Como "Rock Story", relembre novelas em que o gênero foi mais que trilha

Roqueiro de verdade nunca vai assumir que assiste a novelas na TV ou em sites especializados. Afinal, as tramas geralmente não combinam com a cara de bandido, requisito um dia realçado como fundamental por Rita Lee. Mas o fato é que o gênero musical anda de mãos dadas com os folhetins da Globo pelo menos desde a década de 1970, quando o rock de Raul Seixas embalava os capítulos de “O Rebu”.
Nem sempre só como trilha sonora, às vezes o rock é também pano de fundo para as tramas, como aconteceu com “Estúpido Cupido” e “Bambolê”, que resgatavam os rocks e jaquetas de couro dos anos 50, ou mais recentemente com a novelinha teen “Malhação” e sua Vagabanda. Muitas telenovelas também contaram com personagens roqueiros ou defensores de seus subgêneros, caso dos punks de “Ti Ti Ti” e da roqueira de dentes afiados de “Vamp”. Até mesmo o clássico do Led Zeppelin, “Stairway to Heaven”, já foi tema de personagem.
A aposta da vez é “Rock Story”, nova novela das sete que estreou há uma semana. A trama gira em torno de um roqueiro, Gui Santiago, interpretado por Vladimir Brichta, que fez sucesso nos anos 1990 e agora tenta voltar ao estrelado com o apoio de um dono de gravadora, Gordo (Herson Capri).
Confira abaixo alguns dos melhores momentos desse casamento:
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"O Rebu" (1974)
Disputada a tapa por colecionadores, essa trilha musical chamou muita atenção na época por contar com uma maioria de canções compostas por Raul Seixas e Paulo Coelho. Para ambientar a trama que se passa numa única noite, quando acontece uma festa num casarão e um corpo é encontrado boiando na piscina, estavam ali, entre outras músicas, "Água Viva" e "Como vovó já dizia". Como vivíamos a fase mais dura do regime militar, os versos "Quem não tem colírio usa óculos escuros / quem não tem papel dá recado pelo muro / quem não tem presente se conforma com o futuro" foram substituídos por "Quem não tem filé come pão e osso duro / quem não tem visão bate a cara contra o muro".
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"Escalada" (1975)
Para uma novela que narra a escalada social e financeira de Antônio Dias (Tarcísio Meira), no período que vai de 1940 a 1975, a trilha sonora internacional contava com dois marcos iniciais da história do rock'n'roll - "(We're gonna) Rock around the clock", com Bill Haley & His Comets; e "Blue Suede Shoes", com Elvis Presley. Também estavam ali os sucessos de Paul Anka, "Diana" e "Put your head on my shoulder"; e de Neil Sedaka, "Oh! Carol" e "Stupid Cupid".
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"Estúpido Cupido" (1976)
Pela primeira vez uma trilha sonora de telenovela atingia a marca de 750 mil cópias vendidas, e o mais curioso era que não se tratavam de canções novas que atingiam o topo das paradas de sucesso, mas, sim, uma seleção de clássicos do rock dos anos 1950 e 1960. Nada mais apropriado para uma história escrita por Mario Prata, ambientada na cidade fictícia Albuquerque, no Rio de Janeiro, e que retrata o comportamento da juventude do início dos anos 1960, vestida de jeans e jaquetas de couro, como prova de rebeldia. A pioneira Celly Campello aparecia com o tema de abertura, versão de Fred Jorge para o hit de Neil Sedaka; e "Banho de Lua", outra versão de Fred Jorge. Já o irmão dela, Tony Campello, cantava "Boogie do bebê", e Sergio Murilo, "Broto legal".
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"Sol de Verão" (1982)
A trilha musical para a trama ensolarada de Manoel Carlos é um marco para o denominado BRock, o rock brasileiro dos anos 1980. Afinal, ali estão, entre outros, o megahit ?Você não soube me amar?, da Blitz; "Tempos Modernos", de Lulu Santos, que também aparece com a mais obscura "Tempo quente"; e "Coisas de casal", do Rádio Táxi. Mas o grande sucesso foi mesmo o tema romântico "Muito estranho (Cuida bem de mim)", cantado pelo roqueiro de Niterói (RJ), Dalto.
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"Um Sonho A Mais" (1985)
A trama tresloucada de Lauro César Muniz e Daniel Más, a respeito de um homem que vivia numa bolha, foi a que mais reuniu sucessos do BRock. Estavam ali "Me Liga", dos Paralamas do Sucesso; "Corações Psicodélicos", de Lobão e Os Ronaldos; "Egotrip", da Blitz; "Me Leva pra Casa", do gaúcho Joe Euthanázia; "Vivendo Ilusão", do Rádio Táxi; e "Garota do Ano", de Arnaldo Brandão, com a participação da banda Brylho. Mas sucesso mesmo fez o marcante tema de abertura "Whisky a Go Go", do Roupa Nova, que acompanhava imagens de um baile típico dos anos 1950.
