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Mauricio Stycer

Globo usa casais na vida real para gravar série sobre amores na pandemia

Taís Araújo e Lázaro Ramos em casa, com o equipamento de gravação que estão usando para gravar nova série da Globo - Divulgação Globo / Estevam Avellar
Taís Araújo e Lázaro Ramos em casa, com o equipamento de gravação que estão usando para gravar nova série da Globo Imagem: Divulgação Globo / Estevam Avellar

Colunista do UOL

20/07/2020 06h01Atualizada em 20/07/2020 16h52

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Como fazer uma série meio dramática, meio cômica, sobre "amores possíveis" em tempos de quarentena? Como gravar cenas românticas sem contato físico, sem a presença de técnicos?

"A necessidade é a mãe da invenção", diz Jorge Furtado sobre a ideia de recorrer exclusivamente a atores que são casados ou estão quarentenando juntos por causa da pandemia de coronavírus.

Cada um dos quatro episódios da nova série que a Globo planeja exibir ainda este ano na TV aberta é protagonizado por uma dupla: Taís Araújo e Lázaro Ramos; Luisa Arraes e Caio Blat; Fabiula Nascimento e Emilio Dantas; Fernanda Torres e Fernanda Montenegro.

"A ideia veio de uma urgência de fazer alguma coisa, de trabalhar, de contar histórias", conta Furtado ao UOL. "É a nossa profissão. Eu vivo disso há 38 anos, contando histórias", diz o criador de "Mister Brau", "Sob Pressão" e "Todas as Mulheres do Mundo".

Superado o primeiro problema, o segundo foi: Como fazer uma série dessas sem colocar outras pessoas em risco? "Escrevendo algo para eles no cenário onde eles estão", responde Furtado. Ou, como diz a diretora artística Patrícia Pedrosa, fazendo um "reality show da dramaturgia": entregando todo o equipamento de gravação na casa dos atores e ensinando-os, de forma remota, a operar.

"Eles operam tudo que a gente pede. A câmera que vai para a casa deles é uma câmera muito mais simples, 'pocket', do que a gente costuma trabalhar nos estúdios. De um jeito que eles consigam fazer. Eles recebem microfones. Tem que posicionar 'boom', lapela, botar refletor, operar a câmera, ajustar tripé, fazer absolutamente tudo, com todos nós aqui, de cada departamento, instruindo", conta Patrícia.

"É uma aventura", diz Furtado. "Estamos indo para Marte. É uma coisa nova, total. Eu disse para a Patrícia: o bacana da história é que tem alto risco de dar errado. Aí fica divertido", brinca. "Mas está dando muito certo. Já deu, na verdade. Os testes provaram que dá muito certo".

A série está programada para exibição na Globo às terças-feiras, em setembro. O título provisório é "Amores Possíveis", mesmo nome de um filme de Sandra Werneck, com Murilo Benício e Carolina Ferraz, exibido em 2001. Furtado prefere "Antes que o Amor Acabe". "É um título mais urgente, fala mais do momento", diz. "Mas o autor é último a saber essas coisas", brinca.

Assistindo a uma gravação

Assisti na semana passada à gravação de uma cena de um dos episódios, em um ambiente da casa de Taís Araújo e Lázaro Ramos. Vinte e cinco pessoas estavam conectadas, assistindo tudo à distância, pela plataforma Teams. A equipe sob o comando da diretora artística inclui também diretores e assistentes de fotografia, arte, som, produção, tecnologia, figurino e continuísmo.

A certa altura, o diretor de fotografia Dante Bellutti sentiu falta de um reforço na iluminação. "Eu queria botar um refletorzinho", disse. Se estivesse nos Estúdios Globo, um assistente correria para arrumar o equipamento no estúdio, mas foi o próprio Lázaro que precisou sair do lugar marcado para a cena e ajudar Bellutti.

"Redondinho ou quadradinho?", pergunta o ator. "Redondinho", responde o diretor de fotografia. Lázaro sai, então, e busca o acessório de iluminação. Instruído por Bellutti, coloca-o na posição e, após alguns testes, a gravação recomeça.

Patrícia Pedrosa conta: "Jorge é um cara muito generoso A ideia dele era colocar o máximo de pessoas para trabalhar. A gente conseguir movimentar o nosso meio. Botar quem está em casa sem trabalhar para produzir."

Time de autores

Cada episódio foi encomendado a autores diferentes. O protagonizado por Taís e Lazaro foi escrito por Alexandre Machado. É o primeiro texto dele desde a morte da mulher e parceira Fernanda Young (1970-2019). A história mostra um casal que começa uma DR impulsionada por um panelaço, no meio da pandemia.

O episódio com Caio e Luisa, escrito pelo próprio Furtado junto com os dois atores, conta a história de uma atriz e um aspirante a cineasta que se conhecem numa noite, vão juntos para a casa dela para passar o fim de semana e, quando ele pensa em ir embora, na segunda-feira, a pandemia começou e eles são obrigados a ficar juntos.

No episódio escrito por Jô Abdu e Adriana Falcão, Fabiula e Emilio vivem um casal que resolve se separar após ele descobrir uma traição da mulher. Mas a pandemia impede que ele vá embora.

Já a história protagonizada por Fernanda Montenegro e Fernanda Torres foi escrita por Antônio Prata, Chico Matoso, Jorge Furtado e a própria Fernanda Torres. A trama gira em torno do reencontro entre uma mãe e uma filha numa casa de campo, onde as duas estão confinadas, buscando restabelecer uma relação que estava balançada.

Este episódio é o único gravado por uma equipe profissional. Fernanda é casada com o cineasta Andrucha Waddington, e dois filhos deles, Pedro e Joaquim, também trabalham no meio. Assim, todos estão envolvidos na produção.

Cada episódio da série deve ter cerca de 25 minutos. "Pode ser que a gente tenha que diminuir um pouco. Vai depender de cada episódio" conta Patrícia Pedrosa, que tem no currículo a direção artística de "Cine Holliúdy", "Shippados" e "Todas as Mulheres do Mundo".

A diretora fala que a nova série terá uma "temperatura de dramédia" (drama + comédia). "A ideia é fazer as pessoas rirem, se divertirem. Fazer uma dramaturgia leve. Mas que dialogue com o momento que a gente está vivendo, que crie uma identificação do público com essas histórias", diz.