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Viagens de Harry e Meghan Markle em jatinhos particulares viram controvérsia ambiental

O duque e a duquesa de Sussex foram criticados pelo impacto ambiental de suas viagens em jato privado - Getty Images
O duque e a duquesa de Sussex foram criticados pelo impacto ambiental de suas viagens em jato privado Imagem: Getty Images

20/08/2019 17h02

O príncipe Harry e sua mulher, Meghan Markle, estão no centro de uma polêmica por terem usado um jato particular para ir a Nice, no sul da França, onde ficariam em uma casa do cantor Elton John.

O duque e a duquesa de Sussex foram criticados pelo impacto ambiental desta e de outra viagem, para Ibiza, na Espanha, também feita em um jato privado, especialmente após Harry publicar junho em sua conta no Instagram uma mensagem que dizia: "Com quase 7,7 bilhões de pessoas habitando a Terra, cada escolha, cada pegada, cada ação faz a diferença".

A aeronave usada para ir à França foi emprestada pelo próprio Elton John, que justificou o uso do avião privado para se "manter o alto nível de proteção necessário" e disse que pagou pela compensação das emissões de carbono da viagem.

No entanto, ainda não está claro o volume de emissões em uma situação assim. As calculadoras de emissões disponíveis na internet não levam em conta os jatos particulares, mas as empresas calculam as emissões privadamente para os clientes.

Dados divulgados em junho mostram que as emissões de carbono da Royal Household, organização que dá suporte à família real britânica, devido a viagens de negócios quase dobraram no ano passado.

O aumento foi atribuído ao uso de voos fretados para mais visitas ao exterior, que são planejadas pelo Ministério das Relações Exteriores.

No entanto, as economias de emissões causadas pelo uso de sistemas de aquecimento e iluminação mais ecológicos fizeram com que a pegada de carbono global da organização permanecesse no mesmo patamar do ano anterior.

Procurado pela BBC para comentar sobre os voos, o Palácio de Buckingham não quis comentar. Sabe-se que o duque e a duquesa de Sussex praticam compensação de carbono em suas viagens particulares.

Como calcular as emissões das viagens do casal real?

A viagem de Harry e Meghan a Nice teria sido feita em um Cessna Citation Sovereign de 12 lugares, que consome 1.122 litros de combustível por hora. O tempo de voo para Nice é de cerca de 1h40, o que significaria uma necessidade de aproximadamente 1.870 litros de combustível.

O Departamento de Negócios, Energia e Estratégia Industrial (BEIS) diz que 2,52 kg de dióxido de carbono são emitidos para cada litro de combustível de aviação queimado. Isso levaria a um total de 4,7 toneladas de dióxido de carbono. Para um voo de ida e volta, seriam 9,4 toneladas.

O casal também supostamente voou para Ibiza neste mês, em um Cessna de nove lugares - que tem consumo de combustível um pouco menor, mas, neste caso, o tempo de voo estimado é de 2h10. Utilizando o mesmo método de cálculo, seriam emitidas 5,2 toneladas de CO2 e 10,4 toneladas em um voo de ida e volta.

O total para os dois vôos seria, portanto, de 19,8 toneladas, o equivalente a mais de três vezes a pegada de carbono anual do britânico médio, ou 58 vezes as emissões anuais de alguém de Lesoto, país africano onde o príncipe Harry passou seu ano sabático e ajudou a fundar uma instituição de caridade.

No entanto, o BEIS recomenda que "para compreender o impacto máximo sobre o clima" de voos, os valores de CO2 devem ser multiplicados por 1,9 para refletir o efeito de emissões não relacionas ao CO2 liberadas por aviões em alta altitude, que, segundo os cientistas, aumentam o efeito de aquecimento do clima. Há, no entanto, alguma incerteza científica sobre como exatamente calcular isso.

Desta forma, o total seria de 37,6 toneladas de emissões nos dois voos de ida e volta - mais de seis vezes as emissões anuais de um britânico médio, ou 111 vezes as de uma pessoa de Lesoto.

Elton John disse que pagou para fazer a compensação ambiental da viagem de Harry e Meghan para sua casa na França - Reuters - Reuters
Elton John disse que pagou para fazer a compensação ambiental da viagem de Harry e Meghan para sua casa na França
Imagem: Reuters

Compensação de carbono

Elton John disse que pagou para fazer a compensação ambiental da viagem de Harry e Meghan para sua casa na França. Este dinheiro costuma ser investido em projetos como plantar árvores ou instalar painéis solares com o objetivo de reduzir a emissão de gases do efeito estufa no ar na mesma proporção.

Em algumas companhias aéreas, os passageiros podem pagar uma taxa adicional quando compram suas passagens, mas também existem empresas de compensação independentes, que estimam quanto dióxido de carbono foi liberado na atmosfera por um determinado voo e o valor necessário para compensá-lo.

Também é possível usar calculadoras na internet para fazer essa estimativa, mas essas ferramentas fornecem valores diferentes para as emissões de uma mesma viagem.

Alguns ativistas criticam a compensação de carbono como uma desculpa para se continuar poluindo, argumentando que isso não ajuda a mudar comportamentos.

Por exemplo, quando o Aeroporto de Heathrow, em Londres, anunciou que investiria na restauração de áreas de turfa - material de origem vegetal, parcialmente decomposto, encontrado geralmente em regiões pantanosas e também em montanhas - a oeste de Manchester para tornar o aeroporto neutro em carbono até 2020, a parlamentar britânica Caroline Lucas o descreveu como "um novo patamar" de cinismo.

Claramente, compensar o CO2 emitido por um jato particular é consideravelmente mais caro do fazer isso com as emissões de um avião comercial, porque você está pagando pelo avião inteiro em vez de apenas por alguns dos assentos.

Para compensar 37,6 toneladas de carbono com a Carbon Footprint, a empresa que Elton John diz ter usado, custaria 282 libras (R$ 1.386) por meio de iniciativas não especificadas pelas quais seriam emitidos Certificados de Redução de Emissões, ou 361 libras (R$ 1.774) para plantar árvores no Quênia, ou ainda 490 libras (R$ 2.408) para fazer o mesmo no Reino Unido.

Jatos particulares vs. voos de carreira

Quando as emissões de carbono são calculadas para voos comerciais, as emissões para o avião inteiro são divididas entre o número de pessoas a bordo para se chegar a um valor por passageiro.

Para a classe executiva e primeira classe, onde há mais espaço por assento, cada pessoa é responsável por uma quantidade maior de poluição gerada pelo avião.

Então, como é que as viagens em jato privado do casal real se comparam com os voos de carreira?

Se a aeronave estivesse cheia (por exemplo, com membros da comitiva real), suas emissões por pessoa seriam quatro vezes maiores do que aquelas por pessoa para voos de ida e volta em classe econômica para Nice e Ibiza, usando a calculadora fornecida pela Carbon Footprint, e de aproximadamente três vezes na classe executiva. Se apenas o casal estivesse no avião, seria um múltiplo maior.

Também vale a pena notar que as emissões para viagens em jatos particulares podem em geral ser ainda maiores porque, como aponta o Private Jet Club UK, que oferece viagens deste tipo, estas aeronaves voam vazias em 40% do tempo.

Podem ser usadas para um voo só de ida, mas depois precisam ir para outro lugar para buscar outros passageiros, enquanto as companhias aéreas comerciais planejam suas rotas com mais eficiência.