Após cirurgia, pianista ganha parte da visão e estreia como maestro em SP
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57 anos atrás nascia Marcelo Bratke, que veio ao mundo com um grave problema congênito. Era praticamente cego. Tinha menos de 7% de visão em um olho, e 2% no outro.
Cerca de três anos atrás ele se submeteu a uma complicada cirurgia e recuperou 95% da capacidade de um olho. O outro, porém, está praticamente perdido.
Estimulado por celebridades da música clássica, Bratke estreará como maestro no Municipal, regendo a Bachiana Filarmônica Sesi.
O novo passo do pianista que venceu a cegueira ocorre nesta nesta terça-feira, 20h.
Bratke e Martins (regente titular) se apresentarão juntos. Além da música clássica, outro fato que os une é que ambos têm uma história de superação física.
Martins virou maestro depois de décadas enfrentando problemas físicos que o impediram de continuar como concertista.
Se Bratke só tem praticamente um olho, Martins só tem praticamente uma mão (a esquerda)
O maestro estreante é um pianista virtuoso, famoso internacionalmente, mas só se tornou conhecido do grande público brasileiro cerca de 11 anos atrás, quando fez uma parceria e uma pequena turnê com a cantora Sandy.
Na noite desta terça, o homenageado da Bachiana, na verdade, será Mozart.
Serão três obras do compositor austríaco (1756-1791): a Sinfonia nº 40 em Sol Menor; o concerto para Piano em Sol Maior; e a última parte, o concerto para Piano nº 21, trecho andante, em que Bratke regerá Martins ao piano.
Veja abaixo trechos da entrevista com Marcelo Bratke:
A cirurgia que você se submeteu… ela deu certo? Sua visão voltou?
Marcelo Bratke - Deu certo, graças a Deus. Só não digo que a minha visão voltou porque eu nunca a tive. Eu nasci com um problema muito sério, uma catarata congênita, e também desenvolvi uma ambliopia, que é uma atrofia no nervo óptico. Sem falar no astigmatismo (risos)
Mas que porcentagem você tem de visão hoje?
Bratke - É tudo meio que estimativa, mas hoje tenho 95% em um olho e menos de 10% no outro. Antes eu tinha 7% e 2%.
Poxa, então tá ótimo…
Bratke - Tá, sim. Eu só tinha um olho possível de resolver… o outro não vai sair desses 10%... Mas isso é só uma estimativa porque nesse olho eu não tenho nem sequer foco central, é tudo periférico… difícil explicar…
O que deu em você, um pianista já famoso, em querer estudar regência depois de tanto tempo?
Bratke - Eu fundei 10 anos atrás a Camerata Brasil, e eu tento reger os músicos do piano....
Ah, como o maestro e pianista Daniel Barenboim em alguns concertos…
Bratke - Exatamente. E aí eu resolvi me dedicar seriamente à regência e fui ter aulas com o grande maestro italiano Aldo Ceccato (84 anos), um dos maiores do mundo.
Depois tive mais aulas aqui no Brasil com o Júlio Medaglia; o maestro João Carlos também me ajudou. E agora eu vou regê-lo.
E por que só Mozart no concerto de estreia?
Bratke - Bom, o maestro João Carlos vai me reger num concerto (nº 17), eu no piano. E depois no final eu vou regê-lo no segundo movimento do concerto nº 21 em dó maior. Ele toca com a mão esquerda e com praticamente só um dedo da mão direita.
Mas ele tira um som maravilhoso. Mesmo com essa limitação o João Carlos tem uma sonoridade incrível, espantosa.
Aliás, quando comecei a estudar piano, ainda criança, eu fiquei louco quando o ouvi tocar um prelúdio de Chopin.
Como eu era cego, comecei a tocar de ouvido. Já estava havia uns 15 dias tentando tirar a música e um dia me aparece o João Carlos, senta no piano e toca Bach. Aí eu pirei e decidi: é isso que eu quero ser na vida, pianista.
O quê: Concerto Bachiana Filarmônica Sesi
Quem: Com João Carlos Martins e Marcelo Bratke
Onde: Theatro Municipal de SP
Quando: Hoje, 22 de maio, 20h
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