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Mauricio Stycer

Após reclamação do governo, Silvio Santos cancela edição do jornal do SBT

O apresentador e empresário Silvio Santos - Reprodução/SBT
O apresentador e empresário Silvio Santos Imagem: Reprodução/SBT

Colunista do UOL

23/05/2020 19h56

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Nos bastidores do SBT, a notícia de que Silvio Santos mandou exibir uma reprise do programa "Triturando" no horário do "SBT Brasil" neste sábado (23) deixou o departamento de jornalismo em choque. A coluna ouviu de quatro funcionários da emissora que a decisão teve motivação política. Procurado, o SBT não se pronunciou.

Principal telejornal do SBT, no ar desde agosto de 2005, o "SBT Brasil" nunca havia deixado de ir ao ar. Não houve qualquer aviso ao espectador sobre a mudança na grade deste sábado.

Silvio Santos ouviu reclamações de que a edição de sexta-feira do "SBT Brasil" desagradou ao governo. O tema principal do telejornal, como não poderia deixar de ser, foi a divulgação do vídeo da reunião ministerial ocorrida em 22 de abril.

O dono do SBT teria pedido, no início da tarde deste sábado, que o telejornal não voltasse a tratar do assunto esta noite. Que mencionasse apenas a agenda do dia do presidente Jair Bolsonaro. Uma reportagem com a repercussão dos acontecimentos de sexta-feira estava programada para este sábado, mas foi cancelada.

No meio da tarde, o jornalismo da emissora foi informado de que a edição do telejornal seria substituída por uma reprise do programa de fofocas. A equipe que estava de plantão não recebeu explicações sobre a decisão.

Especulou-se, inicialmente, que Silvio havia decidido fazer um teste, colocando o "Triturando" no horário do "SBT Brasil", às 19h45. E que o telejornal poderia ser exibido às 20h30.

Durante parte da tarde, ainda em clima de indefinição, a equipe do plantão seguiu produzindo uma edição do telejornal, na expectativa que houvesse uma contraordem e o "SBT Brasil" fosse ao ar às 20h30. Por volta das 19h30, porém, a equipe foi dispensada do plantão.

Como já escrevi mais de uma vez, inclusive num livro dedicado à trajetória do empresário e apresentador, Silvio fez afagos e bajulou todos os presidentes do Brasil desde 1970, de Médici a Bolsonaro. "Eu sou concessionário, um 'office boy' de luxo do governo. Faço aqui o que posso para ajudar o país e respeito o presidente, qualquer que seja o regime", chegou a dizer em 1985, no governo Sarney.

Mas o entusiasmo com que tem acolhido em sua emissora o clã Bolsonaro e figuras ligadas ao atual governo destoa do padrão.

Há pouco mais de um mês, após a demissão de Luiz Henrique Mandetta, foi noticiado que Silvio havia indicado ao presidente um nome para o comando do Ministério da Saúde. Em nota, ele negou a informação e disse: "A minha concessão de televisão pertence ao governo federal e eu jamais me colocaria contra qualquer decisão do meu 'patrão' que é o dono da minha concessão. Nunca acreditei que um empregado ficasse contra o dono, ou ele aceita a opinião do chefe, ou então arranja outro emprego".