Não é só na novela; falta representatividade racial em todas as áreas da TV
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Mais notada na teledramaturgia, a falta de representatividade racial na televisão se estende, na realidade, a todas as áreas. Foi essa a importante questão levantada esta semana pela jornalista Alexandra Loras, ex-consulesa da França em São Paulo, durante entrevista à CNN Brasil.
O problema vem de longe, assim como as tentativas de solucioná-lo. Há dois anos, em maio de 2018, o Ministério Público do Trabalho notificou a Globo, pedindo para a emissora "propiciar a representação da diversidade étnico-racial da sociedade brasileira" na novela "Segundo Sol".
Ambientada em Salvador, uma cidade brasileira com maioria de população preta ou parda, a novela de João Emanuel Carneiro tinha apenas protagonistas brancos e poucos atores negros em papeis secundários.
Em junho de 2018, o MPT também notificou SBT e Record pelo mesmo motivo: falta de diversidade racial em seus programas e em seus quadros funcionais. Um levantamento do UOL mostrou, na ocasião, que os atores negros trabalhando na dramaturgia das três principais emissoras do país representavam apenas 7,98% do total.
Agora em 2020, na esteira dos protestos contra racismo e violência policial contra negros nos Estados Unidos, Alexandra Loras apontou o dedo para as escolhas feitas pelo jornalismo. "Hoje, a CNN e toda mídia brasileira têm o poder de convidar acadêmicos negros para conversar sobre essa temática", disse ela a Daniela Lima no programa "CNN 360º".
E completou: "Quando vejo o William Waack, que foi mandado embora por um episódio de racismo, e hoje ele debater tanto tempo sobre o racismo... Eu acho que deveríamos também convidar negros para debater sobre essas questões".
Loras tocou em um ponto sensível. As emissoras, e não apenas a CNN Brasil, têm o hábito de ouvir sempre os mesmos "especialistas" e raramente trazem vozes novas para os debates. Numa discussão sobre o racismo, como ela disse, seria fundamental ouvir a opinião de estudiosos negros.
O mesmo vale para o time de apresentadores das emissoras de TV. Embora haja uma preocupação neste quesito, jornalistas pretos ou pardos ainda são minoria em todos os canais.
Na mesma terça-feira (02) que a CNN Brasil ouviu críticas, a GloboNews foi igualmente alvo de protestos e ironias por debater sobre os protestos contra o racismo nos EUA com uma bancada formada exclusivamente por brancos. Um meme com a foto de todos os participantes do programa "Em Pauta" e o questionamento "rapaziada, a pauta é racismo" viralizou na internet.
No dia seguinte, o apresentador Marcelo Cosme leu uma nota da Globo em que disse: "Entendemos o recado". O programa, então, foi apresentado por Heraldo Pereira e o assunto foi debatido por cinco jornalistas negras da emissora: Maju Coutinho, Flavia Oliveira, Zileide Silva, Aline Midlej e Lilian Ribeiro.
O programa foi reprisado na sexta-feira (05) dentro do "Globo Repórter", da Globo, acrescido de um depoimento de Gloria Maria, que falou de situações de racismo que vivenciou.
A ver se a situação muda de fato.
Ao assumir o comando do "Jornal da Cultura", há dois anos, Joyce Ribeiro disse: "Em 2018, a presença de uma mulher negra em papel de destaque na TV é tão questionada e chama tanto a atenção" . No ano seguinte, quando entrou para a escala de plantonistas do "Jornal Nacional" e se tornou a primeira mulher negra a apresentar o telejornal, Maria Julia Coutinho disse: "É simbólico e, infelizmente, ainda é notícia".
"A TV fica melhor quando contempla a diversidade", disse Lázaro Ramos, em entrevista ao UOL, em março de 2017. Três anos depois, este objetivo ainda está longe de ser alcançado.
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