Roda Viva contraria críticos e faz boas perguntas a Moro, que não responde
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Contrariando muitas expectativas, o "Roda Viva" desta segunda-feira (20) mostrou um time afiado de entrevistadores diante do ministro Sergio Moro. Os integrantes da bancada fizeram perguntas boas e questionaram inúmeras atitudes do entrevistado, que preferiu, quase sempre, tergiversar e evitar respostas objetivas.
O programa, que marcou a estreia da apresentadora Vera Magalhães, foi alvo de pressões durante a semana anterior pela inclusão de um jornalista do The Intercept na bancada dos entrevistadores. O site foi responsável pela publicação dos vazamentos de conversas entre o então juiz Moro e procuradores da Operação Lava Jato.
De forma pouco usual, a Cultura respondeu à pressão antecipando, na última quarta-feira, a divulgação da bancada de entrevistadores: Alan Gripp (O Globo), Andreza Matais (Estadão), Leandro Colon (Folha), Malu Gaspar (Piauí) e Felipe Moura Brasil (Jovem Pan)
Em entrevista à coluna, o diretor de jornalismo da emissora, Leão Serva, assegurou que não consultou Moro previamente sobre os jornalistas escolhidos para compor a bancada. Citando fontes não identificadas, o The Intercept replicou, no último sábado, afirmando que o ministro aprovou, sim, os nomes dos entrevistadores.
Ao abrir o programa, Vera Magalhães reafirmou a posição da emissora: "Aproveito para esclarecer que a produção do Roda Viva não submete previamente ao entrevistado a bancada de entrevistadores. Trata-se de uma regra, em respeito ao público e também aos entrevistados."
No Twitter, a entrevista provocou reações muito diferentes. Parte do público considerou que Moro teve vida fácil diante de entrevistadores bonzinhos ou despreparados. Outra parte saudou o ministro como herói diante de entrevistadores mal-intencionados. E, por fim, houve quem lamentasse a forma como o entrevistado evitou responder a boas perguntas da apresentadora e dos entrevistadores.
"É grave a falta de um jurista experimentado na bancada de entrevistadores do
Roda Viva com Moro. O ministro responde como quer, interpretando lei ao seu bel prazer. Note que dificilmente Moro foi ao programa sem passar por media training. Jornalistas estão em franca desvantagem", lamentou a jornalista Barbara Gancia.
"Roda Viva não quer informar, quer constranger o entrevistado. Uma lástima a equipe de entrevistadores", protestou o ministro Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
"Moro é o primeiro caso de juiz que comentava política semanalmente e, após abandonar a magistratura para assumir um cargo político, evita fazer comentários políticos. O que ele tem tanto a esconder?", questionou Guilherme Boulos, ex-candidato à Presidência pelo PSOL em 2018.
Entendo a expectativa do espectador de que os entrevistadores encurralem o entrevistado no "Roda Viva", mas a tradição do jornalismo brasileiro é outra. Os entrevistados aceitam o convite do programa porque sabem que as perguntas podem ser duras, mas o tratamento será cordial.
Acho que as perguntas necessárias foram feitas a Sergio Moro, mas não há muito o que fazer quando o entrevistado não quer responder. Como muita gente notou, ele enrolou ou tergiversou em diversos momentos.
A entrevista com Manuela D´Avila, em 2018, chamou tanto a atenção porque foi uma exceção dentro deste padrão - ela foi interrompida 40 vezes durante os 80 minutos da entrevista, um número muito acima da média.
O formato do programa favorece quem é o centro das atenções. Tenho a impressão de que quanto mais perguntas e réplicas são feitas, mais o espectador fica do lado do entrevistado.
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