Topo

Mauricio Stycer

Programas policiais na TV não têm limites; "Cidade Alerta" é investigado

"Quem é amigo desse homem sabe quem é?, disse Bacci ao apresentar imagem borrada de suspeito de crime  - Reprodução
"Quem é amigo desse homem sabe quem é?, disse Bacci ao apresentar imagem borrada de suspeito de crime Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

19/07/2020 06h01

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Programas jornalísticos têm a obrigação de dar notícias, não de ser notícia. O "Cidade Alerta" contrariou mais uma vez este princípio básico e voltou a ser notícia esta semana por motivos trágicos.

O programa da Record divulgou na segunda-feira (13) a imagem de um homem suspeito de um crime bárbaro. Como reconheceu o apresentador Luiz Bacci, ainda que borrada, a fotografia permitia que o homem fosse identificado.

Disse Bacci: "Ainda não temos autorização para mostrar sem esse borrão. Mas quem conhece esse homem já passa informações para a polícia. Quem é amigo desse homem sabe quem é".

Horas depois da exibição desta imagem, conforme registra o boletim de ocorrência do caso, o homem foi assassinado com sete tiros. Conforme relato do filho dele, ele foi procurado em casa por diversas pessoas e levado a um local desconhecido.

Perguntei à Record por que o "Cidade Alerta" exibiu a imagem mesmo sabendo que o homem poderia ser identificado. A emissora respondeu que "entre amigos, familiares, testemunhas e moradores da região de Salto, todos já sabiam quem era".

Dois dias depois de esta coluna ter revelado o caso, o repórter Rogério Pagnan, da Folha, informou que a Polícia Civil instaurou um inquérito para apurar se profissionais da TV Record cometeram crime ao mostrar imagem do homem como suspeito de um crime.

Escreve o repórter: "A polícia afirma que Dias não era suspeito de crime algum. Diz que só foi procurada por produtores do programa quando a matéria já estava no ar, com uma série de informações imprecisas."

Há pouco mais de um mês, o programa comandado por Luiz Bacci foi notícia após a filha de um homem assassinado se sentir desrespeitada pela abordagem de uma repórter.

"Eu perdi meu pai hoje e não estou vendo um pingo de respeito aqui. Vocês falando que ele é agiota, gente! Como assim, qual é essa informação? Da onde vocês tiraram isso, por favor? Eu acho que vocês têm que ter um pingo de consideração!", reclamou. "Achei que o jornalismo da Record era mais responsável".

Por serem considerados jornalísticos, programas como o "Cidade Alerta" podem ser exibidos em qualquer horário. Todas as restrições sobre a apresentação de cenas violentas em novelas durante o dia não valem para os jornalísticos.

Estes programas não costumam atrair muito interesse comercial, ou seja, não têm muita publicidade. Mas alcançam boa audiência, ajudando as emissoras a elevar as suas médias, o que pode ter impacto positivo na hora de negociar a venda de comerciais.

Stycer recomenda
CNN anuncia "talk show", mas apresenta "colóquio" sonolento no fim de noite

Crise da Igreja Universal em Angola é o tema principal do Jornal da Record

Mais solto e sem paciência, Bonner desenvolve a arte de opinar com caretas

Legal o SBT exibir a final do Carioca, mas emissora precisa de um projeto

Melhor da semana
Curada do covid, Eliana volta a gravar seu programa nesta quarta-feira

Pior da semana
Em 15 anos, SBT perdeu mais da metade do público infantil

Podcast
'Inquietude por me reinventar causou minha saída da Globo', diz Otaviano

Uma versão deste texto foi publicada originalmente na newsletter UOL Vê TV, que é enviada às quintas-feiras por e-mail. Para receber, gratuitamente, é só se cadastrar aqui.

Siga a coluna no Facebook e no Twitter.