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Análise: 2015, o ano dos erros e improvisos na TV brasileira

Mudanças em cima da hora nas grades das emissoras de TV marcaram o ano - Getty Images
Mudanças em cima da hora nas grades das emissoras de TV marcaram o ano Imagem: Getty Images

23/12/2015 08h00

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Se pudermos definir como foi 2015 na TV brasileira, poderíamos dizer que foi "o ano do improviso".

“Nunca antes na história deste país” (como diria um certo político) as emissoras abertas tiveram de rebolar tanto para adequar sua grade de programação a acontecimentos que não estavam previstos por ninguém --tampouco seus executivos.

Vamos relembrar…

Mais ou menos nesta mesma época, no ano passado, o SBT incomodava a Globo com um jornalzinho modesto e matinal, o “Notícias da Manhã”.

O telejornal estreou em meados do ano passado e era apresentado por Neila Medeiros. Foi ascendendo e mordendo ibope matinal de todas as outras emissoras até que, em novembro, já com César Filho de âncora, chegou a liderar o ibope em alguns dias.

O sucesso imprevisto do “NM” fez a Globo correr e produzir algo semelhante, o “Hora Um”, com Monalisa Perrone. Por causa do SBT, a Record também acabou reforçando seu jornalismo matinal e seus três produtos: “SP no Ar”, “Balanço Geral” e “Fala Brasil”.

Um ano depois dessa reviravolta, tudo retornou ao que era antes. A Globo voltou a se acomodar como líder absoluta das manhãs com o ótimo jornal de Monalisa.

A Record também vai bem com o “Balanço”, hoje apresentado por Luiz Bacci. Mas o SBT, que perdeu César Filho para a Record, curiosamente, nunca mais obteve bons resultados com o “NM” e acabou cancelando o jornal, trocado novamente por desenhos.

Hoje, a emissora de Silvio Santos até vence a Record graças aos desenhos. Mas jornalismo, lembremos, é também prestígio (e mais anunciantes).

Ocorreram muitas decisões de última hora também na Band este ano. Depois de anunciar com pompa e festa (para publicitários) o sucesso do “Agora É Tarde”, de Rafinha Bastos, a emissora, sem mais nem menos, acabou com o programa e rescindiu contrato com o apresentador.

Foi de longe uma das atitudes mais esquisitas do ano na TV aberta.

O curioso é que Rafinha estava em boa fase, o programa era bem ok e boa alternativa para o pobre fim de noite da TV aberta. Tinha anunciantes e seus custos eram baixos.

Houve rumores de que a saída de Rafinha do ar foi motivada pela "vingança" de alguém da casa. Improvável. Deve ter sido incompetência gerencial mesmo.

O mesmo se repetiu dias atrás, quando a Band anunciou a “interrupção” do “CQC”, depois de negar notas recentes que davam como certo o fim do programa, que perdeu seus melhores integrantes e metade da audiência nos últimos quatro anos. Segundo a emissora, 2016 será um ano “sabático”, mas, garante, o “CQC” voltará em 2017. Ahã! Então tá.

Outra improvisação da Band, porém, foi por bom motivo. A repercussão estrondosa da edição do "Masterchef" 2015 fez com que a emissora se apressasse para exibir também a versão Júnior, que não estava prevista.

No ano dos improvisos, a Record também foi pródiga.

Sem ter certeza do que fazer com o enorme sucesso que foi “Os Dez Mandamentos” --que chegou a bater a Globo em todo o país em alguns dias--, a emissora primeiro decidiu que, após a novela bíblica, faria “Escrava Mãe”, uma novela de época.

Semanas depois mudou de ideia e anunciou que faria, isso sim, “Terra Prometida”, uma continuação de “Os Dez Mandamentos”.

Mais alguns dias e nova mudança de planos: em vez de “Terra Prometida” entrariam no ar, até março de 2016, reprises de novelas bíblicas já exibidas pela emissora. E “Dez Mandamentos” ganharia uma breve segunda temporada de 60 capítulos antes da estreia, aí sim, de “Terra Prometida”, lá para junho de 2016.

Isso mostra que o sucesso pegou a Record de surpresa. Embora fosse desde sempre uma superprodução, ninguém esperava que não só o Mar Vermelho, mas a prometida terra da audiência também se abriria e deixaria a emissora do bispo Edir Macedo pisotear, ainda que por alguns dias, a poderosa Globo.

E aí temos por fim mais um improviso da Globo. Surpresa com os números da novela da Record, a emissora carioca fez o que pode para jogar água no chope: mudou, encolheu ou espichou, ora o “Jornal Nacional”, ora a novela “A Regra do Jogo”.

Curiosamente, no fim das contas nada mudou de fato. A Globo continuou líder isolada, de janeiro a novembro o SBT permaneceu como vice (nas casas decimais); e a Record, em terceiro embora com uma programação bem mais cara, ainda procura uma personalidade no horário nobre.

A conclusão é que neste ano dos improvisos nenhuma TV venceu, mas o telespectador, atordoado com tantas mudanças de última hora, certamente saiu perdendo.