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Como esnobada de Kylie Jenner custou R$ 4,2 bilhões ao Snapchat

Kylie Jenner usa filtro de "Paradinha", de Anitta, no Snapchat - Reprodução/Instagram
Kylie Jenner usa filtro de "Paradinha", de Anitta, no Snapchat Imagem: Reprodução/Instagram

23/02/2018 14h41

"Então, ninguém mais abre o Snapchat? Ou só eu... que triste isso".

Bastou essa mensagem da estrela de reality show americana Kylie Jenner cair no Twitter para o Snapchat, aplicativo de mensagens instantâneas que vem perdendo usuários e lidando com uma avalanche de críticas após ser reformulado neste mês, ver o cenário de crise em que estava inserido piorar ainda mais. Só que, agora, com bilhões em jogo.

Foi essa a proporção da perda no valor de suas ações no mercado, estimada em US$ 1,3 bilhão (R$ 4,22 bilhões) na quinta-feira, um dia após o tweet repercutir na rede.
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Irmã caçula da socialite americana Kim Kardashian e listada pelas revistas Forbes e Time como uma das jovens celebridades mais influentes do mundo, Jenner acumula uma legião de seguidores nas mídias digitais - só no Twitter, são 24,5 milhões de usuários.
Ela é uma espécie de ícone em assuntos de moda e estilo de vida e o que escreve normalmente repercute.

Só nessa postagem, até a manhã desta sexta-feira havia alcançado 300 mil curtidas e quase 60 mil retweets, ou compartilhamentos na rede.
Minutos depois de tê-la postado, chegou a complementar: "ainda te amo, Snap, meu primeiro amor".
Mas o estrago já estava feito.

As ações da empresa controladora do Snapchat desabaram 8% na quinta-feira e fecharam o dia com recuo na casa dos 6% - de volta ao preço de US$ 17 (R$ 72) que ostentavam quando foram listadas pela primeira vez na bolsa, em março do ano passado.

Crise mais profunda

O Snapchat surgiu em 2011 e ganhou destaque ao possibilitar que usuários compartilhassem instantaneamente com os amigos fotos e vídeos temporários - disponíveis no ar durante 24 horas - e os incrementassem com recursos como o uso de filtros inusitados.

A plataforma chegou a ser apontada em 2016 como uma das mais populares entre os famosos, mas seu modelo foi logo copiado por outras redes sociais e o resultado tem sido uma crise com contornos mais graves desde o ano passado.

O cenário é marcado por uma fuga de usuários, em meio a uma forte disputa com o Instagram e o Facebook, especialmente por celebridades. E, ainda, pelo desgaste que tem sofrido após uma reformulação no visual duramente criticada pelo público.

"Sua nova atualização deixa o aplicativo tão ruim... Como posso voltar para a versão antiga?", escreveu um deles em uma menção ao Snapchat no Twitter, sobre o novo layout.

Um outro complementou, sobre o fato de haver mais anúncios em meio ao conteúdo: "A nova atualização faz meu cérebro doer...", disse. "Se eu quisesse assistir a um monte de comerciais pagos, ligaria minha televisão. É hora de migrar para o stories do Instagram de vez".

Um milhão de pessoas chegaram a assinar uma petição exigindo que a Snap - a controladora da plataforma - revertesse as mudanças. E especula-se que a mensagem de Kylie Jenner também seja uma reação a essas alterações.

Mas a empresa rechaça as reclamações.
No início do mês, ao comentar o assunto, Evan Spiegel, fundador do aplicativo, disse que os usuários só precisavam de tempo para se acostumar às novidades.

Salário

O executivo ganhou holofotes nesta semana com a divulgação - um dia após o tweet de Jenner - de que seu salário total no ano passado alcançou impressionantes US$ 637,8 milhões (mais de R$ 2 bilhões).

O montante é considerado o terceiro maior "pacote anual" já recebido por um presidente de companhia e foi fortemente impulsionado justamente pela entrega de ações quando a empresa foi listada na bolsa.

À frente dele estão dois pacotes mais robustos, recebidos por uma mesma pessoa: o diretor do fundo de investimentos especulativos Och-Ziff Capital Management, Daniel Och.

Os valores, US$ 918,9 milhões (R$ 2,65 bilhões) e US$ 1,19 bilhão (R$ 2,67 bilhões) foram registrados em 2007 e 2008, respectivamente.

Volatilidade

As ações do Snapchat ficaram particularmente voláteis desde que a empresa abriu o capital no ano passado, com os lucros dos investidores por vezes evaporando tão rápido quanto as fotos e as mensagens dos usuários desaparecem do site.

As ações caíram 17% em agosto, depois de resultados decepcionantes.
Mas nas primeiras semanas deste mês, houve uma recuperação de quase 50% após reportar um aumento de 72% nas vendas no último trimestre de 2017, com nada menos que 187 milhões de pessoas usando o site todos os dias.

"Parte do problema é que a Snap não é lucrativa no momento, então há uma boa quantidade de expectativa para o futuro já embutida no preço da ação, tornando-a particularmente vulnerável a mudanças de humor", disse Laith Khalaf, analista sênior da Hargreaves Lansdown.

"O futuro da Snap baseia-se na construção de números de usuários, então qualquer coisa que possa prejudicar essa jornada naturalmente vai desestabilizar os investidores".