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Mauricio Stycer

Como o futebol, o BBB mudou e agora vence quem tem o jogo mais eficiente

Colunista do UOL

15/04/2020 16h25

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O texto abaixo foi escrito pelo jornalista Edu Muniz, autor do livro "O Torcedor do século 21". Ele traça um paralelo entre o futebol e o BBB, defendendo a ideia de que a atual forma do reality, decidido por torcidas organizadas, pode não ser a mais bonita, mas é a mais eficiente. Assim como o Barcelona dirigido por Pep Guardiola.

Por Edu Muniz

O "BBB20" chega a sua reta final já tendo desenvolvido diferentes enredos dentro e fora da casa. Uma destas histórias está relacionada à grande repercussão nas redes sociais: o forte envolvimento de jogadores e torcedores de futebol com dois participantes, o ator Babu Santana e o arquiteto Felipe Prior.

Assim como o futebol, o "BBB" passou por uma série de mudanças de dinâmica ao longo do tempo. Embora o objetivo principal permaneça o mesmo - fazer gols para vencer e superar paredões até sair campeão - o meio de chegar a essa meta foi se modificando.

Algumas regras mudaram, assim como o conhecimento acumulado pelos jogadores antes de entrarem em campo. A internet ajudou a agregar grupos de fãs engajados em votar de acordo com os interesses dos seus participantes favoritos.

O "BBB" raiz lembra o futebol disputado até a Copa de 1970. Os participantes mais queridos, de um modo geral, eram os campeões. Costumava dar a lógica. Quem determinava quem sairia com o título era o espectador tradicional, sentado no sofá de sua casa.

E então surgiu a Holanda da Copa de 74. Uma revolução no futebol. Uma nova forma de jogar. Do mesmo modo, tivemos no "BBB 10" a "Máfia Dourada", que alterou a maneira de torcer. Os fãs de Marcelo Dourado se encontravam e se organizavam principalmente em comunidades do finado Orkut.

Vale lembrar, porém, que a conexão dos fãs estava relacionada ao que o seu favorito fazia dentro da casa mais vigiada do Brasil. Os anos se passaram e essa dinâmica se manteve. Cada participante passou a ter um grupo de fãs com boas noções de organização para se engajar e votar.

Chegando ao BBB atual, é possível fazer um paralelo com o Barcelona da época em que foi comandado por Guardiola. Talvez não te encante esta forma de jogo, mas é eficiente e muitos tentam copiar este estilo.

Assim como antes, os fãs dos participantes se organizam de modo prático, mas agora sem relação necessariamente com o jogo dentro da casa. As atitudes do confinado não são mais tão relevantes assim. Virou religião. O engajamento é absurdamente alto.

Isso faz com que participantes teoricamente mais fortes, com um maior número de pessoas que nutrem um carinho e torcem, possam ser eliminados por algum outro teoricamente mais fraco, desde que com um "fandom" mais engajado.

Este último ponto é o principal e o que mais determina resultados atualmente: o fandom. O jogo mudou. Evoluiu. Você pode achar chato, mas é o que acontece. É o novo "BBB".

O fandom chegou para ficar. E eles são fortes. Muito. Composto majoritariamente por adolescentes com ímpeto para votar, estes grupos de fãs têm o poder de transformar paredões teoricamente fáceis em difíceis. Mesmo quando envolve pessoas que estão queimadas aos olhos do público mais tradicional.

Foi o que aconteceu na noite desta terça (14). Gizelly foi eliminada, mas Babu, uma pessoa com baixa rejeição natural do chamado público do sofá, levou a impressionante marca de 41% dos votos. Resultado dos fandoms da Gizelly em parceria com o de outros brothers.

Se contra Gizelly, uma sister "fraca", Babu levou sufoco, o que dizer em um eventual paredão contra Rafa e/ou Manu, que são participantes não tão mal vistas aos olhos do sofá como era a eliminada desta semana?

O "BBB", assim como o futebol, mudou. O domínio é do fandom. Cabe aceitar.