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Apresentadora do tempo vítima de racismo desabafa em vídeo na Bélgica

Apresentadora Cécile Djunga se manifesta sobre ataques e comentários racistas - Divulgação/RTBF/Martin Godfroid
Apresentadora Cécile Djunga se manifesta sobre ataques e comentários racistas Imagem: Divulgação/RTBF/Martin Godfroid

06/09/2018 14h04

Apresentadora do tempo numa rede de televisão belga, Cécile Djunga decidiu reagir depois de passar um ano sofrendo com uma série de ataques e comentários racistas feitos contra ela por telefone e nas redes sociais.

Visivelmente emocionada e com os olhos marejados, a apresentadora fez um desabafo em forma de vídeo no Facebook.

No vídeo, de cinco minutos de duração, Djunga explicou a decisão de falar abertamente sobre os ataques. Ela contou que um dos espectadores chegou a reclamar que ela era "muito preta".

O vídeo já foi assistido por mais de 600 mil pessoas e a emissora RTBF está dando apoio à apresentadora. O chefe da RTBF, Jean-Paul Philippot, disse a uma rádio belga que Djunga havia repassado a série de mensagens que recebeu nos últimos meses e que não reagiu a nenhuma delas.

"Não há lugar para esse lamaçal na Bélgica", disse ele. "O racismo é um crime, punível por lei", completou Philippot. Além de ser a apresentadora do tempo na televisão de língua francesa, Cécile Djunga também é comediante de stand-up e participou de um programa chamado Almost Famous (Quase Famosos).

No vídeo, Cécile conta que a "gota d'água" para seu desabafo foi o telefonema de uma telespectadora reclamando que ela era "muito negra".
Indignada, a apresentadora disse que, durante o ano em que ela apresentou o tempo na televisão, recebeu "toneladas de mensagens racistas e insultos". "Não parava. Me machucou porque sou um ser humano", afirmou.

Cécile Djunga esteve prestes a chorar em vários momentos do vídeo. Ela relatou que muitas das mensagens dizia para ela "voltar ao país de onde tinha vindo". A apresentadora disse que decidiu gravar o vídeo e contar o que estava acontecendo com ela porque muitos belgas acreditam que não existe racismo no país.

Ao falar numa entrevista a um canal de televisão belga na quarta-feira, ela defendeu ampliar o debate sobre racismo e não focar somente na história dela.
Djunga contou ainda que muita gente passou a compartilhar com ela histórias e a contar como também foram vítimas de racismo.
A decisão da apresentadora de falar publicamente sobre os ataques atraiu o apoio de muita gente.

O jogador de futebol belga Christian Kabasele, que defende o Watford na Inglaterra, elogiou a iniciativa no Twitter. "Uma mensagenzinha para todos os nossos amigos racistas. Não fiquem com inveja se algumas pessoas tiverem conseguido dar significado à própria vida enquanto vocês não têm! Espero que você receba a mensagem. Bravo, fique forte @ceciledjunga".

A história da apresentadora também motivou uma resposta política na Bélgica. Integrantes do governo da região francófona de Walloon, localizada ao sul da Bélgica, pediram à mídia que promova igualdade e diversidade.

Djunga disse que já havia uma campanha para denunciar casos de assédio sexual e propôs uma contra o racismo também. "Sou belga. Eles têm de parar de me dizer para voltar ao meu país. Porque este é o meu país", disse ela.

Racismo no Brasil

O caso de Djunga lembra o da também apresentadora do tempo Maju Coutinho, da TV Globo, que foi vítima de ataques racistas nas redes sociais. "Não tenho TV colorida para ficar olhando essa preta não", "Não bebo café pra não ter intimidade com preto" e "preta imunda" foram alguns dos comentários feitos na

página oficial do Jornal Nacional no Facebook, numa publicação que continha a foto dela com a previsão do tempo em julho de 2015.
Em 2016, quatro homens viraram réus depois que a Justiça de São Paulo aceitou a denúncia do Ministério Público, que os acusou de crimes de racismo, injúria, falsidade ideológica, corrupção de menores e associação criminosa na internet por terem planejado e executado os ataques contra a jornalista brasileira.