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Análise: "Jornal da Band" foi de longe o melhor de 2015

O âncora Ricardo Boechat - Silvia Costanti /Folhapress
O âncora Ricardo Boechat Imagem: Silvia Costanti /Folhapress

Colunista do UOL

21/12/2015 07h00

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Desde a popularização da internet no Brasil, no início dos anos 2000, os fabricantes de notícia precisaram se reinventar. Tanto o jornalismo impresso como o televisivo se viram diante de uma nova mídia muito mais imediatista, sem custo de distribuição, sem limitação espacial e que rapidamente se tornou tão mais confiável quantos outros veículos.

Dos formatos jornalísticos, um dos mais impactados pela internet foi o televisivo. No passado não muito remoto era impensável para uma pessoa bem informada ficar sem assistir ao “Jornal Nacional”, ou ao menos a um dos telejornais noturnos das emissoras. Hoje não fazem a menor falta --e o ibope em queda vertiginosa de todos nos últimos dez anos é prova disso.

Mas toda regra tem exceção, e ainda há um jornal da TV que pode fazer a diferença para o telespectador: o “Jornal da Band”.

Nem é o caso de tecer loas aos seus âncoras. De um lado, o veterano Ricardo Boechat, há dois anos eleito um dos jornalistas mais confiáveis do país. E põe confiabilidade nisso. Curioso é que, diferentemente de sua presença no rádio, Boechat na bancada exala fleuma diante de qualquer notícia. Esse contraste, na verdade, é parte de seu imenso estofo profissional.

Do outro lado da tela vemos Paloma Tocci, que já era uma ótima repórter e apresentadora esportiva (dona de uma beleza e carisma impressionantes), mas que ocupou seu espaço na bancada do "JB" com tanta propriedade que quase ninguém mais lembra mais quem era a última âncora antes dela… Ticiane o quê?

O “Jornal da Band” vai muito de seus âncoras. Como veículo é ágil, preciso, criativo, tem um time de correspondentes de primeira linha, como Sergio Gabriel e Sonia Blota, e uma equipe que nada deve a seus pares da Globo ou Record.

O que chama a atenção é que a Band tem sido uma das emissoras mais atingidas pela crise econômica dos últimos anos. Chegou inclusive a abrir mão de ativos (antes) e negocia inclusive a venda de alguns canais pagos para outros grupos.

A despeito disso, a emissora nunca deixou de investir e fazer bom jornalismo. Aliás, poucos telejornais brasileiros ainda apostam tanto em pautas exclusivas como o "JB".

Somente este ano foram mais de 20 grandes reportagens, que abordaram todo tipo de tema: economia, política, guerra, comportamento...

Das mudanças comportamentais de famílias diante da alta da criminalidade (Rodrigo Hidalgo) à superlotação de trens vivenciada em tempo real por Gilberto Smaniotto (meses antes de o "SPTV" da Globo fazer a mesmíssima pauta, vale dizer);

De uma  criativa e delicada  matéria sobre o momento em que filhos jovens deixam as casas de seus pais (Aline Midlej) à chocante reportagem sobre os corredores da morte nos hospitais públicos (Fabio Pannunzio), onde as macas são um prenúncio para a morte.

E, para fechar o ano, uma impressionante série de reportagens de Sandro Barboza na Venezuela, mostrando de forma clara como um governo pseudo-esquerdista corrupto, ditadorial e medíocre conseguiu jogar um país inteiro na miséria e na violência --especialmente a estatal. Se o Brasil não aprender nenhuma lição com a série exibida por Barboza, ninguém mais poderá  ensiná-lo.

É extremamente injusto que o “Jornal da Band” tenha média de ibope de apenas  4 pontos em território nacional. Porque em termos de jornalismo, ele vale muito, mas muito mais que isso. Trata-se de um caso clássico de um excelente produto que ainda não foi descoberto pela maioria dos telespectadores.