aguinaldo Silva foi adicionado esta semana a um time brilhante, do qual fazem parte também Gilberto Braga (74), Walter Negrão (78), Manoel Carlos (86) e Benedito Ruy Barbosa (88).

Todos eles são autores de novelas com enormes serviços prestados à Globo, mas que se aposentaram, não tiveram contratos renovados ou que ainda seguem vinculados mesmo sem emplacar há anos novos projetos na emissora.

Eles não são os únicos a passar por isso, mas acabaram se tornando as faces mais visíveis (ou as "vítimas" mais ilustres) de um radical processo de renovação da teledramaturgia da Globo, comandado por Silvio de Abreu (77 anos) desde o final de 2014.

Em agosto passado, durante a inauguração dos novos estúdios da Globo, Abreu disse que estabeleceu como uma de suas metas o lançamento de autores estreantes. Na ocasião, ele festejou ter lançado "17, 18 novos autores". Um levantamento que eu fiz apontou 15 novatos.

A lista de "novos autores" inclui vários roteiristas que já colaboravam há anos com autores veteranos da Globo: Suzana Pires e Júlio Fischer ("Sol Nascente"), Thereza Falcão e Alessandro Marson ("Novo Mundo"), Ângela Chaves e Alessandra Poggi ("Os Dias Eram Assim"), Paula Amaral ("Verão 90"), Daniel Adjafre ("Deus Salve o Rei"), Claudia Souto ("Pega Pega"), Maria Helena Nascimento ("Rock Story"), Mario Teixeira ("Liberdade, Liberdade"), Manuela Dias ("Ligações Perigosas"), Bruno Luperi ("Velho Chico"), Maria Camargo ("Dois Irmãos") e Cao Hamburger ("Malhação, Viva a Diferença").

"Porque eu achava que uma das coisas que faria a novela ter continuidade seria ter novos autores, novas ideias, porque senão o gênero iria morrer", disse Silvio de Abreu durante a inauguração dos novos estúdios da Globo.

Como escrevi na ocasião, o executivo não mencionou, mas a aposta em novos autores tem, também, uma razão econômica. Com contratos antigos, os autores veteranos, muitos há mais de três décadas na emissora, custam caro. Alguns produzem uma novela a cada três anos; outros, nem isso. E ganham mesmo nos períodos em que não estão no ar. Os novatos ganham muito menos, claro.

A não renovação do contrato de Aguinaldo Silva está diretamente ligada a estas duas questões - o processo de renovação de autores e a redução de custos. A baixa audiência e os inúmeros problemas causados por "O Sétimo Guardião", o seu último trabalho na emissora, creio, foram menos determinantes para esta decisão.

Dificuldades de relacionamento interno também podem ter influído, mas a Globo não dispensaria um profissional com o currículo de Aguinaldo Silva se avaliasse que ainda havia uma relação de custo-benefício positiva para mantê-lo. A nota da emissora informa que o autor não tinha "nova obra prevista".

Nestes cinco anos à frente da Teledramaturgia, Silvio de Abreu rejeitou ou engavetou inúmeros projetos de novelas e séries apresentados por outros autores veteranos. Além dos cinco já citados, cabe mencionar também Miguel Falabella, Euclydes Marinho, Maria Adelaide Amaral, Antônio Calmon, Lauro Cesar Muniz e Carlos Lombardi, entre outros.

Entre os autores da "velha guarda", com mais de 70 anos, ainda em plena atividade na Globo é possível citar Gloria Perez e Alcides Nogueira, para não falar do próprio Silvio de Abreu.