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Ricardo Feltrin

Moda-relâmpago: TV aberta abandona as "lives"

Ivete Sangalo durante live na Globo, no dia 25 de abril - Reprodução / Internet
Ivete Sangalo durante live na Globo, no dia 25 de abril Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

23/07/2020 00h09

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Durou cerca de 60 dias a "febre" das "lives" de artistas na TV aberta brasileira.

Modelo de show (e programa) nascido na internet, devido ao coronavírus, o distanciamento social e a paralisação do showbusiness, o formato parecia promissor.

Muita gente cravou que o modelo era "revolucionário" e que mudaria o "establishment" da música e da TV brasileira.

Embora ainda existam artistas investindo em "lives", tudo indica que na TV aberta a tal "revolução" não foi longe..

A primeira "live" na TV aberta brasileira deveria ter sido da Record, em 18 de abril deste ano, com o anunciado show da dupla Fernando & Sorocaba.

Só que a Band deu uma rasteira na Record e 24 horas antes, numa negociação feita às pressas, fez a "live" de Léo Santana.

Tudo isso apenas para ficar com o título de "primeira TV aberta a fazer uma live". Que seja.

"Guerra das lives" foi breve

A Record fez duas "lives" (Fernando & Sorocaba e Lucas Lucco) e a coluna apurou que não vai fazer mais nenhuma.

A Globo fez três (Ivete, Roberto Carlos e Alok) e aparentemente o formato está descartado ao menos por um bom tempo.

Até mesmo o canal pago Multishow parece ter tirado o pé do acelerador. Só que nesse caso ele já tinha um outro formato parecido, mas bem mais consagrado e comercial: o "Multishow ao Vivo".

Globo e Record não têm mais "lives" no horizonte. A Band é a única que pode continuar com elas, mas, segundo esta coluna apurou, também já sente um esgotamento de ibope e comercial.

Há vários motivos para o "cansaço":

1 - O distanciamento social está sendo abandonado cada vez mais, e a expectativa é que em breve os shows voltem com tudo ao país;

2 - As "lives" de artistas começaram com um motivo nobre: arrecadar alimentos e dinheiro para os necessitados na quarentena, mas logo alguns artistas perceberam que podia virar uma fonte de renda e "gastaram" o formato. Há artistas que ainda estudam fazer "lives" pagas para acessar, mas quanto mais o confinamento diminuir, menos chance eles terão de ter lucro;

3 - A dificuldade de negociar "lives" com artistas quando as gravações acontecem na própria casa deles; eles querem maior participação comercial, quando não a divisão "meio a meio" com as emissoras. Ou então querem ter os próprios patrocínios particulares (muito mais baratos que o das TVs). Isso inviabiliza, dificulta ou prejudica muito o trabalho dos departamentos comerciais das emissoras: a TV se mata para vender uma cota, arca com os custos de produção, transporte, transmissão e o artista abocanha metade de tudo que ela conseguir; assim não dá;

4 - Problemas técnicos: além da dificuldade de se fazer uma boa equalização multiplataforma (Lulu Santos e sua banda foram exceção aqui, pois beiraram a perfeição) ainda há muita irregularidade nas transmissões online; e usar "playback" tira o impacto de tudo, definitivamente;

5 - Grosso modo, o formato virou "carne de vaca" nas redes sociais, especialmente no Instagram e no YouTube; músicos e artistas de todo o país (profissionais e amadores) o abraçaram de tal forma que ele se tornou enfadonho até mesmo para os fãs mais fiéis;

É bom lembrar que as "lives" também grassam agora nas redes sociais de celebridades e jornalistas.

Não há um dia (ou mesmo hora) que não tenha alguém fazendo alguma "live" nas redes.

O grande problema desse formato, também para jornalistas e celebridades, segue sendo a "monetização".

É muito, MUITO difícil conseguir bancar por muito tempo uma produção no mínimo decente sem algum apoio financeiro.

E as produções feitas "nas coxas" (por qualquer pessoa entrevistando qualquer pessoa, e que são a maioria) quase nunca atraem, têm apelo ou qualquer interesse comercial.

A verdade é que, apesar de tão jovem, o formato já está com o pé na cova e precisa ser renovado.

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