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Ricardo Feltrin

Sem bombeiro e com gerador pifando, Cinemateca vira bomba-relógio em SP

Galpões da Cinemateca na Vila Clementino, em São Paulo, que corre risco de incêndio - Ronaldo Caldas/Divulgação/Minc
Galpões da Cinemateca na Vila Clementino, em São Paulo, que corre risco de incêndio Imagem: Ronaldo Caldas/Divulgação/Minc

Colunista do UOL

03/07/2020 00h27

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A mesma tragédia que ocorreu no Rio em 2 de setembro de 2018 com o Museu Nacional pode se repetir em São Paulo a qualquer instante.

Não em um museu de história, mas de audiovisual: a Cinemateca federal se tornou uma bomba-relógio incendiária instalada na Vila Clementino, e, São Paulo.

Sem dinheiro devido ao calote do governo federal em uma dívida que já passa de R$ 13 milhões (aumenta mais de R$ 1 milhão a cada mês), o maior museu do audiovisual e do cinema da América do Sul é um rastilho de pólvora.

Importante lembrar que o contrato do governo com a Roquette Pinto vai até 2021. O governo Bolsonaro simplesmente deixou de pagar e quer rescindir o contrato sem ônus algum. A Cinemateca tem cerca de 70 funcionários.

Ou melhor, de nitrato de celulose e outras substâncias químicas altamente inflamáveis com as quais são feitos filmes até meados do século passado.

A coluna apurou que um importante gerador da Cinemateca está falhando e apresentando vários problemas nos últimos dias.

Para piorar, a brigada de bombeiros teve de deixar o local por falta de salários, além de o sistema de câmeras ter desligado. Não há seguranças para dar alerta em caso de problemas, e a energia elétrica só está garantida até o próximo dia 10.

A questão da energia é tão assustadora quanto o risco de incêndio: sem ela não há controle de temperatura e umidade, e podem se deteriorar centenas de milhares de registros do cinema, da TV e até da publicidade brasileira no último século.

Uma faísca e toda essa história vai virar fumaça.

Com o beneplácito de um governo federal que não honra nem sequer sua dívida passada com a fundação Roquette Pinto, e não tem nenhum plano para a Cinemateca —exceto o de fechá-la, como esta coluna informou com exclusividade no mês passado.

Ofícios estão sendo feitos

Para evitar a mesma situação ocorrida no Museu Nacional, quando ninguém queria assumir a culpa do incêndio, a direção da fundação vem registrando seguidos ofícios.

Neles, alerta as autoridades que não pode fazer mais nada, além de armazenar e manter a estrutura da forma atual.
A fundação já se comprometeu a cortar custos continuar com a guarda do material de qualquer forma, mas é preciso um mínimo de dinheiro até para manter a situação em suspenso.

A história e a memória visual do país estão em risco no exato em que tiver lido este texto.

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