Roda Viva não pede sugestão nem submete bancada a entrevistado, diz Cultura
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Mais tradicional programa de entrevistas da TV aberta brasileira, o Roda Viva se viu envolvido em uma polêmica esta semana, às vésperas da estreia de uma nova apresentadora, a jornalista Vera Magalhães. A primeira entrevista sob o seu comando, na próxima segunda-feira (20), será com o ministro da Justiça, Sergio Moro.
Uma provocação feita pelo jornalista Glenn Greenwald, um dos fundadores do site The Intercept, abriu um debate público sobre a escolha dos jornalistas que participarão da bancada de entrevistadores.
"Seria indesculpável e um tanto covarde para o Roda Viva permitir que Sergio Moro aparecesse sem colocar um jornalista do The Intercept Brasil no painel para participar da discussão", escreveu Greenwald, acrescentando a hashtag "InterceptNoRodaViva".
Como se sabe, foi o The Intercept que publicou originalmente o vazamento de mensagens entre Moro e os procuradores da operação Lava Jato, em junho de 2019. Na sequência, diferentes veículos de mídia, como Folha, UOL, Veja e El País, atuaram como parceiros na publicação.
Um dia depois da provocação de Greenwald, a TV Cultura divulgou nesta quarta-feira os nomes dos cinco jornalistas que vão participar do programa: Alan Gripp (O Globo), Andreza Matais (Estadão), Leandro Colon (Folha), Malu Gaspar (Piauí) e Felipe Moura Brasil (Jovem Pan).
Procurado pela coluna, o diretor de jornalismo da TV Cultura, Leão Serva, considerou "indelicada" a mensagem de Greenwald, que foi entrevistado pelo Roda Viva sobre a chamada Vaza Jato em setembro passado. A entrevista, registrei na época, debateu mais os métodos do que o conteúdo dos vazamentos.
Falando sobre a sua gestão, iniciada em agosto de 2019, Serva diz: "A escolha do entrevistado e dos entrevistadores é feita pela TV Cultura. Não pedimos sugestões nem submetemos a bancada ao entrevistado. Alguns já fizeram sugestões, mas nenhuma foi acatada".
Atualmente, a escolha é feita em uma reunião semanal com as presenças do editor-chefe do programa (Carlos Taquari), a apresentadora (Vera Magalhães), o diretor de jornalismo (Serva), o presidente da TV Cultura (José Roberto Maluf) e o vice-presidente (Carlito Camargo).
O Roda Viva está no ar desde setembro de 1986. Já teve uma quinzena de apresentadores e passou por diferentes fases. A mais recente, iniciada na gestão de Maluf, a partir de junho de 2019, restabeleceu o princípio que a bancada de entrevistadores do programa deve ser formada por jornalistas, e não por especialistas (juristas, médicos, professores, cientistas etc).
Daniela Lima foi a primeira apresentadora desta nova fase, mas deixou a função em dezembro (foi para a CNN Brasil). Vera Magalhães a substituiu.
Veto público em 1999
Nem sempre foi assim. Em 2018, segundo a jornalista Cristina Padiglione, Jair Bolsonaro, então candidato à Presidência, teria feito restrições à presença de Marcelo Tas na bancada. A Cultura não confirmou a informação na época.
Em 1999, a emissora tornou público um veto. Ao entrevistar Lula, na ocasião presidente de honra do PT, a direção da Cultura informou publicamente que o entrevistado havia vetado o nome de um entrevistador. O apresentador, então, Heródoto Barbeiro leu no ar uma breve nota a respeito, informando o fato.
"Nós gostaríamos também de registrar que o jornalista Luiz Maklouf Carvalho foi convidado pela produção do Roda Viva para participar da bancada de entrevistadores. A assessoria de Lula vetou a participação de Maklouf em nosso programa", disse Barbeiro antes de começar a entrevista. Deu-se então um diálogo entre o jornalista Ricardo Noblat e o entrevistado a respeito do veto:
Ricardo Noblat: Eu queria fazer uma pergunta inicial e desculpe se eu não prestei atenção direito. Você [dirigindo-se a Heródoto Barbeiro] anunciou que um jornalista tinha sido convidado e tinha sido vetado pela assessoria do Lula. Como eu nunca vi isso no Roda Viva, pelo menos publicamente, eu gostaria de entender por que houve um convite a um jornalista e o nome do jornalista foi vetado?
Lula: Olha, eu estava em Paris, voltei no sábado à noite. E, no domingo de manhã, fiquei sabendo do veto. E eu concordo com o veto, porque o problema meu com o Maklouf foi um problema pessoal e não é um problema político e eu acho que a minha assessoria agiu corretamente.
Ricardo Noblat: Eu não vou entrar da discussão do pessoal, mas eu não sabia que essa prática existia no Roda Viva. Eu pelo menos participo aqui há muito tempo e nunca tinha tomado conhecimento de uma situação dessas.
Lula: Sempre tem a primeira vez.
Ricardo Noblat: É verdade.
Lula: Sempre tem.
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