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"Ti Ti Ti" (1985)
A trilha musical dessa novela de Cassiano Gabus Mendes pode não ter tido grandes rocks, além do tema de abertura, composto por Rita Lee e Roberto de Carvalho e gravado pela banda Metrô. Mas a personagem de estreia da atriz Beth Goffman, a punk Eduarda Macedo, entrou para a história em função do cabelo colorido, de mascar chicletes o tempo todo e fazer parte da turma da Lazinha (Claudia Jimenez).
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"Hipertensão" (1986)
Poucas vezes se foi tão inusitado e criativo quanto o produtor musical Guti Carvalho quando escolheu a música "AA UU", dos Titãs, como tema do idoso fazendeiro Napoleão (Cláudio Correa e Castro), que colocava os empregados e os amigos Candinho (Paulo Gracindo) e Romeu (Ary Fontoura) para fazer ginástica a cada amanhecer. A trilha do remake da novela "Nossa Filha Gabriela", de Ivani Ribeiro, contou com outros rocks de sucesso, como "Toda Forma de Poder", dos Engenheiros do Hawaii; "Só Pro Meu Prazer", dos Heróis da Resistência; e, acredite se quiser, a gravação exclusiva para a novela feita por João Gilberto de "Me Chama", do Lobão.
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"Bambolê" (1987)
A telenovela escrita por Daniel Más se passava no final da década de 1950, quando o rock começava a conquistar jovens mundo afora. Não é à toa que uma música bem ao estilo foi encomendada a Leo Jaime e serviu como tema de abertura. "Conquistador Barato" só não fez mais sucesso do que outra canção inédita que recuperava o clima das festinhas da época, "Festa do Amor", com Patrícia Marx, recém-saída do Trem da Alegria e iniciando na carreira solo. Também tocavam clássicos como "Jailhouse rock", com Elvis Presley; e "The Great Pretender", com os Platters.
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"Top Model" (1989)
Quer mais roqueiro do que ter filhos chamados Elvis, Ringo e Lennon? E ter como tema o clássico "Stairway to Heaven", do Led Zeppelin? E contar como melhor amigo um dos ícones do rock brasileiro, Evandro Mesquita, como Saldanha, o dono de uma barraca de sucos e que adora tocar gaita? E ter sido casado com Rita Lee, como Belatrix, a mãe de Jane e Ringo? Pois todas essas são marcas do inesquecível Gaspar, interpretado por Nuno Leal Maia, em "Top Model", de Antonio Calmon.
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"Vamp" (1991)
Claudia Ohana era Natasha, uma cantora de rock que, para brilhar na carreira, vendeu sua alma ao terrível conde Vladymir Polanski (Ney Latorraca), chefe dos vampiros que amedrontava a pequena cidade litorânea Armação dos Anjos. Na trilha musical da telenovela, a atriz cantava uma versão do sucesso dos Rolling Stones, "Sympathy for the Devil". Roqueiros também eram o tema de abertura, "Noite Preta", cantado por Vange Leonel; a divertida "Suga Suga", com João Penca e seus Miquinhos Amestrados; e "Tendo a Lua", dos Paralamas do Sucesso.
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"De Corpo e Alma" (1992)
Nessa novela escrita por Glória Perez, Eri Johnson interpretou o marcante gótico Reginaldo Freitas, que foi até parar na capa da trilha sonora internacional e tinha como tema "Fora de Ordem", de Caetano Veloso. Porém, nada marcou mais essa trama do que um fato da vida real que a envolveu -- o assassinato da atriz Daniela Perez, em 28 de dezembro de 1992, pelo ator que também fazia parte do elenco, Guilherme de Pádua, e a esposa dele, Paula Thomaz.
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"Malhação" (2004)
Estreando na televisão, a atriz e cantora Marjorie Estiano interpretou, na temporada de 2004 da "Malhação", a vilã Natasha, que fazia parte da Vagabanda, grupo de rock que se tornou mania entre os adolescentes, que ainda se divertia torcendo pelo casal Gustavo (Guilherme Berenguer) e Leticia (Juliana Didone). Na trilha musical nacional, estavam Jota Quest ("Do Seu Lado"), Detonautas ("Só Por Hoje"), Pitty ("Teto de Vidro"), Legião Urbana ("Eu Sei"), Frejat ("Sobre Nós e o Resto do Mundo"), Paralamas do Sucesso ("Seguindo Estrelas") e a própria Marjorie Estiano ("Você Sempre Será").